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Inventar versão de mando foi saída para cessar tortura

José Rabelo e Nerter Samora

Na segunda parte do seu depoimento, Odessi Martins da Silva Júnior, o Lumbrigão — assassino confesso do juiz Alexandre Martins de Castro Filho—, explicou que foi obrigado a “inventar” uma versão para o crime de mando, porque não aguentava mais a sessão de tortura comandada pelo delegado Danilo Bahiense e executado por quatro policiais durante mais de 10 horas. 

Na primeira parte do depoimento, pela manhã, Lumbrigão já havia contado ao juiz Marcelo Soares Cunha os detalhes da sessão de tortura, na sequência do depoimento, à tarde, ele afirmou que a única saída para parar de apanhar era admitir a versão de mando, que seus interrogadores exigiam na base da violência.
 
A história inventado por Lumbrigão e aceita pela polícia e depois Justiça, porém, é um tanto mirabolante. Lumbrigão tinha ficado preso até o dia 12 de março de 2003 — 12 dias antes do crime do juiz Alexandre — por ter roubado uma moto. 
 
Quando saiu da prisão, disse que comprou um celular usado que pertencia a um rapaz cujo apelido era Dudu. Uma pessoa teria ligado no celular à procura de Dudu, mas foi Lumbrigão que atendeu. O interlocutor disse que tinha um trabalho para Dudu. Lumbrigão, curioso, quis saber qual era o serviço. O interlocutor disse que era uma “coisa grande”. Lumbrigão se interessou e combinou de se encontrar com o autor da ligação em frente ao Tancredão
 
O interlocutor queria encomendar com Dudu, agora com Lumbrigão, um assassinato. Pagaria R$ 15 mil pelo serviço. Lumbrigão teria recebido R$ 1 mil adiantado, que usaria para comprar a arma, que seria usada na execução. 
 
Somente no domingo (23/03/2003), véspera do crime, é que o “pistoleiro” receberia as coordenadas para fazer a execução. Ele então teria chamado o colega Giliarde para participar da empreitada. 
 
Na manhã do crime (24/03/2003), Lumbrigão iria direto para o local onde o juiz seria morto. Giiarde daria o primeiro tiro, e ele o segundo, de “misericórdia”, no braço do juiz. 
 
O depoimento foi gravado, a sessão de tortura encerrada e Lumbrigão foi levado da sede da Secretaria de Segurança para a Delegacia de Homicídios Proteção à Pessoa (DHPP). 
 
Já na delegacia, Bahiense insistiu que Lumbrigão revelasse os nomes dos mandantes. Ele afirmou perante o juiz Marcelo Soares Cunha que, apesar da versão mentirosa para o crime, nunca citou o nome do coronel Ferreira ou de Cláudio Luiz Andrade Batista, o Calú, como mandantes. Ele acrescentou que só conhecia o coronel Ferreira por meio da mídia. Calú ele não conhecia nem pelos jornais. 
 
Lumbrigão disse que na DHPP desmentiu a versão falsa que inventara para cessar as torturas, mas o delegado Danilo Bahiense ignorou suas justificativas e fez constar no inquérito a confissão forjada que sacramentaria a tese de mando. 
 
Lumbrigão destacou no seu depoimento, que durou mais de seis horas, que foi submetido por duas vezes ao detector de mentiras. Nas duas avaliações a máquina confirmou que ele falara a verdade quando afirmou que o crime foi um latrocínio, assalto seguido de morte.

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