Quando a gestão do então prefeito João Coser (PT) ensaiou a implantação de uma ciclovia na Avenida Rio Branco, na Praia do Canto, em Vitória, logo encontrou uma conhecida e carrocrática resistência. Moradores e comerciantes se opuseram à remoção de uma faixa de estacionamento para a implantação de uma ciclovia. Comerciantes temiam perder clientes. Moradores com mais de um veículo, vaga: a região concentra prédios antigos com apenas uma de garagem.
Agora, as bicicletas perderam outra vez com a tomada dos dois sentidos da Rio Branco na Praia do Canto pelo sistema rotativo. A Prefeitura de Vitória, então, resolve contornar o a chiadeira dos comerciantes criando outro problema: a implantação de uma ciclovia no canteiro central da avenida. Mas para isso seria necessária a remoção das árvores. A prefeitura vai apresentar o projeto dia 22 de junho para ouvir os moradores. Ainda não foram definidos data e local da reunião.
Defensores naturais da estruturação das malhas cicloviárias, os cicloativistas sempre evocam uma diretriz do Plano Nacional de Mobilidade Urbana: “prioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados”. Ou seja, o debate “árvore/ciclovia” é vão. O que se defende é a retirada do estacionamento, rotativo ou não, em benefício da ciclovia, a exemplo do ocorrido na construção da Ciclovia das Docas, no Centro de Vitória.
Além de vão, é ecologicamente incorreto. A retirada de árvores de um belo e tradicional renque de árvores não cairia bem para uma prefeitura que já incidiu num autêntico desmatamento urbano na Avenida Leitão da Silva, quando, em 2014, cerca de 300 árvores foram extirpadas para as obras de ampliação da avenida. Obras, que, aliás, mais se rastejam do que andam: a conclusão está prevista para o início de 2017. Aqui, as árvores perderam.
Vale lembrar também as ciclorrotas. O Mapa das Ciclorrotas das Grande Vitória aponta algumas rotas adequadas na região da Praia do Canto, que registram menor volume de tráfego, veículo em baixa velocidade e certa infraestrutura viária. Seria uma alternativa com menor custo de implantação em relação a uma ciclovia. Pelas ciclorritas, os ciclistas poderiam fazer um pedal seguro entre a Leitão da Silva e a Ponte Ayrton Senna.
O projeto pode trazer mais desgastes para o prefeito de Vitória Luciano Rezende (PPS). Nesses primeiros cinco meses, Luciano já sofreu dois arranhões. Primeiro, com a proposta de securitização da dívida ativa do município, criticada por entidades jurídicas. Depois, com o guinchamento indiscriminado de veículos pela Guarda Municipal nas áreas de estacionamento rotativo, que entrou na mira da CPI da Máfia dos Guinchos, na Assembleia Legislativa.
O embate “árvore ou ciclovia?” é mais um desgaste que espreita o prefeito. Um evento para o dia 22 já foi criado no Facebook. O nome diz por si: “Contra a Derrubada das Árvores da Praia do Canto e por mais Ciclovias já!!”. Também no feice, o vereador Serjão Magalhães (PSB), opositor do prefeito, já fez críticas à medida e provavelmente deve repercuti-las nas sessões da Câmara de Vitória.