quarta-feira, fevereiro 5, 2025
31.9 C
Vitória
quarta-feira, fevereiro 5, 2025
quarta-feira, fevereiro 5, 2025

Leia Também:

Mais uma obra inútil

Enfrento o inevitável congestionamento matinal, sexta-feira, carros em câmera lenta na highway, a maioria para o trabalho, uma privilegiada minoria para as praias. No Brasil seria o contrário, a maioria indo para as praias, mesmo num dia que convencionamos chamar de útil. Sendo que o oposto de útil é inútil, pode-se inferir que os dias sem trabalho são inúteis. Lazer ou estar em família não é útil? A classificação correta deveria ser, segunda a sexta, dias inúteis.
 
Miami Beach, famosa cidade à beira-mar plantada, se conecta com muitas outras praias também densamente povoadas, que longa e ensolarada é a orla da Flórida. Não importa o dia da semana, o clima, ou as nuances da economia nacional, todas estão sempre lotadas. Tal e qual nas praias brasileiras. Mas não são os maiamenses que enchem as praias, seja nos dias úteis ou inúteis.
 
A fauna das praias é formada por turistas, gente de todas as cores, raças e credos. E lugares, naturalmente. Num dia útil qualquer fui a trabalho a uma praia de Fort Lauderdale. Voltei sem resolver o assunto pendente porque não consegui achar uma vaga para estacionar. Depois de rodar duas horas, desisti. Nesse local, nesse dia, 90% dos carros tinham placa de Toronto, Canadá. Olha que é longe.
 
Seja em dia útil ou inútil, sempre tropeçamos na santa burocracia. Decidindo passar férias no Brasil, Julia tem que tirar dois passaportes. Passaporte americano: foi na prefeitura, deu entrada no formulário, mostrou a identidade, tirou a foto, pagou e foi pra casa. Uma semana depois recebe em casa o passaporte. Passaporte brasileiro: foi no consulado levando foto, formulário preenchido e o comprovante de pagamento feito nos correios. Já tem 18 anos? Precisa do título de eleitor. Tira-se no consulado, outra taxa, mais multa por não ter votado. Cadê a certidão de nascimento?
 
Julia mostra, mas é cópia. Desculpe, tem que ser a original. Julia liga para o cartório no Brasil, dá os dados e solicita a remessa para Miami. Pois não: oito dias inúteis para processar, mais oito dias úteis para chegar em Miami. Oito dias para tirar uma cópia?  Não podem mandar por fax direto para o consulado em Miami? Pois sim! E como o passaporte leva um mês para processar, Julia provavelmente vai gastar seus dias inúteis no México, pois quando o passaporte brasileiro ficar pronto, suas férias já terão terminado.
 
Escrever pressupõe o uso de papel e caneta – ups, isso era antes! Escrever pressupõe o acesso a um computador. Escrever no sentido bíblico significa criar alguma obra que se sonha possa algum dia ser publicada. Os casos de plágio e roubo de trabalhos abundam, portanto, o escritor tem que registrar sua obra prima nos órgãos competentes. Antigamente era simples: punha no correio endereçado a você mesmo, e quando recebesse de volta guardava sem abrir. O lacre e o carimbo do correio eram comprovantes de autoria e data.  
 
Registrar propriedade intelectual nos States: você entra online, preenche o formulário, faz o pagamento, e upload o texto. No dia seguinte recebe por email o comprovante e número do registro. Preço: 20 dólares. Registrar no Brasil: tem que ir pessoalmente ao local e apresentar documento de identidade, número do CPF e comprovante de residência. Preço: R$ 10. Tudo bem, cada povo tem a burocracia que merece, mas o que tem sua residência a ver com isso?

Mais Lidas