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???Eu vou para um partido em que eu possa ser o cacique’

Rogério Medeiros e Renata Oliveira
Fotos: Leonardo Sá / Porã
 
O vereador de Vitória, Serjão Magalhães, está de saída do PSB e em fase final de negociação para um partido, que ele não revela por enquanto, qual é, mas deixa a dica: é pequeno e ele será o cacique no Estado. A movimentação do vereador tem um objetivo que ele não esconde, quer disputar a eleição a prefeito de Vitória em 2016.
 
Nesta entrevista, ele fala sobre os motivos que o levaram a estudar uma entrada no pleito do próximo ano e a busca de uma acomodação que permita a construção de alianças para ampliar sua musculatura política na Capital. 
 
Ele também fala sobre a gestão do atual prefeito, Luciano Rezende (PPS), da falta de diálogo do Executivo com a Câmara, e dos principais problemas que identifica na cidade, com ênfase na questão ambiental, seja água, ar ou solo. 

 

Século Diário – Estamos aqui para discutir a possibilidade de o vereador disputar a eleição para a prefeitura de Vitória em 2016, mas antes vamos analisar o itinerário até essa candidatura. Em sua visão, como é a relação com a atual gestão do prefeito Luciano Rezende (PPS)? 

 
Serjão Magalhães – A minha visão, infelizmente, é de quem está decepcionado, porque trabalhamos para a eleição de Luciano Rezende enquanto partido e enquanto vereador eleito. O que eu vejo, diferentemente do que eu esperava, porque Luciano foi quatro vezes vereador em Vitória, teve quatro mandatos de vereador, portanto, profundo conhecedor da Câmara, é que ele se relaciona mal com a Câmara, como se o Legislativo devesse ser subserviente a ele, coisa que ele mesmo nunca topou ser, pelo menos, pelo que eu conheço de sua trajetória de vereador. Então, como ele quer impor isso a nós? Essa foi uma primeira decepção. 

 

– Essa é uma visão sua ou é uma visão compartilhada no plenário da Câmara? 
 
– É compartilhada pela maioria. Obviamente que os seguidores fiéis dele, que são do partido dele, vão discordar, mas a maioria pensa desta forma, porque essa propaganda enganosa de gestão compartilhada, isso não existe. Em vários episódios recentes de audiências públicas que eu fiz, em todas, ele proibiu os secretários de participarem. Nessa quarta, com os concessionários da Curva da Jurema, ele pediu ao pessoal da CDV [Companhia de Desenvolvimento de Vitória] e sugeriu para os concessionários que não participassem, sob pena de retaliação no contrato que está para renovar. 
  
– Quer dizer, a população traz as demandas aos vereadores, os vereadores querem fazer as discussões, até para fazer essa ponte, e estão sendo desprestigiados…
 
– E fomos legitimamente eleitos para isso e não conseguimos. E como Poder Legislativo, estamos sendo subjugados. Foi meu discurso nessa quarta-feira na Câmara. Como vamos aceitar uma situação dessas?
 
– E quais são, em sua opinião, as principais demandas da população de Vitória?
 
– As principais demandas que aparecem são na área de segurança e na área de pessoas. Ele [Luciano Rezende] insiste no discurso de que tirou não sei quantas pessoas da rua, mas o que a gente vê é esse número cada vez mais crescente. Eu tenho visitado os locais de acolhimento. O centro de migrantes, do Tancredão, está desde janeiro sem dinheiro para pagar a passagem para as pessoas retornarem para seus municípios. E esse é o papel principal dele. Não tem dinheiro para comprar passagem. Teve um caso extremo, que nós cotizamos no escritório para pagar a passagem para a pessoa, no valor de R$ 200, 00. Ele ficou três meses na casa de acolhimento. O custo dele na casa foi muito superior a esses R$ 200, 00 da passagem. 

 
– É um problema de gestão…
 
– Sim, de gestão. Acho que o próximo prefeito, além de ser hábil politicamente, tem de ser um bom gestor, porque Vitória hoje não é mais aquela cidade em que sobravam recursos. Hoje a pessoa tem que ser eficiente no investimento e na administração dos recursos e a gente vê que esse é o principal problema da prefeitura. O fim do Fundap [Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias] e a queda dos royalties já haviam sido anunciados há muito tempo. O prefeito já assumiu a gestão sabendo disso. Então,  no primeiro ano, o orçamento foi equilibrado. No segundo ano, que ia apontar para um déficit, nós aprovamos na Câmara o Refis [Programa de Incentivo à Recuperação Fiscal] e a possibilidade de a prefeitura protestar o inadimplente.

