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Os incêndios do governo do Estado na área ambiental

Na área ambiental, o governador Paulo Hartung (PMDB) começou seu terceiro mandato com a responsabilidade de apagar dois grandes incêndios. Outros, menores, passaram quase despercebidos. Quem produziu tais incêndios? 
 
A escassez de chuvas nos últimos meses produziu a maior seca dos últimos 40 anos, como dizem os órgãos públicos. Os rios Jucu e Santa Maria da Vitória baixaram seus níveis de tal modo, que houve interrupção dos seus cursos do ponto onde a Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) faz a captação de água para abastecimento, até a foz. 
 
Deixou de existir a chamada vazão ecológica, um mínimo de água até a foz, para assegurar o atendimento das necessidades ambientais de animais e plantas desta parte do ecossistema.
 
O governo optou por interromper o curso dos rios e assegurar o abastecimento da população, mas também  –  quem sabe principalmente  -, das empresas ArcelorMittal Tubarão e Vale. A  Cesan cumpriu suas ordens. As empresas consomem cerca de 30% da vazão do rio. O resto é vendido à população.
 
À proposta de que o governo passasse a disponibilizar para as empresas a água de reuso das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), um mar de água, perfeitamente utilizável nos processos industriais e em quantidades mais que suficientes, o governador Paulo Hartung reagiu simplesmente com o silêncio. Ignorou por completo. 
 
Ao contrário da aplicação da medida, o reuso da água, estuda a utilização da água do rio Reis Magos, que deságua entre Nova Almeida (Serra) e Praia Grande (Fundão). O custo será astronômico. Uma das ETEs que poderia fornecer metade da água que a ArcelorMittal e Vale necessitam está a cerca de dois quilômetros das empresas.
 
Se o problema é climático, onde se achar o culpado, senão na natureza? É simples, o governador Paulo Hartung, nos seus dois primeiros mandatos (2003 – 2010) e o governador Renato Casagrande (2011 – 2014) não cumpriram a Constituição Estadual que exige  o replantio de 1% das áreas das propriedades rurais com mata nativa, até o mínimo de 20%, que formam a chamada Reserva Legal. 
 
Sem mata nativa, não há absorção das águas das chuvas pela terra, para retorno lento. O que assegura água o ano todo nas bacias, mesmo que em menor quantidade, durante os períodos de seca.  
 
Um detalhe sinistro: os dois governos (Paulo Hartung e Renato Casagrande) favoreceram os plantios de eucalipto, planta exótica voraz consumidora de água nas duas bacias que abastecem a Grande Vitoria, a dos rios Jucu e Santa Maria da Vitória. E mais: confundem mata nativa com eucalipto. O governo Hartung anuncia aumentar os plantios, incluso esta espécie exótica, de 30 mil para 80 mil hectares. 
 
Pó preto 
 
O segundo incêndio dos primeiros três meses e dez dias de governo de Paulo Hartung foi na área de controle da poluição do ar. Os níveis de poluentes no ar, genericamente  chamados de pó preto, nunca foram tão elevados na Grande Vitória como agora. Como também no sul do Estado.
 
Entre outros fatores, por que isto aconteceu? A Grande Vitória jamais poderia ter recebido projetos de usinas de pelotização e siderurgia, como alertava décadas atrás o cientista Augusto Ruschi. As populações seriam atingidas pelos poluentes, pois o vento dominante na região é o nordeste. 
 
O Planalto de Carapina, onde se anunciava e depois efetivamente se implantaram as indústrias,  despejaria seus poluentes sobre os moradores (que ficariam a jusante) nos municípios da região, alertava o cientista.
 
Os governos biônicos no Espírito Santo, filhos diletos da ditadura militar, ignoraram o alerta do cientista e ficaram com seus interesses. Um deles, Arthur Carlos Gerhardt Santos, tão logo deixou o governo do Estado se tornou presidente da antiga Aracruz Celulose (Fibria). E seguiu como presidente da então CST, hoje ArcelorMittal Tubarão e Cariacica.
 
Estava consolidada a destruição ambiental da Grande Vitória. Os níveis de poluentes já estavam insuportáveis. E eis que, nos governos Paulo Hartung, a Vale recebe licença ambiental  para sua oitava usina de pelotização, a maior de todas. Mesmo sob protestos da comunidade nas audiências públicas do licenciamento ambiental . 
 
E mais: foi o mesmo governo que autorizou a ampliação da produção das velhas usinas de pelotização de I a VII da Vale. E favoreceu projetos de aumento de produção da ArcelorMittal.
 
O que era crítico, passou a ser caótico. A população foi para as ruas em protesto contra a poluição, o pó preto. Todas as medidas anunciadas pelo governo sobre controle da poluição são factoides. Uma, delas, referente a ArcelorMittal, só trará resultados daqui há três anos. O governo parece até achar que a população é tola. E que não tem memória das coisas.
 
Fácil identificar quem produziu os principais  incêndios do início do governo Paulo Hartung.
 
Fácil é ver a inocuidade das políticas anunciadas para debelar os sinistros.
 
A comunidade deve estar alerta aos problemas ambientais e em estado de guerra contra a inoperância e descaso do governo.

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