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Documentário apresenta histórias de quem já esteve (ou está) envolvido com o crack

Desde o próprio nome até as peças de divulgação, Inferno se mostra impactante. O impacto é, além de uma expectativa do público, um dos sentimento que rondou Thiago Moulin, realizador da obra, como conta. “Eu já esperava que esses temas como cotas, vida na periferia e ressocialização entrassem no documentário, pois sempre soube que o crack não era um problema de polícia como muitos acreditam, é uma questão social que envolve diversos outros fatores- e esse é o grande problema da recuperação do usuário. Então, eu sabia que iria lidar com realidades muito extremas e que entraríamos sim nos problemas sociais. O que eu não esperava era achar uma personagem falando de forma tão eloquente sobre tudo isso. E essa mulher do teaser (vídeo acima) que fala sobre esses temas nem sequer se apresentou como usuária de crack”. 
 
Inferno será lançado na próxima quinta-feira (25), às 19h30, no Cine Jardins, em Jardim da Penha, Vitória, com exibição gratuita ao público e, inclusive, a presença de alguns dos personagens que integram o documentário.  Thiago Moulin é o diretor que esteve, desde 2011, no processo de aprovação do filme por um edital de incentivo da Secretaria de Cultura do Espírito Santo (Secult). Foram quatro anos adaptando e amadurecendo o projeto de Inferno para ser aprovado na fase de defesa oral do documentário. De acordo com ele o tempo foi até, de certa forma, positivo, já que teve tempo de construir e refletir sobre  a estrutura do filme. 
 
Na fase de produção, Thiago e a equipe técnica ficaram um mês acompanhando os personagens no Centro de Vitória, especificamente na Vila Rubim. No corte final entraram quatro personagens, além da fala de diversas pessoas, como a senhora acima, presente no teaser. Questionado sobre o porquê de escolher o tema do crack para trabalhar em um documentário, Thiago apresenta três motivações. 
 
“Primeiro porque sempre morei no Centro e, quando criança, presenciei muitas mudanças no local. Lembro de cenas que me assustavam muito, como os usuários de crack, o aspecto daquelas pessoas causava medo. O segundo motivo foi um grande amigo, o Felipe, que é personagem do documentário, que se envolveu com o crack e teve problemas sérios. Eu pude acompanhar de perto os altos e baixos dele. E o terceiro argumento é que eu tive problemas com maconha. A maconha é, de fato, uma droga dita leve, eu também não a considero pesada, mas a relação de cada pessoa com qualquer tipo de droga, é individual – seja leve ou pesada ela pode não te causar nada ou levar ao fundo do poço. Passei a me preocupar quando percebi que havia parado a minha vida por causa da maconha. Eu usava ela com os mesmos mecanismos de fuga da realidade que o meu amigo envolvido com crack usava. A lógica era igual”, detalhou ele. 
 
 
Um dos personagens de Inferno é Felipe, como já citado por Moulin, um jovem de boa condição financeira e que, para Thiago, foge do perfil físico e social que a sociedade julga ‘condizente’ para se envolver com o crack. Na outra ponta está Rodrigo, um catador de papelão da Vila Rubim. “Nossa equipe foi para a rua, colocamos uma mesa com papel, caneta, tinta, lapis, pincéis e deixamos em aberto para abordarmos os moradores de rua da Vila Rubim. Eu abordava as pessoas, explicava o projeto e perguntava se elas queriam participar. A atividade da pintura vinha como um recurso estético para quem não  queria mostrar o rosto e, como forma de deixar mais a vontade, de fazer as pessoas conversar mais espontaneamente, enquanto pintavam. Foi dessa forma que conheci o Rodrigo – ele foi um dos que quis mostrar o rosto, contar da vida”, explica Moulin
 
Outro personagem é Genilton, um rapaz que passou por um clínica de reabilitação em Cariacica; tem um salão de beleza no Centro; e foi indicado pela clínica. Já o Leandro, último personagem, surgiu para Thiago em meio a pesquisa de produção, segundo Thiago. “Ele trabalhava num Centro de Recuperação e era por si só um personagem muito complexo. Estava ‘limpo’ há pouco tempo e mantinha o trabalho de recuperar pessoas e ir nas bocas de fumo como forma de se reafirmar estando salvo daquela condição de dependente químico. Lembro-me de uma situação em que ele falou que precisava de motivações para não voltar ao crack”. 
 
Inferno, inicialmente, terá o lançamento somente no Cine Jardins, mas Thiago Moulin adiantou que escolas, instituições e locais interessados em realizar sessão de exibição do documentário, podem entrar em contato com ele, por meio do site oficial do filme, para articular a atividade. Por enquanto, Inferno não será disponibilizado na internet devido a entrada do filme em circuitos de festivais, mas Thiago coloca o prazo de cerca de um ano para que a obras seja colocada inteira na internet. 
 
Serviço
O lançamento de Inferno, documentário de Thiago Moulin, será realizado na próxima quinta-feira (25), às 19h30, no Cine Jardins – Rua Carlos Eduardo Monteiro de Lemos, 262, Jardim da Penha, Vitória. A entrada é gratuita. 

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