– Com isso, eles arrecadaram R$ 180 milhões, o que equilibrou o caixa novamente. Fechou com um superávit de R$ 39 milhões. Agora,  no terceiro ano, até abril havia um déficit de R$ 42 milhões. Ou seja, com os R$ 39 milhões que sobraram do ano passado, está equilibrado, só que tudo parou. Os Cajuns [Projeto Caminhando Juntos] pararam, cortaram a água da Curva da Jurema. Coisas básicas estão deixando de serem feitas por conta de uma gestão que tem 16 mil funcionários, é o maior número per capta de funcionários entre as capitais. Isso deveria ser diminuído nos cargos comissionados, para que se buscasse o equilíbrio e o orçamento se realizasse. Tem que ter coragem. O fim da reeleição, que foi aprovado agora, foi excelente, porque eu sempre defendi o fim da reeleição, exatamente por causa disso, muitas vezes o gestor não desliga algumas pessoas por terem influência política, mas que como funcionários, trabalhadores, não desempenham as funções como deveriam. 

 
– Além da ciclovia, que nem é uma ciclovia, porque só funciona no fim de semana e feriado…
 
– Ciclofaixa.
 
– Ciclofaixa. Além disso, o que tem de destaque na cidade feito por essa gestão de Luciano Rezende, na visão de quem anda pela cidade?
 
– De concreto, muito pouco ou  praticamente nada. Vamos falar das ciclovias. Fiz um vídeo esta semana sobre as ciclovias. Mais uma vez, é o problema da gestão. Ele gastou na faixa que liga Camburi até o Iate Clube, R$ 1,8 milhão para fazer aquele braço na ponte e estender a ciclovia. Mas quando você chega no Iate, a ciclovia acaba. Tem uma calçada imensa lá, era só pintar no chão, separar para não haver o conflito de pedestre e ciclista. Mas não tem ciclovia. Na entrada da Ilha do Frade tem uma ciclovia pequena e acaba novamente na guarderia, depois da Curva da Jurema até o final. Ou seja, não há uma integração. A obra mais fácil é essa. É só integrar o que já tem. É uma dessincronização total nas ações. Vitória é uma ilha, você poderia criar, com baixo custo, um anel cicloviário, e já tem esse projeto há muito tempo e não se consegue implementar. As coisas boas que poderia estar fazendo, a decisão é muito lenta, porque todos na Prefeitura dizem e a gente percebe, que ele é muito centralizador. A centralização  é um elemento muito negativo na gestão. A boa gestão, principalmente de grandes conglomerados, não suporta a centralização, porque torna a gestão muito lenta.  

 

– Isso é o perfil do prefeito?
 
– Só para se ter uma ideia desse perfil centralizador do prefeito e dessa dependência de seus secretários, vamos fazer mais uma audiência do estacionamento rotativo e o secretário da pasta, que é do meu partido, está impedido de participar, porque sou eu quem está realizando a audiência. Então fica difícil. Ele é secretário de todas as pastas, ele é prefeito, é tudo. Então, como as coisas andam desta forma?

– O seu partido apoiou Luciano Rezende na campanha de 2012, inclusive, seu nome foi colocado como vice…

 
– Eu era pré-candidato, mas pediram para eu ser o vice de Iriny Lopes [PT] e eu preferi não aceitar, e aí fui candidato a vereador. Foi a última opção que me sobrou. 
 
– Sim. O PSB está fechado com Luciano Rezende para a disputa à reeleição. Então, como fica a sua situação, o vereador está de saída do PSB?
 
– Estou de saída do PSB, inclusive, já há um acordo com a direção do partido para que eles me liberem. Só que a Câmara dos Deputados facilitou a minha vida.
 
– O vereador vai aproveitar a “janela” de 30 dias para migrar de partido?
 
– Vou.
 
– E já tem definição para onde vai?
 
– Estou em fase final de definição. Mas o lugar que quero ir, é um lugar em que eu tenha independência para tomar as decisões, que eu não esteja sob a tutela de ninguém. Esse é o pré-requisito que estou buscando, de preferência em nível estadual, que eu possa tomar as decisões, e estou em fase final para que isso se concretize. 
 
– Está adiantado?
 
– Está adiantado.
 
– E a candidatura a prefeito é para valer
 
– É para valer. 
 
– O vereador vai mudar para ser candidato a prefeito.
 
