“A mentira é construída e a verdade existe”, disse o juiz aposentado Antônio Leopoldo, na acareação feita pela CPI da Sonegação Fiscal da Assembleia Legislativa, na manhã desta terça-feira (30). Para ele, apenas a federalização do caso Alexandre Martins será capaz de restabelecer a verdade sobre o que aconteceu.
Leopoldo citou um trecho da coluna Praça Oito, do jornal A Gazeta, do dia 27 de março de 2005, escrita pela jornalista Andréia Lopes, hoje superintendente de Comunicação do Estado. Na coluna, a jornalista afirma que a prisão de Leopoldo teria sido para dar uma resposta à população, diante da lentidão das apurações, e para evitar a federalização do caso. Há um pedido de federalização de 2011, apresentado pela militante de direitos humanos, Maria das Graças Nacort.
O juiz aposentado afirmou que nunca pensou em tirar a vida de um semelhante, reafirmou que não tinha problemas de relacionamento com o juiz assassinado, e manteve a declaração de que havia uma movimentação à época para que ele saísse do País. Os membros da CPI pediram uma acareação entre Leopoldo, o delegado Danilo Bahiense, o advogado Beline Sales Ramos e o ex-senador Xyko Pneus, porque houve divergências nos depoimentos anteriores prestados por eles à CPI.
Leopoldo afirmou que nunca conversou com Beline sobre o assunto, mas que sua mulher, Rosilene, havia conversado com o ex-senador, que tinha sempre a companhia do advogado. Beline afirmou que não participou de qualquer conversa sobre o assunto e afirmou desconhecer a informação de que ele e Xyko Pneus estariam dispostos a dar dinheiro para a saída do juiz aposentado, a pedido do desembargador Pedro Valls Feu Rosa. Em seu depoimento anterior, o ex-senador rechaçou, porém, a hipótese de participação do ex-presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Pedro Valls Feu Rosa, na tentativa de incriminar Leopoldo na trama.
Em seu depoimento anterior na CPI, Beline negou fatos apresentados pelo deputado Thedorico Ferraço (DEM), de que ele tinha ligação com Pedro Valls. Beline (foto à direita) apenas confirmou o envolvimento de Pedro Valls com o software oferecido ao poder público pelo empresário e ex-suplente de senador Xyko Pneus. Segundo ele, o empresário informou que Pedro Valls seria o idealizador do programa de computador voltado à informatização do sistema prisional. Beline afirmou que seu filho o teria procurado sobre o eventual interesse de investimento no negócio, mas que “não houve interesse político” na aquisição do Libertec pelos órgãos públicos.
Xyko Pneus (foto à esquerda) afirmou que sua participação no caso Alexandre Martins foi apenas no sentido de apoiar Leopoldo, na posição de amigo e então senador, para proteger a família do ex-juiz. Leopoldo apresentou à CPI uma notícia publicada no jornal A Gazeta de 20 de junho de 2005, em que o desembargador afirmaria que haveria um acordo entre Beline e Xyko Pneus para transformar Leopoldo em “réu colaborador”.
Já o delegado Danilo Bahiense disse que não responderiam às perguntas dos deputados para não ser desqualificado como testemunha do júri, para o qual já foi intimado. Mas disse que posteriormente ao julgamento poderá falar sobre várias situações ocorridas durante as apurações. O delegado disse, porém, que estava ouvindo pela primeira vez a gravação da ligação que a mulher do juiz fez para Beline e Xyko, denunciando que Antonio Leopoldo havia sido retirado do quartel da PM de madrugada e estava em local incerto.
Ele afirmou ainda que estava à disposição do desembargador Pedro Valls Feu Rosa, que presidia o inquérito da morte de Alexandre, e que conduziu o juiz Leopoldo em diferentes ocasiões, inclusive de noite, para levá-lo ao encontro do magistrado. E garantiu que todas as saídas do quartel da PM em Maruípe foram, devidamente, registradas. Documento oficial enviado pela corporação à CPI, entretanto, informa que em nenhum momento o juiz deixou as instalações do quartel, durante o período em que lá esteve preso.
O deputado Enivaldo dos Anjos (PSD) questionou o delegado sobre o fato de o desembargador presidir o inquérito. Bahiense respondeu que este é o procedimento quando as investigações envolvem magistrados.
Para próxima reunião da Comissão, o relator da CPI, deputado Cacau Lorenzoni (PP), sugeriu a convocação de dois gerentes de tributação da Petrobras, Pedro Fonseca e Eleandro Eloi. Já o deputado Guerino Zanon (PMDB) sugeriu a convocação da advogada Clenir Avanza, que presidia uma Organização Não-Governamental organizadora de uma campanha de combate à corrupção eleitoral na gestão do desembargador Pedro Valls Feu Rosa no Tribunal Regional Eleitoral.