Crowdfunding, ou sistema de financiamento coletivo, é um modelo que vem ganhando cada vez mais adeptos pelo mundo. Ele não nasce de uma novidade, pois é uma adaptação para a internet da famosa ‘vaquinha’ arrecada com amigos e parentes para ajudar a concretizar um projeto. A diferença do crowdfunding é que ele tem a internet como aliado. Dessa forma, o sistema online funciona numa lógica simples e objetiva: a partir da colaboração financeira de qualquer pessoa pelo mundo, via internet, projetos de qualquer viés podem ser financiados e, assim, concretizados.
A maior vantagem é poder alcançar qualquer pessoa, independente do local de moradia. Consequentemente, é possível ousar nos projetos e tentar financiamentos de atividades maiores. Outra característica do modelo é a rígida organização: os projetos são lançados nas plataformas de financiamento com prazos para captar o dinheiro; e o sistema de captação “tudo ou nada”, em que o dono do projeto só tem acesso ao dinheiro se alcançar toda a verba pedida (podendo ultrapassar esse valor, mas nunca ficar abaixo da meta) – quando não se alcança o valor necessário, o dinheiro é devolvido aos colaboradores. Além disso, geralmente os projetos oferecem recompensas a quem ajuda, que podem variar de produtos a vivências.
O modelo chegou tímido ao Brasil há cerca de três anos, mas sua efetividade tem feito cada vez mais pessoas e grupos pensarem nesse tipo de financiamento. Algumas das plataformas mais conhecidas no Brasil são o Catarse; o Kickante; a Benfeitoria; e a Garupa. Mas cada plataforma dessas apenas se encarrega de “abrigar” as ideias. A divulgação para que o projeto seja bem-sucedido cabe ao idealizador. Dessa forma, mesmo com o sistema de crowdfunding se mostrando bastante acessível e usual, ele não reflete a garantia e a efetividade de projetos.
Uma aposta em Vitória – Cia de Dança Andora
O assunto sobre crowdfunding não é uma realidade distante do âmbito local, na grande Vitória há projetos em processo de financiamento, alguns deles exclusivamente culturais, para financiar atividades como viagens – como é o caso da Companhia de Dança Andora, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
A Cia lançou no início de maio um projeto no Catarse que tem o objetivo de levantar recursos para a viabilização de uma turnê do Grupo no México. Isso porque os integrantes foram convidados para representar o Brasil em dois festivais internacionais, O Festival de Folclore de San Pedro de Atocpan; e o de Zacatecas – um dos mais importantes do mundo e que reúne cerca de mil artistas e mais de 100 mil espectadores.
Lugar para ficar no México, assim como alimentação e locomoção por lá eles já tem garantido. O custo do financiamento coletivo é referente às passagens aéreas do grupo para que os 28 membros da Companhia possam chegar ao país no dia 11 de julho, quando começam os eventos.
“Vimos o financiamento como uma possibilidade diante da nossa situação de não querer deixar que a viagem seja descartada. Lançamos o projeto no site há cerca de três semanas e, devido a nossa inexperiência com esse modelo, ainda não temos o resultado esperado. Mas estamos contanto com pouco mais de trinta dias pela frente para conseguir virar o jogo”, conta Bruno Henrique de Paula, integrante da Cia Andora.
Sobre colocar o financiamento coletivo como principal possibilidade de viabilizar a viagem, Bruno Herique explicou que esse foi uma ano atípico para a Cia Andora. De acordo com ele, o sustento de parte das atividades do grupo é viabilizado por meio de parcerias e recursos oriundos de editais culturais. Contudo, nesse ano, o Grupo esbarrou na imprevisibilidade do lançamento do Editais Funcultura 2015 da Secretaria de Cultura do Estado (Secult) – devido ao baixo recurso disponibilizado pela Secretaria e à reivindiação de artistas para que os editais só sejam lançados com verba mínima e pública de R$ 11 millhões. Diante disso, a Cia Andora encarou o financiamento coletivo como uma alternativa mais paupável.
A tarefa de fazer um projeto ser completamente financiado por crowdfunding não é fácil. É preciso um intenso trabalho nas redes socais, ações de arrecadação, mobilização de rede de amigos e sensibilização para que outras pessoas possam conhecer o projeto e apoiá-lo. Nesse momento, a Cia Andora arrecadou cerca de R$ 2 mil dos R$ 33 mil necessários. Segundo Bruno, o projeto demanda de um recurso bem alto e, somado ao pouco tempo de arrecadação, eles acabam, no momento, em desvantagem. Mas a Cia recorre também a outras estratégias.
“Estamos angariando recursos e parcerias com instituições privadas e públicas no intuito de conseguir um apoio significativo. Estamos nesse momento em suspense, mas acreditamos que vamos conseguir, mesmo que seja na última hora – aliás, já aconteceu isso antes, de conseguirmos apoio com poucos dias para uma viagem”, acrescentou Bruno.
A Cia Andora é composta por professores, graduandos, ex-alunos da Ufes e membros da comunidade externa, assim como pessoas de outras universidades de fora do Estado. Ela foi criada em 2008 com o objetivo de ensinar a dança folclórica característica do Estado e do Brasil, como conta Bruno. “Atuamos para formar professores em danças folclóricas. Pessoas que possam levar essa cultura para outros lugares, por isso é importante nossa circulação por diversos ambientes, não queremos formar dançarinos, mas professores em dança folclórica”, explica.
Com o início das atividades, o grupo passou a ser convidado para apresentações em diversos locais do Brasil, como Manaus, representando o Sudeste na programação da Copa do Mundo de 2014; já saíram do Brasil e se apresentaram em Portugal, França, Espanha e Alemanha e, dessa vez, planejam ir ao México.
Em fase de finalização – Assédio Coletivo
Enquando a Cia Andora tem pela frente pouco mais de 30 dias para conseguir o apoio de sua viagem, o Assédio Coletivo chega aos dias finais de seu projeto de crowdfunding: o sustento, por mais um ano, da Libre – Casa Coletiva, espaço gerido pelo Coletivo para práticas diversas de produção e fomento cultural.
O projeto foi lançado pela Benfeitoria e tem o objetivo de arrecadar R$ 16 mil. A viabilidade do financimento não está muito longe da concretização, já que o Coletivo arrecadou até o momento cerca R$ 6 mil e, até o próxima segunda-feira (8) – quando se encerra o prazo para colaborar com o projeto – é possível que a Libre consiga o financiamento inteiro diante da mobilização nas redes sociais.
Cerca de 50 pessoas já colaboraram e as atividade do Coletivo seguem firmes para que nos últimos dias haja mais movimentação. O Assédio optou por realizar a divulgação na internet, mas também organizou e participou de eventos culturais em que as pessoas poderiam colaborar diretamente com os membro do Coletivo.