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Aracruz Celulose (Fibria) faz festa com ave saíra-sapucaia

Foi só mídia, para posar de conservacionista. A Aracruz Celulose (Fibria) fez festa com uma ave, a saíra-sapucaia, que informou ter sido avistada em uma área de sua propriedade. Entretanto, só no Espírito Santo, a empresa destruiu 50 mil hectares de mata atlântica e toda sua biodiversidade. Sem contar as terras griladas de pequenos agricultores, quilombolas e indígenas.
 
A mata nativa deu lugar aos eucaliptais da Aracruz Celulose (Fibria), que formam o deserto verde: nada cresce em meio às plantações. 
 
A mídia corporativa, no Espírito Santo as redes Tribuna e a Gazeta à frente, fizeram festa para o exemplar da “Ave rara, saíra-sapucaia é vista em mata de Aracruz, norte do ES”, como titula o G1 ES. Cita informações de que a ave  foi avistada na área de restinga de uma empresa de celulose no município, no dia 9 de maio, identificando no texto a Aracruz Celulose (Fibria). 
 
O texto cita que o último registro em áreas da empresa no município era de 1993 (sete vezes no total, desde que a empresa começou a monitorar a fauna na região, assinala).
 
Conhecida como saíra-sapucaia, o pássaro está ameaçado com status de vulnerável em diversas listas ambientais que tratam do tema. A saíra-sapucaia (Tangará  peruviana) é chamada ainda de saíra-de-dorso-preto ou saíguaçu.
 
A saíra está ameaçada com status vulnerável na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) e na Lista Nacional do Ministério do Meio Ambiente (MMA) de 2014. 
 
O site Ornithos Escola tem  informações sobre a espécie. Seu tamanho é de 15 centímetros, e sua alimentação principalmente de frutos, mas também insetos e aranhas. Tem em média duas ninhadas por estação, com três ovos cada. 
 
É habitante das restingas, de matas primárias e secundárias da mata atlântica. Está presente nos estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A espécie é endêmica da mata atlântica. No Espírito Santo, todos os registros foram feitos no inverno austral.
 
Foi com um exemplar desta espécie que a Aracruz Celulose fez sua propaganda. A história da implantação da empresa, cheia de crimes ambientais e sociais, não foi sequer lembrada.
 
A  Aracruz Celulose grilou as terras da comunidade quilombola, cerca de 50 mil hectares, em todo o Estado. A Justiça Federal já reconheceu  em ação civil pública proposta pelo Ministério Publico Federal, que os imóveis foram obtidos pela empresa forma ilegal, inclusive tomados à força. No total, o MPF já identificou 51 propriedades rurais  grilados pela Aracruz Celulose (Fibria)
 
Durante sua implantação, a empresa também tomou terras dos índios, cerca de 40 mil hectares, dos quais foi obrigada pelo governo federal a devolver 18,15 mil hectares, e de pequenos proprietários.
 
História macabra
 
Para implantar seu empreendimento, a Aracruz Celulose (Fibria) destruiu pelo menos 50 mil hectares de mata atlântica e toda sua biodiversidade. Construiu uma história macabra ambiental e socialmente. Os plantios de eucalipto geraram um imenso deserto verde, expressão cunhada pelo naturalista Augusto Ruschi, o Patrono da Ecologia no Brasil.
 
As atividades da Aracruz Celulose (Fibria) começaram no campo, em novembro de 1967, quando foram plantados os primeiros eucaliptais. Começava a materialização do sonho tropical do empresário norueguês Erling Sven Lorentzen, casado com a princesa Ragnhild, irmã do rei Harald V.
 
Lorentzen conseguiu seu intento no Brasil aliando-se às mais altas figuras da ditadura militar, como o general-presidente da República, Ernesto Geisel. E com a ajuda dos representantes dos militares no Espírito Santo, os governadores biônicos (não eleitos pelo povo e nomeados pelo governo federal) Arthur Carlos Gerhardt Santos e Cristiano Dias Lopes. Gerhardt começou a preparar o terreno para o domínio da Aracruz Celulose, fundada em abril de 1972.
 
Dinheiro não faltou para todos os projetos, inclusive a construção das três fábricas, em Aracruz.   O projeto idealizado pela empresa para o norte do Estado se viabilizou graças ao financiamento do BNDE – na época sem o social –, considerado o maior concedido até então a uma empresa privada. Orçado inicialmente em U$S 460 milhões, e depois corrigido para US$ 536 milhões, coube ao banco a maior parte dos recursos, US$ 337 milhões.
 
Quem coroou o acordo foi o governador biônico do Estado na época e ex-deputado estadual Elcio Alvares (DEM). A nomeação dele no governo, em março de 1975, para substituir Arthur Carlos Gerhardt Santos, foi considerada uma contribuição ao arranjo para o financiamento do Grupo Aracruz. Já Gerhardth, saiu do governo para assumir, direto, a presidência da Aracruz Celulose. 
 
Depois da inauguração da fábrica A da empresa, o BNDES continuou financiando os projetos de expansão da Aracruz  –  fábricas B e C -, com participações no quadro acionário.
 
Hoje, um exemplar de saíra mostra uma imagem de boazinha da empresa.

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