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Projeto de ciclovia da Avenida Rio Branco agrada, mas não obtém consenso

O projeto da Prefeitura de Vitória de ciclovia na Avenida Rio Branco encontrou mais entusiastas que críticos na audiência pública realizada na noite dessa segunda-feira (22) na Igreja Batista da Praia do Canto. No entanto, as discussões apenas começaram. Há duas outras propostas que a prefeitura prometeu analisar. Também não há data para início de obras. O caixa de que a prefeitura por ora dispõe é para o custeio do projeto básico. A execução ainda depende de captação de recursos em outras fontes.
 
Moradores da região ou não, ciclistas por lazer e cicloativistas compareceram em bom número. De modo geral, os entusiastas elogiaram a proposta de oferecer uma alternativa de mobilidade para o deslocamento na cidade. Em menor número, mas não em volume irrisório, os contrários à ciclovia temeram a perda de vagas de estacionamento, uma eventual piora de um trânsito já intenso e incômodo. Houve aplausos para quem defendeu a implantação da ciclovia na Rua Constante Sodré, paralela à Rio Branco.
 
Técnico da Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Cidade (Sedec), o engenheiro civil Leonardo Schultz apresentou três opções de projeto. A escolhida terá 1,8 quilômetros de extensão, 2,5 metros de largura e será quase integralmente implantada no canteiro central, para a manutenção das duas pistas de rolamento. Em um dos sentidos serão removidas 80 vagas de estacionamento rotativo. No sentido Santa Lúcia, vagas de estacionamento serão removidas para a ampliação do canteiro central.
 
No trecho de Santa Lúcia, a ciclovia será construída no canteiro central, com o isolamento de gradil por medida de segurança. Não haverá retirada de vagas de estacionamento nesse trecho. Ao longo da avenida haverá ainda medidas, porém não divulgadas, nos pontos de travessia de pedestres para evitar conflitos entre os usuários das vias. 
 
Schultz também afirmou que não haverá intervenções nas intercessões da avenida e que, talvez, seja preciso trabalhar os semáforos da avenida, mas sem detalhar como isso se daria. Uma possibilidade é a instalação de semáforos para ciclistas. Embora seja um trecho de alta velocidade veicular, a Rio Branco é bastante acessada por ciclistas. Um estudo da prefeitura, destacou o técnico, registrou um tráfego de 250 bicicletas por hora pico na avenida.
 
A polêmica informação de que uma das opções sacrificaria árvores, cerca de 74, da região foi rejeitada. “Todos os estudos que pediam retirada de árvores, nós descartamos”, disse o engenheiro.
 
Em reuniões anteriores com a comunidade, foi apontada a sugestão de fazer a ciclovia na Constante Sodré. O estudo apresentado pela prefeitura apresentou maior viabilidade técnica e financeira. Segundo Schultz, a Constante Sodré teria que receber obra de implantação de canteiro central, o que redundaria em custo mais elevado. A rua também não configura rota direta para ciclistas.
 
Schultz anunciou que o projeto executivo da ciclovia na Rua da Grécia está pronto e, ainda, que foram iniciados os estudos para a construção de uma ciclovia entre o Iate Clube e o Shopping Vitória. Mais tarde, a titular da Sedec, Lenise Loureiro, diria que a prefeitura está captando recursos para executar o projeto da Rua da Grécia.
 
O cicloativista Fernando Braga defendeu o projeto. “Estacionamento não é ente querido. A prefeitura não é responsável por arrumar vaga de estacionamento para todo mundo”. Recebeu aplausos. Disse depois que, se a prefeitura não tiver recurso para a obra, que recorra a medidas baratas de acalmamento de trânsito, como a implantação de zonas de 30 – regiões em que a velocidade máxima dos veículos se limita a 30 km/hora.
 
Uma mulher que se identificou como Alice, moradora da Rio Branco, apoiou o projeto. “Quando vou para Santa Lúcia e vejo aquele inferno de carros, vou a pé ou de bicicleta. Deixo o carro em casa. É qualidade de vida”.
 
A cicloativista Detinha Son, dos grupos Ciclistas Urbanos Capixabas (CUC) e Bike Anjo, se mostrou assustada com a quantidade de ciclistas que circulam na região em horários de pico, razão pela qual sugeriu à prefeitura a instalação de placas de alertas para ciclistas quanto ao perigo de trafegar na região enquanto a ciclovia não vem. Também destacou que, se faltar recurso, há a opção das ciclorrotas. “É plaquinha, tinta e vontade política”, disse. 
 
Para a cicloativista Dora Moreira, do Vitória Cycle Chic, faltam sinalização e campanhas educativas para melhorar a relação entre ciclistas e motoristas, ainda um tanto conflituosas.
 
A seguir, um morador do bairro questionou, enfaticamente: “Até agora não entendi: por que não na Constante Sodré? Se é para o conforto do ciclistas, por que na Rio Branco, com seu trânsito pesado?”. Foi aplaudido. Uma moradora de uma das últimas casas da avenida temeu pela piora no trânsito. Exibia uma expressão angustiada. Morador há 63 anos da Praia do Canto, Joubert não se conformou: “Tirar estacionamento é uma maldade”.
 
O vereador Serjão Magalhães (PSB), opositor do prefeito Luciano Rezende (PPS) na Câmara de Vitória, defendeu a implantação da ciclovia na Constante Sodré. Defendeu que a rua é uma das que mais demanda obras na região, por conta da irregularidade – é uma via de paralelepípedos – quanto por ter um sistema de drenagem precário. À construção da ciclovia, concluir, poderia se somar os reparos de que a rua necessita.
 
Mas um morador da própria Constante Sodré levantou um questionamento procedente: uma ciclovia ali poderia demandar a instalação de semáforo no cruzamento com a Avenida Nossa Senhora da Penha e alertou também para o tráfego intenso provocado por uma escola particular localizada na rua.
 
Engenheiro civil e membro do Conselho do Plano Diretor Urbano (CMPDU), Luiz Carlos Menezes apresentou um projeto que ele elaborou para preservar as vagas de estacionamento no trecho da Praia do Canto. Mas, na hora, os técnicos da prefeitura  a princípio apontaram problemas de ordem de engenharia e ambiental.
 
Primeiro, o projeto não respeita a norma técnica de 1,50 metro de pista de ciclovia (propõe 1,40 metro). Segundo, propõe a retirada de 40 centímetros de duas faces das golas de árvores do canteiro central. Tal medida exigiria intervir nas raízes de árvores muito antigas – oitis cujas raízes se estendem tanto para os lados quanto para dentro do solo – o que portanto poderia comprometer a estabilidade das mesmas.
 
Um morador defendeu o projeto, mas questionou por que a ciclovia não pode ser instalada de forma paralela às calçadas. A prefeitura explicou que as normas técnicas estabelecem que faixas instaladas junto à calçada devem ter no mínimo 2,30 metros de largura. Ali cada vaga de estacionamento tem 2 metros. Seria necessário, então, remover cerca de 20 centímetros de calçada, o que significaria o sacrifício de 17 árvores e o deslocamento de postes de iluminação.
 
Como ainda não tem dinheiro para as obras e não obteve amplo consenso em torno do projeto que defende, a Prefeitura de Vitória prometeu analisar as propostas do engenheiro Luiz Carlos Menezes e de implantação da ciclovia na Constante Sodré.

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