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O poema marginal de Vitória nas linhas de Ingrid Carrafa

 
Milan Kundera é um autor que impregna em sua escrita amor e sexo em jogos psicológicos e confusões de relacionamentos. Dele Ingrid Carrafa lê Risíveis Amores e O livro do riso e do esquecimento, enquanto aguarda na Escola de Teatro, Dança e Música (Fafi), no Centro de Vitória, pela entrevista. Ingrid tem 25 anos e carrega consigo a experiência em biblioteconomia, teatro e algumas passagens pelo canto. Mas de acordo com ela, não há muito mercado no Estado, então segue vagando em outras áreas. Apesar disso, seu envolvimento com a arte se dá cada vez mais forte, principalmente agora, após lançar recentemente seu primeiro livro, Entre Rosas e Abismos
 
A obra é um lançamento de editora paulista Penalux e, em 78 páginas, reúne poemas que versam sobre uma desilusão amorosa intensa e reverberante na vida da escritora. “Reuni poemas. Alguns escrevi há alguns anos, outros mais recentemente, mas todos nascem do meu processo de escrever desde sempre, desde pequena. Para externar o que sinto, tenho que vomitar de alguma forma. Então vomito em palavras”, explica ela, que volta e meia se distrai com as roupas das minibailarinas que passam pela Fafi munidas de sapatilhas de pontas e saias com paetês. 
 
Essa atenção pela musicalidade está mais que presente em Entre Rosas e Abismos, tanto de forma indireta, quando Ingrid escreve poemas ritmados, quanto como cita diretamente influências musicais – como a música Back to Black, da cantora inglesa Amy Winehouse; ou ao referenciar Chico Buarque, no poema Fado Tropical (Madrugada fria). “Antigamente eu escrevia com uma música de fundo, colocava a música para tocar e ia escrevendo, então a musicalidade nos poemas pode ser por isso. Mas em alguns poemas, como em Fado Tropical, a situação realmente foi vivida, eu estava em um local onde o cantor dedicou a música do Chico para mim e eu quis colocar isso na escrita de alguma forma”, detalha Ingrid.
 
E, assim, reunindo poemas de cadernos, pastas de computador e blog, ela chegou ao recorte do livro. Como já mantinha contato com escritores de fora do Estado, aproveitou para enviar o original para a editora Penalux a conselho de um amigo, Flávio, o mesmo que assina o prefácio da obra e, por lá, destaca que “é preciso algum apreço à arte marginal ou à ciência de que há beleza também na dor para curtir com intensidade as doses de acidez e as tragadas de entrega nua e crua presente nos versos de Ingrid Carrafa”. 
 
 
Sem dúvidas, a marginalidade está presente nos poemas de Ingrid. A rua, os bares, a sarjeta, os cigarros, os porres, as divagações sobre o mundo. Está tudo impregnado nos escritos de Entre Rosas e Abismos. Sobre o processo de como incorporou tudo isso à própria escrita, ela diz não saber explicar. “Falar do que você escreve é tão difícil, pois não tem explicação. É uma coisa tão sentida. Algumas pessoas me perguntam qual é a técnica para escrever e eu não sei responder algo que não seja esse meu vômito de palavras. Eu pari um livro sem saber como fiz isso, pois vomito palavras mesmo, e é isso o que acontece”.
 
Entre Rosas e Abismos é de fato um livro sobre uma desilusão amorosa, mas a mistura de sentimentos presentes nele não beiram só à solidão ou a tristeza, mas apresenta o recorte de uma mulher ciente de seus envolvimentos e suas culpas. A mulher presente no livro não expressa com dor a perda de um amor, mas com firmezas, certezas e constatações sobre si mesma. É um livro, deveras, sobre uma mulher intensa e lúcida.
 
No evento de lançamento, realizado no último dia 10, no Museu do Negro, Centro de Vitória, a recepção do público foi boa e empolgante, o que já faz a escritora iniciar os planos para sua nova obra. “Estou com o segundo livro em mente, ele vai abordar sadomasoquismo e poliamor, que são caminhos por onde eu passeio. Quero colocar esse lado trash, essa coisa pesada na poesia, para as pessoas enxergarem uma sujeira, algo mais marginalizado. Acho que vai chocar um bocadinho”, conta ela em risos, em meio a esse momento da vida em que defini-se “estar” escritora e não necessariamente “ser” escritora, mesmo exercendo com muito fervor essa situação de poetisa. 
 

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