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CPI da Saia Justa

Estudos de sobra, evidências e números também. Denúncias contundentes, mais ainda. Se os deputados estaduais que integram a CPI do Pó Preto na Assembleia Legislativa realmente quisessem contrapor, nessa quarta-feira (8), a primeira poluidora a passar por lá, a ArcelorMittal Tubarão, teriam dificuldades até de escolher os problemas a priorizar, tamanha a lista. Mas optaram, como esperado, por fazer as honras da casa ao presidente da siderúrgica, Benjamim Baptista, e seus gerentes. Só faltaram pedir desculpas por estarem ali, na condição de obrigados a questioná-los.

Havia, no ar, um clima de constrangimento, por “enfrentar” a empresa que é parceira de longa data da classe política. As perguntas, de tão suaves e vagas, pareciam ensaiadas. Apenas o deputado estadual Euclério Sampaio (PDT) saiu do tom, ao ser enfático na denúncia de vazamento de benzeno, que é cancerígeno e adoeceu trabalhadores, e no investimento da Arcelor em melhorias no Fórum da Serra. Benjamin Baptista, porém, valeu-se do famoso “desconheço” e até chegou a ser rebatido, mas nada além disso.

Acabou tudo do jeito que sempre foi. Os representantes da empresa fizeram seu palanque, exaltaram suas ações e enumeraram promessas. Todas de longuíssimo prazo, como se a concentração de poluentes na Grande Vitória não obrigasse a implantação de medidas urgentes, urgentíssimas.

O desfecho ideal veio com o tratamento dado pela mídia corporativa à reunião da CPI no dia seguinte. Sequer tocou nos questionamentos de Euclério e se preocupou apenas em destacar as garantias da Arcelor. A siderúrgica jura que vai reduzir sua poluição em 17% ate 2018, com a adoção de um sistema de filtro de mangas, que promove a limpeza por meio da retenção física das partículas. A empresa tenta convencer de que polui pouco, apenas 5%.

O mesmo cenário de gentilezas e de zero questionamento irá se repetir nos próximos encontros, quando irão à CPI a Vale (próxima quarta-feira) e a Samarco (dia 22). Se houver alguma mudança de tratamento na visita do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), será por questão política, dentro do embate entre o governador Paulo Hartung (PMDB) e seu antecessor Renato Casagrande, que se estende à Assembleia.

Embora tenha sido o governador que mais concedeu privilégios às poluidoras, as manobras para a criação da CPI do Pó Preto revelaram o interesse em blindá-lo. Um dos principais atores desse processo é o deputado Euclério Sampaio (PDT). Por essas e outras, ainda é cedo para criar expectativas em relação à postura do pedetista no decorrer das investigações.

O presidente da CPI, Rafael Favatto (PEN), nunca enganou com suas “boas intenções”, muito menos Dary Pagung (PRP). O papel que desempenham na comissão apenas reforça o que já era óbvio. Já a ausência de Gilsinho Lopes (PR) foi sentida. Verdadeiro pai da CPI e o único a realmente levantar a bandeira contra a poluição do ar, poderia ter feito a diferença.

Pelas recentes declarações dos deputados, direcionadas ao decreto estadual que estabelece padrões de emissões, criado no governo Casagrande, tudo indica que a CPI repetirá a estratégia do governo do Estado. A mira ficará voltada para o socialista, sem chegar ao sistema consolidado por Hartung com as poluidoras, e que sempre serviu de moeda de troca entre licenciamentos e os gordos financiamentos de campanha.

Tanto é que Hartung já anunciou que irá aprovar seu próprio Plano Estratégico de Qualidade do Ar. Antes, porém, vai elaborar estudo – outro? – em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), para identificar a origem do pó preto na Grande Vitória.

Em síntese, o famoso “embromation”.

 


Manaira Medeiros é mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local e especialista em Gestão e Educação Ambiental

Fale com a autora: [email protected]

 

 

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