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Velha depravada

Tem razão a presidenta Dilma quando diz que a corrupção é “uma senhora idosa”, ou seja, está aí há bastante tempo – chegou ao Brasil em abril de 1 500, quando os tripulantes das caravelas portugueses desceram em Porto Seguro e logo estavam passando a perna nos índios, que aceitaram espelhinhos e miçangas em troca de papagaios e pau-brasil.   
 
Com sua ressalva branda sobre a velha depravada – só faltou compará-la à Geni da canção popular –, La Rousseff parecia estar preparando o terreno para dar uma tacada de mestre nos fariseus da ética, que vinham se aproveitando da Operação Lava Jato para enxovalhar a imagem da Petrobras e, por tabela, “fazer Dilma sangrar”.
Pois não é que veio o troco? Truco!
 
Desde o dia 26 de março está na ordem do dia a Operação Zelotes, que descobriu uma megajazida de fraudes no âmbito da Conselho de Apelações da Receita Federal (CARF). Para se livrar de multas pesadas, empresas devedoras do Leão faziam acordos ilícitos com conselheiros do CARF. O valor das falcatruas no CARF equivale a cinco ou seis vezes o montante estimado das propinas do Lava jato. A lista inicial dos débitos fiscais é encabeçada pelos bancos Santander e Bradesco, cada um com R$ 3 bilhões.
Por essa ninguém esperava, mas deve ter sido um alívio e tanto para a presidenta, que saiu do foco. Ficou comprovado, não exagera quem diz que a corrupção está disseminada por outros setores, como elétrico e em obras rodoviárias e ferroviárias, aeroportos e portos – as empreiteiras são quase sempre as mesmas. Também há suspeitas no BNDES, no BB, na Caixa, no Banco do Nordeste e nas Zonas Francas de Manaus e Belém. Podemos supor ainda que o esquema corruptor esteja roendo os cofres da Saúde, Educação e Segurança.
 
Por outro lado, está provado que não se pode atribuir exclusivamente aos governos petistas a responsabilidade pela conta da corrupção. Essa senhora depravada mora nos bastidores da administração pública, onde construiu ninhos e tocas, em parceria com funcionários e empresários. Esses devem ser investigados e julgados.
As empresas merecem ser recuperadas em nome de sua função social – prestam serviços, fazem produtos, geram empregos e tributos. A presidenta dispõe de poderes para decretar a intervenção nas empresas corruptoras. O desafio é encontrar bons interventores.
 
Os partidos envolvidos nas propinas também devem ser saneados, por que não?
 
A todos os acuados pelas investigações só resta recorrer à lei, corda tênue que pode servir tanto para segurar-se à beira do abismo como para enforcar-se. Vale lembrar que a lei faculta tanto o exercício do silêncio quanto o da delação premiada.
 
Por incrível que possa parecer, a presidenta Dilma Rousseff está com a faca e o queijo na mão para assumir a liderança da luta contra a corrupção. Pensando bem, não lhe resta outra bandeira senão cercar a velha depravada.
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Basta você examinar um otimista para descobrir por baixo uma compra sem licitação, com superfaturamento”
Millor Fernandes

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