José Rabelo e Nerter Samora
Como esperado, o assassino confesso do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, Odessi Martins da Silva Júnior, o Lumbrigão, reafirmou que o crime foi um latrocínio, assalto seguido de morte.
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Em seu depoimento, Lumbrigão disse que foi torturado no prédio da Secretária de Segurança. A sessão de tortura durou cerca de 10 horas. Lumbrigão contou que pelo menos quatro policiais o espancaram ininterruptamente. Ele disse ao juiz que não pôde identificar os policiais agressores porque os mesmos estavam encapuzados. Lumbrigão esclareceu, porém, que o delegado Danilo Bahiense estava no comando do “interrogatório”.
De acordo com Lumbrigão, a tortura era feita da seguinte maneira. Os policiais cobriam sua cabeça com um saco plástico até deixá-lo sem ar, e repetiam a pergunta que caracterizava o mando. Enquanto estava sendo sufocado, sem ar, Lumbrigão confessava o mando. Quando os policiais tiravam o saco e pediam para ele confessar novamente, o criminoso tornava a repetir que foi um assalto frustrado
Os policiais-torturadores queriam que o depoimento de Lumbrigão, confirmando a versão de mando, saísse limpo para ser gravado e anexado ao inquérito policial. No final das contas, a polícia conseguia gravar as fitas com o depoimento forjado. O áudio, visivelmente editado, acabou se transformando em peças do inquérito.
Lumbrigão relatou ao juiz que depois da sessão de tortura foi conduzido ao Departamento de Homicídios Proteção à Pessoa (DHPP). Ao chegar ao local, o assassino do juiz teria se deparado com um procurador, a quem denunciou que havia sofrido tortura.
O procurador, ao confirmar marcas de espancamento no abdômen e na cabeça da vítima, exigiu que os policiais o levassem para ser submetido ao exame de corpo delito, que não havia sido realizado até aquele momento.
Lumbrigão contou ao juiz sobre os detalhes do crime que tirou a vida do juiz. Disse que na manhã do dia 24 de março de 2003, teria saído juntamente com Giliarde Ferreira de Souza, numa moto emprestada de um colega, para assaltar um posto de combustível. O plano para assaltar o posto acabou sendo abortado porque havia uma viatura da PM circulando pelo local. Os dois comparsas partiram para o plano “B”, que era assaltar uma caminhonete preta. A alguns quarteirões do posto, avistaram a caminhonete prata do juiz, que estava abrindo a porta para descer do carro, e decidiram assaltá-lo.
No momento da abordagem Lumbrigão pilotava a moto e Giliarde, na garupa, desceu para render Alexandre, que estava saindo do veículo. Ao notar a ação dos bandidos, o juiz sacou sua pistola e passou a trocar tiros com Giliarde no meio da rua.
Alexandre acabou sendo baleado e caiu, mas, segundo Lumbrigão, ainda se mexia. Foi quando ele se aproximou e atirou no braço do juiz. Em seguida, os bandidos levaram a pistola do juiz e deixaram a caminhonete, que seria o motivo do assalto, para trás.
Após o crime, os dois fugiram para a casa de Giliarde. No local, encontraram com André Luiz Tavares, o Yoshito, dono da moto (com chapa legal) usada no crime — a identificação do veículo facilitou a localização dos criminosos.
Lumbrigão, ao perceber que a arma do juiz tinha um brasão da PM, deduziu que a vítima seria um policial. Ele disse ainda que só ficou sabendo que matara um juiz pelo noticiário da TV. Lumbrigão admitiu que ficou surpreso quando soube que o comparsa, Giliarde, fora preso no mesmo dia do crime.
Na sequência do júri, Lumbrigão deve responder as perguntas da defesa e da acusação. Os jurados também poderão inquiri-lo.