– Exatamente. Por quê? Porque os institutos de pesquisa aos quais eu tive acesso indicam a não-reeleição do prefeito, a grande chance de o prefeito não se reeleger, e a ausência de novas lideranças. Então, quero me apresentar como uma alternativa a essa ausência de novas lideranças.  
 
– O vereador tem um reduto importante, que é a Praia do Canto, não é?
 
– Sim, eu pude constatar isso na última eleição para deputado estadual. Eu ganhei de todo mundo na região da Praia do Canto. Na região que vai da Ponte de Camburi até a Enseada do Suá. O segundo colocado ficou com a metade dos votos. Então, se eu me associar a outras áreas, como grupo das zonas 001 e 056, a acho que a gente pode conseguir ampliar isso. A 001 é do Centro para lá, ou seja, se a gente fizer uma parceria com alguém dessa região para estar em um projeto, poderemos incomodar. 
 
– Mas você tem colégios eleitorais muito grandes em Vitória, como Santo Antônio, São Pedro, Jardim da Penha e Goiabeiras, e Jardim Camburi, que foi uma grande conquista de Luciano Rezende. Como conquistar esses grandes colégios eleitorais do município?
 
– A política é isso, é a arte de você congregar. Eu quero exatamente isso. Estou buscando um partido em que eu consiga ter independência, justamente para conseguir fazer um modelo diferente. Um modelo não focado no recurso financeiro, mas focado em pessoas de qualidade, que em sua maioria não militam na política hoje, mas se sentem confortáveis em um ambiente político colocado. Essas pessoas é que eu vou buscar, aliás, já estou buscando. 
 
– Quando olhamos para a Grande Vitória e os problemas enfrentados pelos outros municípios, a Capital tem um perfil diferente. A Serra é uma cidade que tem plantas industriais e arrecadação, mas é enorme e sofre com a desigualdade social. Vila Velha tem problemas ainda maiores porque não tem arrecadação, Cariacica é outro município grande, populoso e problemático. Neste sentido, não parece ser tão difícil assim governar Vitória. Qual a sua visão da cidade o que vai apresentar na disputa eleitoral?
 
– Vitória precisa ser trabalhada, além da questão da gestão, que já falei aqui, no sentido de melhorar a cidade para o munícipe, mas isso vai acabar atraindo o turista também. As últimas notícias que estamos vivenciando e que são verdadeiras, porque acompanho a questão ambiental, são de que Vitória está cercada de esgoto. Embora tenha sido feito um investimento enorme por parte do governo do Estado para construir a rede de coleta de esgoto na cidade, ainda existem inúmeros pontos que não foram interligados à rede. Isso é uma competência municipal, de obrigar o cidadão a fazer a interligação. Inclusive aprovamos uma lei na Câmara para que seja passível de sanção aquelas pessoas que não fizerem a interligação na rede de esgoto. Deveria estar sendo feito – e estou cobrando isso da Secretaria Municipal de Meio Ambiente –, que fosse cobrada essa ligação do cidadão à rede de esgoto. Além disso, há denúncias, e estamos apurando, de que algumas estações de tratamento  de esgoto da Cesan, ao devolverem o esgoto tratado à baía de Vitória , aos manguezais e ao mar, não fazem com a qualidade necessária. Já pedimos algumas análises naquele manguezal do aeroporto. Vitória tem o maior manguezal urbano das Américas e aquilo ali é um berçário da fauna marinha. Eu já entrei lá no mangue de Maria Ortiz, em Goiabeiras, e aquilo já está com uma invasão de esgoto deteriorando muito aquela fauna. Precisamos cuidar daquela questão do esgoto. 

 
– Mas tem também a questão do pó preto…
 
– A questão da poluição atmosférica está muito bem conduzida na questão legal. Criamos um arcabouço legal interessante e possível, que foi o decreto baseado no nosso trabalho no GTI [Grupo de Trabalho Interinstitucional] e a lei municipal que segue o decreto. Agora, é preciso que essa lei seja cumprida, porque essa lei traz do atual padrão para o padrão da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é um terço do que está ai. Porque esse índice, embora as pessoas reclamem, e reclamam com razão, estava legalizado. Agora não está mais, a partir dessa lei de 2013 e desse decreto que sugere os novos padrões de qualidade do ar, mas precisa fiscalizar. Então, temos também que cuidar da água, trazendo balneabilidade para as praias, temos o ar e temos o solo para cuidar.  
 
– Qual o problema do solo?
 
