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Atividades literárias ganham diversidade e dinamismo com Wilson Coêlho

 
O Centro Cultural Sesc Glória reabriu suas portas no Centro de Vitória há pouco mais de um ano. O prédio passou sete anos em reforma e suas atividades finalmente foram retomadas. Entre as áreas artísticas e culturais trabalhadas no espaço está a literatura que, a partir de mesas de discussão, conversas abertas, encontros com escritores, cafés literários e painéis temáticos, tem chamado atenção por manter uma programação constante e que consegue incluir escritores locais.
 
O responsável que está à frente da articulação literária no espaço é Wilson Coêlho (foto acima). Escritor desde muito cedo, leitor e, desde a abertura do Centro Cultural Sesc Glória, técnico de literatura. Wilson não trabalha sozinho, tem um  grupo de pessoas que articula e se dispõe a discutir as atividades do ambiente. Ele, inclusive, aponta um dos jovens presentes no local como alguém que chegou timidamente do espaço e que nunca mais parou de frequentar o ambiente e, atualmente, já contribui na construção de alguns eventos como o Bloomsday.  
 
O Bloomsday é próximo projeto do Sesc Glória que Wilson conta com certa empolgação, enquanto caminha pelo prédio do Centro Cultural em busca do livro Ulysses, de James Joyce (Dublin, 1882 – Zurique, 1941). O evento consistirá em homenagear o escritor James Joyce que lançou Ulysses inspirado na obra Odisseia, de Homero e, assim em 16 horas faz simbolicamente o mesmo itinerário que a Odisseia fez em vinte anos. Devido a isso, todos os anos, no dia 16 de junho, batizado de Bloomsday ou Dia de Bloom, é feriado na Irlanda. E, Vitória também esta na articulação de seu Bloomsday. Wilson tem se reunido com um grupo para montar o formato do evento, que fará um trajeto pelas ruas de Vitória. 
 
Esse é só mais um dos eventos do local que alimenta sua grade de atividades mensais com diversas ações literárias novas e antigas, como o Café Literário, já em atividade há oito anos. “Desde o primeiro Café Literário eu sempre fui convidado. Eu trabalhava na Escola de Teatro, Dança e Música Fafi e era coordenador do curso de teatro de lá e, como o Sesc tem um projeto que é muito ligado às áreas de teatro e literatura, eles me convidaram para uma parceria. Daí em diante a gente manteve contato e eu auxiliei tanto no teatro quanto na literatura com os Cafés”, explica ele sobre a início das atividades dele no espaço. 
 
Ao ser perguntado sobre qual viés literário ele tem trabalhado no espaço, Wilson aponta uma das discussões que circula pela literatura local, a dificuldade em desvincular o escritor do Estado da nomenclatura de “escritor capixaba” e, assim, trabalhar de forma geral a literatura nacional produzido no Espírito Santo.
 
“Eu também sou escritor, mas odeio que me chame de escritor capixaba. Eu sou capixaba porque eu vivo aqui, não quero ser o escritor capixaba. Nós fazemos a mesma literatura que o escritor do Rio de Janeiro ou de São Paulo, então por que isso? Será porque esperam que eu fale de moqueca, ou de congo? Eu até sugeri recentemente aos organizadores da FlicaFeira Literária Capixaba – que pensassem no nome Feira Capixaba de Literatura, pois a feira sim é capixaba, a literatura não. A literatura é feita no mundo, é feita no espaço, a literatura não tem pátria”.
 
 
E, a partir desse ponto de vista ele já apresenta qual viés tem trabalhado na área literária do espaço: a literatura nacional, com foco no escritor local e, periodicamente, com participações do escritor de outros estados. “Nossa política é centrada no autor local. Só que também não vamos isolar quem está fora, precisamos nos oxigenar, trocar ideias e ter experiências de outros escritores. Assim como, num futuro bem próximo, é possível que a gente também consiga organizar um grupo de escritores que possam circular pelo Brasil para apresentar nossos processos como escritores e quem somos”. 
 
