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Para sociólogo, manifestação não é popular, mas é legítima

Os alunos do curso de Marketing e de pós-graduação em Sociologia Política da Universidade de Vila Velha (UVV) foram para as ruas no último domingo (16) não para engrossar o coro que pede a saída da presidente Dilma, mas com a missão de traçar o perfil e a percepção dos manifestantes capixabas que tomaram a Praça do Papa, em Vitória.
Segundo o professor de Sociologia Vitor Amorim de Angelo, um dos coordenadores da pesquisa, a iniciativa de conhecer o perfil do manifestante foi inspirada na experiência de universidades de outros estados, que fizeram levantamentos em protestos ocorridos no primeiro semestre em outras capitais.
Angelo esclareceu que a pesquisa é uma atividade acadêmica de extensão, apartidária, com o exclusivo objetivo de produzir um material de estudo para todos aqueles têm interesse de entender as manifestações. “Nosso compromisso era fazer uma pesquisa séria. Não tínhamos o compromisso de traçar este ou aquele perfil”. Ele acrescentou que a UVV não foi contratada por nenhuma organização política ou partido. O estudo, segundo o professor, foi financiado pelo suporte institucional da universidade e contou com o apoio técnico da Merccato Inteligência Competitiva. 
O sociólogo quis dar uma resposta aos internautas que foram para as redes sociais questionar a confiabilidade da pesquisa.
“Eu estava lá e vi as pesquisadoras da UVV. A pesquisa foi tendenciosa. Eu passei por elas várias vezes e não fui parada”, queixou-se uma internauta. 
O professor disse que esse argumento é anticientífico para questionar a pesquisa. Angelo disse que os 55 entrevistadores foram treinados para fazer as abordagens a partir de critérios técnicos. “A instrução passada era para que o pesquisador não abordasse três pessoas juntas, porque provavelmente as respostas podem sofrer influência. A orientação era para escolher apenas uma do grupo”.
Elite
Seguramente, a maior polêmica em torno da pesquisa foi com relação ao perfil do manifestante. O estudo apurou que o perfil médio do manifestante é o seguinte: capixaba, homem, casado, funcionário de empresa privada ou empresário, tem mais de 40 anos, renda familiar superior a R$ 8 mil, ensino superior e mora em bairros nobres de Vitória e é conservador. 
O fato de a pesquisa, assim como os levantamentos feitos em outras capitais brasileiras, ter apurado que o manifestante capixaba, na sua maioria, pertence à elite, irritou muitos internautas, que interpretaram a classificação como um “rótulo” para tirar o brilho da manifestação. 
“Entao, pessoas comuns são proibidos de manifestação? São tendenciosos estas afirmações, que visa segregar classes sociais. Sou cidadão, e quero que respeite o meu direito de manifestar contra impunidade e corrupção que assola o meu Brasil”, desabafou um leitor de Século Diário. 
Outra leitora reclamou, em tom de deboche: “KKKKK. DE NOVO A IDEIA DE QUE A REPROVAÇÃO À DILLMA, LULLA E AO PT É COISA “DAZELITE. ATÉ EM TERRA VERMELHA O POVO JÁ NÃO SUPORTA MAIS A PTZADA”. 
“A manifestação não é popular, mas é legítima. Esse grupo que vai à manifestação e ganha mais que R$ 8 mil é a minoria da população brasileira. É uma pequena fração, uma elite”, afirmou o sociólogo, que repetiu que isso não tira a importância do protesto.
Vitória X Vila Velha
Alguns internautas também questionaram o fato de a pesquisa ter constatado que havia mais participantes de Vitória do que de Vila Velha.
“Pela pesquisa, os manifestantes que moram em bairros nobres de Vitória foram até Vila Velha só para cruzar a ponte no início do protesto e tornar a cruzá-la a pé no final. À noite, pagaram pedágio e voltaram de carro para Vitória”, ironizou um internauta.
Como a concentração estava programada para a Praça do Papa, os coordenadores da pesquisa dividiram o espaço em quadrantes para distribuir as equipes de pesquisa. O sociólogo tem uma tese plausível para explicar o número inferior de participantes de Vila Velha na pesquisa. Ele disse que de fato o número de pessoas que se observava sobre a Terceira Ponte era grande. Mas nem todos chegavam à rua que dá acesso à Praça do Papa. “Boa parte dos manifestantes fazia a travessia da ponte, chegava até as cabines de pedágio e retornava para Vila Velha”. 
O professor explicou que muitos já se sentiam participando da manifestação fazendo a travessia da ponte. Havia também, segundo ele, aqueles que queriam apenas experimentar a sensação da travessia, que é proibida, para contemplar a vista e tirar fotos.

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