A apresentação do Plano de Uso e Ocupação da Enseada do Suá, no entorno do Shopping Vitória, foi marcada por forte resistência ao projeto pela população que compareceu à audiência pública na noite dessa terça-feira (13), no Cinemark, em Vitória. Contundentes, moradores da região apresentaram legislações, contestaram a dimensão do empreendimento e, sobretudo, deixaram claro que no futuro almejado para a região não estão previstos nem os prédios nem a expansão do atual shopping.
De acordo com a atual legislação, segundo o secretário de Desenvolvimento de Vitória, Kleber Frizzera, a área onde o Shopping Vitória pretende expandir e construir outras edificações multidisciplinares é uma Zona Especial e, assim como outras oito áreas na Capital, deve ter seu zoneamento definido pelo proprietário, no caso o Grupo Buaiz.
Para isso, entretanto, é necessário a realização de um Termo de Referência com dados sobre a acessibilidade da área, plano de ocupação global, compatibilização da ocupação, entre outros pontos que não dimensionam qual será o impacto real do empreendimento.
Mas embora tenha planos de construir três prédios residenciais, dois comerciais, um flat, um hotel e ainda expandir o shopping, os empresários e a prefeitura não apresentaram dados sobre o aumento de veículos na região em 20 anos (período previsto para a conclusão das obras). Consequentemente, as soluções apresentadas para o inchaço populacional e os problemas que poderão surgir com a mobilidade são ilustrativas e, conforme apontado pelos participantes da audiência, não garantem o sucesso do projeto conforme defendido pelo empreendedor.
O empresário Américo Buaiz Filho ressaltou que a proposta atende aos desejos da população. Os mais de 250 participantes da audiência, porém, demonstraram não concordar com tal afirmação.
Declaradamente contrários a forma com que o empreendimento foi proposto tanto pela prefeitura como pelo empreendedor, as críticas vão desde a privatização da paisagem na região à questão da mobilidade urbana, cujas soluções estão baseadas em dados atuais e não no incremento que o empreendimento irá gerar em 20 anos.
Os moradores da Capital reclamaram da falta de números, de material disponível na internet para a consulta da população, conforme exigido por lei, e alertaram: trata-se de um projeto norteando uma cidade, ao invés do contrário.
Segundo o professor PhD graduado em Economia pela Universidade Federal do Estado (Ufes), Arlindo Villaschi, a atual administração de Vitória, ao encorajar o empreendimento, está confundindo desenvolvimento com construção civil. “O empreendedor defender que seu projeto é legitimo, assim como também é legítimo que o escritório contratado defenda seu projeto, mas é ilegítima a postura de defesa do secretário Kleber Frizzera”, disse ele, criticando a falta de parecer técnico e dados que respaldassem a população no debate.
A não divulgação do projeto com tempo hábil para análise também foi apontada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Segundo a superintendente do Iphan no Estado, Diva Maria Freire Figueiredo, o órgão está preocupado em fazer uma boa análise sobre os impactos do projeto, porém, recebeu o mesmo apenas seis dias antes da audiência.
Outro ponto apontado sobre o projeto é a escalonagem do projeto. Ao projetar a construção de seus edifícios em 20 anos, os participantes da audiência pontuaram também a falta de controle dos impactos, visto que não será feito um estudo conjunto, e sim um para cada fase do projeto.
“Apesar de se apresentar como um projetado há longo prazo e distinto por estudos para cada fase da obra, o que se viu é que todo o projeto está praticamente aprovado sem mesmo haver contado o que isso representará ao todo”, afirmou o professor da Ufes, Roberto Simões.
Representantes das comunidades do entorno ressaltaram o risco de escalonar o projeto: “o impacto de colocar todos os instrumentos em um só local só será sentido em 20 anos, quando tudo estiver pronto”.
Ao nortear alterações na cidade, o projeto foi duramente criticado por prever infraestrutura a reboque, quando o considerado sensato pelos participantes é que essas questões deveriam preceder o projeto, o que não ocorreu mesmo com a presença do secretário Kleber Frizzera e do secretário de Estado de Transportes, Fábio Damaceno, também presente durante toda a audiência pública.
Ao final do encontro, os participantes exigiram uma nova audiência pública, mas na próxima vez, com o parecer técnico da prefeitura e do Iphan, com dados
concretos sobre os impactos que serão gerados pelo empreendimento a médio e longo prazo, além da divulgação por parte do poder público de instrumentos para minimizar e até impedir o empreendimento.
“A proposta é que no mínimo a nova administração discuta o projeto, porque é dentro do futuro que a população deseja que deve ser enquadrado todo e qualquer projeto nesta cidade”, disse Arlindo Villaschi.