De acordo com Wilson Coêlho, o importante é conseguir criar um ciclo de atividades que incluam todas as gerações de escritores do Estado, integrando esses nomes de forma a dialogarem. “O principal é propiciar a esses encontros e debates entre quem já produziu e quem tem produzido. Na semana passada tivemos o Francisco Aurélio. Mas muitas vezes misturamos um veterano com um jovem. Teremos, em breve, o Rodrigo Caldeira lançando um livro com a mediação do jovem Yann Siqueira, são esses cruzamentos que a gente tenta fazer para romper com essas fronteiras da literatura que se separa por quem produz no Estado. Estamos em uma ilha mas não devemos ficar ilhados”. 
 
Os projetos do Sesc na área de literatura prezam por essa integração. Então, mesmo quando há um escritor muito jovem, é escalado um escritor recém-lançado; quando há participações de outros estados, o espaço convida escritores locais para a discussão e, assim, as atividades vão se firmando. Atualmente o Centro Cultural conta com projetos já conhecidos como o Café Literário, que tem atividades ao longo de todo o ano; o Painel Literário, que lança dois escritores por mês mediante edital de seleção; oficinas temáticas; o  Efemérides, que destaca datas importantes e, assim, levanta debates sobre obras e escritores específicos – em agosto terá debate sobre Raul Seixas, em lembrança ao aniversário de morte do cantor; em outubro terá o Dia D, de Carlos Drummond de Andrade; e também será feito A hora C, de Clarice Lispector
 
Além disso, mais projetos estão a caminho. Diante de toda essa atividade, Wilson fala sobre o público estar recebendo bem e, aos poucos, começar a se acostumar com essas atividades contínuas, criando o costume da frequência nesses eventos. Mas não é só o público o problema enfrentado até o momento, como explica Wilson. “Enfrentamos alguns problemas com a imprensa, na maioria dos casos até temos uma notícia espontânea. Mas eu como cidadão tenho muito mais espaço na imprensa do que como funcionário do Sesc. Além do mais, hoje a imprensa local tem um problema muito sério, a questão cultural virou um mero produto de agenda. Então se a imprensa quer agenda, para a gente tudo bem, mas o espaço que necessitamos não é só disso, é de discussão sobre a área”, criticou.
 
 
Ainda assim as atividades são mantidas e os espaços no Centro Cultural Sesc Glória voltados para a literatura chamam atenção pela boa estrutura e dinâmica de uso. Atualmente acaba de ser aberta a biblioteca, que é livre ao público. O espaço foi inaugurado no dia 19 de maio sem estar totalmente concluído, mas impulsionado devido à alta demanda de pessoas frequentando o espaço. Dessa forma, os organizadores resolveram abrir a biblioteca oficialmente e liberar o uso dos livros, mas os empréstimos só serão liberados a partir de setembro. 
 
David Rocha, organizador da biblioteca, contou um pouco sobre a dinâmica de uso e estrutura. “A biblioteca funcionará completa até setembro com um acervo inicial de sete mil livros. Ela é de cunho cultural e está voltada à produção cultural e às expressões artísticas. Também temos assinaturas de periódicos, como jornais e revistas. Qualquer pessoa pode utilizar o espaço, basta fazer o cadastro. Temos disponibilidade de internet e de seis notebooks para o usuário, além de um scanner em braile onde qualquer livro pode ser reproduzido em áudio; e fechamos com um espaço de literatura infantil.
 
Serviço
O Centro Cultural Sesc Glória está localizado na Avenida Jerônimo Monteiro, no Centro de Vitória. A biblioteca funciona de terça à sexta-feira, das 9h às 12h; e das 15h às 18h. A entrada é livre. Acompanhe as atividades literárias do espaço nas redes sociais.

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