– Desde que o prefeito Luciano Rezende tomou posse, que a minha lei, que eu propus, da coleta seletiva obrigatória em Vitória, não foi implantada. Inclusive, na segunda-feira dessa semana apresentei uma representação no Ministério Público pelo fato de o prefeito estar descumprindo essa lei até  hoje. O solo está sendo contaminado, o óleo de cozinha está sendo jogado nos nossos mares e bueiros e causando problemas por falta de uma política de resíduos, que poderia estar organizando a cidade, gerando renda para os catadores e para a prefeitura. Hoje a simples coleta voluntária que é feita na Praia do Canto está gerando um excedente de lixo seco que a prefeitura não tem como armazenar. Estão levando para a antiga usina de lixo, onde funciona a Secretaria de Serviços, e ali não conseguem armazenar e estão doando para os municípios vizinhos e o quilo disso pode ser vendido a R$ 0,50. É um dinheiro que está sendo jogado fora e em um tempo de recessão. Fizemos uma lei que autoriza a prefeitura a comercializar o excedente que não estiver sendo usado pelas associações, para que os recursos possam ir para o fundo ambiental, e até hoje não foi feita nenhuma venda desse excedente, está sendo doado. 
 
– O vereador vai para a disputa com um confronto esperado com o prefeito Luciano Rezende?
 
– Eu quero fazer uma campanha propositiva. Confronto de ideias vai ter porque ele prometeu muitas coisas que não conseguiu realizar até agora. Acho muito difícil que nesse um ano e meio que falta, e com essa escassez de recursos, que ele consiga fazer o que prometeu. 
 
– O cenário eleitoral de Vitória para o próximo ano, como sempre acontece, parece bastante congestionado. Já se fala no nome do vice-governador César Colnago ou do ex-prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas, pelo PSDB. O PMDB pode apostar no deputado Lelo Coimbra ou na senadora Rose de Freitas. O PT pode disputar como ex-prefeito João Coser. Com Luciano em baixa e os outros nomes com um peso muito forte, o prefeito pode ser o menor dos seus problemas em 2016, não?
 
–  Tem nomes com bastante expressão e história política, muito mais do que eu, mas eu não acho que um cenário povoado seja negativo. Você pode fazer um debate mais ampliado, além de dar oportunidade às pessoas que queiram experimentar algo novo, que tenham essa opção. 
 
– Mas Luciano Rezende foi apresentado como algo novo na eleição passada…
 
– Algo novo, mas nem tão novo assim, porque já tinha mais de 20 anos de vida política. Eu estou há seis anos na política e, de fato, dentre esses que foram citados, o mais novo sou eu. Mas o fato de ser novo, não basta ser simplesmente novo, eu tenho bagagem. Estou completando 30 anos de formado. Sou especializado em gestão e ganhei essa experiência como vereador e foi importantíssima, porque não basta ser gestor para administra uma cidade. Muitos dos problemas ocorrem muito mais por inabilidade política do prefeito do que por falta de gestão mesmo. As duas coisas devem estar muito bem combinadas.  

 
– Agora, é uma eleição para dois turnos, não é?
 
– Com certeza, uma eleição de dois turnos. 
 
– Como seus colegas de plenário veem a sua candidatura?
 
– Acho que há uma rivalidade natural dentro da Câmara, mas pelo comportamento amigável que eu tenho, até agora ninguém veio me importunar ou criticar essa postura, muito pelo contrário, quando citam outros candidatos, eu também sou citado. Acho que consegui construir grandes amizades na Câmara porque tenho uma conduta coerente, sempre a mesma. Quando tem coisas positivas, a gente apoia, quanto tem coisas negativas, a gente discorda e sempre trazendo a propositura e a crítica construtiva. Eles sabem disso, eles me conhecem, todos me respeitam.  
 
– Tem algum outro nome que esteja disposto a entrar no pleito pela prefeitura entre os vereadores?
 
– Que tenha se apresentado, não. 
 
– Vamos fazer uma roleta-russa de partidos para tentar adivinhar o partido pelo qual o vereador vai disputar a eleição. Está saindo do PSB. Para o PSDB não vai, porque o partido já tem suas apostas; o PSD também não dá, por seus atritos com Max da Mata; PT não vai por questões ideológicas; no PMDB também não terá espaço. PDT aqui não tem candidato, é uma chance. SD não tem candidato também…
 
– Vou dar uma dica: vou para um partido pequeno. Não vou para um partido que tenha cacique no Estado, nenhum deles. Eu vou para um partido em que eu possa ser o cacique. 

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