Dos participantes da Descida Ecológica do Rio Jucu, realizada no domingo (22), cerca de 200 já assinaram o requerimento para realização de uma auditoria na Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan). O requerimento será entregue ao Ministério Público Estadual (MPES). Durante a descida do rio, os canoeiros constataram a morte do rio.
Foi a 26ª Descida Ecológica do Rio Jucu, e contou com cerca de 500 participantes. Segundo Eduardo Pignaton, secretário da Associação Barrense de Canoagem, a coleta de assinatura pedindo auditoria começou durante o ato desse domingo e seguirá durante a semana.
O requerimento deve contar com aproximadamente 500 pessoas, das quais é exigida identificação. Os proponentes estão percorrendo escolas das proximidades do rio Jucu buscando assinatura e discutindo a situação do rio. O documento deve ser protocolizado no início da semana que vem.
À taxa de água que o usuário paga, é acrescido de 80% a título de pagamento do tratamento de esgoto. Mas a sociedade não sabe como a Cesan chegou a este valor. Tampouco sabe o que a empresa deve. Por esta razão, na Descida Ecológica do Rio Jucu, fizeram a denúncia e lançaram uma campanha. “Cesan: vende água, devolve esgoto. Auditoria já!”, foi o mote.
Eduardo Pignaton informou que a população paga pelo tratamento de esgoto até mesmo em municípios onde não há o serviço, como em Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina, região serrana do Estado.
O secretário da Associação Barrense de Canoagem lembrou nesta segunda-feira (23), que a auditoria dará condições aos usuários para saber, por exemplo, se a Cesan trata os agrotóxicos da água que vende à população. Se é tratado para retirada dos venenos agrícolas, qual é o método que emprega. Na região serrana, onde é formada a bacia do rio, o uso dos venenos agrícolas é intenso.
A auditoria também revelará a qualidade da água que é devolvida aos rios, mostrando se, ao invés de despoluir, os poluentes retirados com o tratamento não são apenas concentrados em determinado ponto de lançamento nos rios.
Rio Jucu
O rio Jucu está morto. A Descida Ecológica do Rio Jucu revelou aos participantes a morte do rio. Morte anunciada há muitos anos, mas nunca considerada pelos governos do Estado e dos municípios.
Jamais foi realizado pelo governo do Estado e pelos municípios, o plantio em grande escala de espécies nativas da Mata Atlântica, principalmente nas áreas de recarga das nascentes, que são os topos dos morros e suas encostas.
Também não foram construídas em escala caixas secas para recolher água durante as chuvas, e feitos plantios das margens dos córregos e no entorno das nascentes, o que permitiria recuperar o rio. Ao contrário, na região serrana se dissemina cada vez mais o plantio de eucalipto, grande consumidor de água.
Por essas razões, a situação do rio Jucu é tão precária, que um trecho habitualmente navegado na descida, de 15 quilômetros, deixou de ser percorrido. Restaram cinco quilômetros, da barragem da Cesan, em Caçaroça, até a foz do rio, no balneário da Barra do Jucu.
O trecho só pode ser percorrido pois a maré avança sobre o leito do rio. Entre outros problemas, os navegadores enfrentaram o mau cheiro, insuportável, que exala do rio na sua foz.
As águas do rio Jucu abastecem cerca de 60% dos moradores da Grande Vitória. A população da região é abastecida ainda pelo rio Santa Maria da Vitória. Os moradores têm de disputar a água, já reduzida ao mínimo, com a indústria. Até mesmo com as poluidoras Vale e ArcelorMittal Tubarão e Cariacica.
A Cesan está presente em 52 dos 78 municípios do Espírito Santo, e atende cerca de dois milhões de capixabas.