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Governo anuncia cenário de atenção para água em lugar de alerta

O governo do Estado, através da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), mudou para cenário de atenção o cenário de alerta sobre a situação hídrica no Espírito Santo. Mas o governo Paulo Hartung (PMDB) continua completamente calado sobre a proposta de entregar água de reuso das Estações de Tratamento de Esgoto (ETES) para indústrias, ao invés da água coletada diretamente dos rios e até tratada, como é feito para a ArcelarMittal e Vale.

Não é pouca a água desperdiçada. Em 2014, o total de água das ETEs jogada fora foi de 51.428.397 milhões de metros cúbicos. Isso significa que a  Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) desperdiçou o equivalente a 51 milhões de caixas d'água de 1.000 litros no ano passado. 

Quanto ao cenário de atenção,  a medida é oficial a partir desta terça-feira (5). Para isto, o governo tem em vista o período de estiagem ser tradicionalmente mais acentuado nos meses de junho, julho, agosto e setembro. A escassez de água, já grave, tende a aumentar nos próximos meses. Com a nova medida, foi revogada a Resolução 2/2015, que estava em vigor desde janeiro e declarava cenário de alerta no Estado.

Segundo o governo, a vazão dos rios é 40% menor do esperado para o período. As poucas chuvas a partir do verão não recuperaram  a vazão dos rios, e impactou com severidade a agricultura e pecuária no Espírito Santo.

Com o cenário de atenção, a Agerh volta a receber novas solicitações de outorga. Os agricultores estavam impossibilitados de obter financiamentos por falta de outorga. A mudança também evita o uso clandestino dos recursos hídricos, acredita o governo. A outorga de direito de uso de recursos hídricos assegura ao usuário o uso dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos por determinado prazo.

O governo do Estado informa que a mudança não afasta a necessidade de racionamento. E assegura que acompanhará a evolução e o comportamento  dos rios e a conduta do cidadão. A estiagem que atinge o Espírito Santo acarreta impactos sobre os mananciais, gerando a pior crise hídrica dos últimos 40 anos.

O Espírito Santo não tem reservatórios para abastecimento de água para a população. O abastecimento é a fio de água. A barragem de Rio Bonito, para produção de eletricidade, pode ter sua destinação prioritária de produzir energia mudada, visando ampliar a segurança hídrica na Região Metropolitana da Grande Vitória, como sinaliza o governo. A mudança de uso da barragem terá custo elevado para a população. 

Para longo prazo, o governo anuncia que aumentará  o volume de água reservada em 100 milhões de metros cúbicos, que serão distribuídos em barragens públicas e privadas por todo o Espírito Santo. Destes, 30 milhões de metros cúbicos estarão distribuídos em barragens diversas, cuja água será utilizada para consumo humano, entre outros. Outros 35 milhões serão de iniciativa privada, usados para irrigação, e ainda 35 milhões, em barragens públicas, também para uso rural, como informa.

Joga fora

E sobre a economia possível com a entrega da água que é jogada fora que sai das Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) em lugar de água dos rios, inclusive já tratada? O governo Paulo Hartung se mantém calado. 

O desperdício de água das ETEs, apropriada para uso industrial e, em condições especiais, até para uso humano, como é feito em diversos países, é enorme. Em 2014, o total de água das ETEs jogada fora foi de 51.428.397 milhões de metros cúbicos. Isso significa que a  Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan)  desperdiçou o equivalente a 51 milhões de caixas d'água de 1.000 litros no ano passado. 

Se esta água de reuso das  ETEs fosse vendida à ArcelorMittal e Vale, entre outras industrias, e a água que é fornecida às empresas destinada a consumo humano, daria para atender ao longo do ano, 1,190 milhão de pessoas com o fornecimento de diário de 120 litros, consumo por pessoa recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Mesmo com a estiagem que perdura no Espírito Santo, o governo do Estado mantém o abastecimento de água das empresas praticamente como se não houvesse problema de abastecimento. Como faz com a ArcelorMittal e Vale, que consomem rios de água captados do Santa Maria da Vitória. As duas empresas ainda usam águas subterrâneas, que é reserva social. 

A vazão normal do rio Santa Maria da Vitória é de  35 mil litros/segundo, em média. Do rio são retirados 3.200 litros por segundo em condições normais.  Na crise, a captação chegou a ser menor do que 3.000 litros por segundo. E poderá ser ainda menor durante a estiagem prevista para os próximos meses.

Juntas, Vale e ArcelorMittal consomem 79 milhões de litros de água diariamente. A Arcelormital Tubarão recebe água sem tratamento da Cesan, e são  normalmente 800 litros por segundo, totalizando  69 milhões de litros por dia. O fornecimento foi um pouco reduzido com a crise.  

Para a Vale, a água é entregue já tratada pela Cesan, e o consumo da empresa  é de 120 litros por segundo em condições normais, totalizando 10 milhões de litros por dia. Da mesma maneira que para a ArcelorMittal, também a Vale teve pequena redução de sua água na atual crise.

O governo também não se atenta para a necessidade de replantios de mata nativa para produção de água, conservando as águas das chuvas. A medida é essencial em todo  o Estado e emergencial nas bacias dos rios Jucu e Santa Maria. Ao invés de vegetação nativa, as bacias estão sendo plantadas com o eucalipto, que consome grandes quantidades de água. E, o governo continua anunciando novos projetos de plantios de espécie florestal, o que deve  ser entendido como eucalipto. 

O governo anuncia como meta, até 2018, a ampliação da cobertura vegetal em 80 mil hectares. Desta área,  60 mil provenientes de condicionantes ambientais, do monitoramento das matas em estágio inicial e do Programa Estadual Reflorestar. Tal programa ampliou os plantios  de eucalipto, além de contar com recursos das poluidoras, Vale e ArcelorMittal e Samarco.  

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