José Rabelo e Nerter Samora
O depoimento do coronel Walter Gomes Ferreira, réu no júri da morte do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, durou quase cinco horas. Começou às 9h35 deste sábado e acabou às 14h21. O juiz explicou ao réu que ele tinha o direito de não aceitar ser interrogado. E, caso concordasse, não era obrigado a responder a todas as perguntas, sem prejuízo para sua defesa. Ferreira, porém, não se recusou a responder as perguntas da acusação. Quando chegou ao júri ele já havia afirmado à imprensa que não tinha nada a esconder e que iria responder a todas as perguntas.
O juiz Marcelo Soares Cunha, que preside o júri, depois de ler a denúncia do Ministério Público, que acusa o coronel como mandante do crime, perguntou: “O senhor mandou matar o juiz Alexandre Martins?” A resposta foi convicta: “Não mandei matar o juiz Alexandre”.
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Ferreira afirmou que a tese de mando foi uma farsa armada pelo então secretário de Segurança Rodney Miranda, o juiz Carlos Eduardo Ribeiro Lemos e delegados Danilo Bahiense, André Cunha, Germano Pedroso e Aéliston Azevedo.
O coronel Ferreira afirmou que não mantinha relação com os dois sargentos da PM – Heber Valêncio e Ranilson Alves da Silva – acusados de serem os intermediários do crime. Disse que conheceu Valêncio no curso de formação da PM. E que conhecia Ranilson apenas de vista, também em atividades da PM.
Ferreira admitiu ter conhecido o juiz Antônio Leopoldo, também acusado de ser um dos mandantes da morte do juiz, em Pancas, cidade natal do magistrado. Ele disse que assumiu a delegacia de Itarana e as vezes viajava para Pancas. Ele teria estado com Leopoldo em solenidades da PM na cidade.
O coronel Ferreira contou que conheceu Calú, ainda menino, por causa do pai, Floriano Baptista, que também é coronel da PM. Ferreira diz que costumava ver Calú empinando pipa na área do Quartel de Maruípe. A família morava atrás da área da corporação.
Disse que depois voltou a revê-lo quando ele entrou para a polícia. Ele, porém, negou que visitasse Calú em seu escritório de advocacia. Disse ainda que a última vez que reviu Calú foi na casa de Bibinha Alcure. Ferreira disse que foi chamado pela família para recomendar um advogado para cuidar de questões de herança, mas chegando lá soube que a família já havia procurado o escritório do advogado José Maria Gagno (o filho de Gagno, Leonardo, é o advogado de Calú no júri do Caso Alexandre). Calú, que era estagiário em direito, estaria na casa de Bibinha provavelmente representando o escritório de Gagno.
Ferreira, que disse ser produtor rural, explicou ainda que vendeu um gado a Calú. Mas que o negócio foi feito por um funcionário de Calú, que tem propriedade na mesma região que ele.
Algemas
O coronel Ferreira negou que tenha sido algemado pelo juiz Alexandre Martins na ocasião em que foi transferido do Quartel de Maruípe para o presídio de segurança em Rio Branco, no Acre.
O delegado Danilo Bahiense, em seu depoimento ao júri do juiz Alexandre, na última terça-feira (25), afirmou categoricamente que o juiz Alexandre teria assinado sua sentença de morte ao decidir algemar Ferreira na frente das câmeras. Na tese de Bahiense, o coronel teria decidido se vingar do juiz por se sentir humilhado.
Na quarta (26), Século Diário publicou com exclusividade a versão do então comandante geral da PM, coronel Carlos Carvalho Loureiro, que coordenou a transferência de Ferreira.
Carvalho disse que Bahiense mentiu e confirmou que Ferreira em nenhum momento foi algemado.
Telefonemas
Ferreira teve de explicar os telefonemas que teria feito ligações de dentro do presídio de segurança máxima, no Acre, para o Espírito Santo. Por meio das ligações, de acordo com a acusação, Ferreira estaria armando seus crimes.
O coronel admitiu que fez as ligações. Disse que falou algumas vezes com seu advogado, no Acre, e com familiares no Espírito Santo. Ele explicou que o telefone público do presídio, que era grampeado, era liberado para uso dos internos das 6h00 às 22h00.
Crimes
Durante seu longo depoimento, o coronel Ferreira negou todas as acusações da Promotoria sobre crimes que ele teria envolvimento . Ele explicou a relação que tinha com as vítimas e supostos envolvidos nos crimes.
Um dos casos citados foi o de Manoel Correia Filho. O detento foi transferido para Colatina e acabou sendo morto dentro do presídio. Correia, à época, denunciou à Polícia Federal, segundo a acusação, que Ferreira tinha planos para matar juízes e promotores.
Ferreira explicou que não tinha relação de amizade com Correia, mas o conhecia o pai dele, que era militar. O coronel contou que a família de Correia tinha duas áreas em Cariacica, próximas à rodovia do Contorno. Ferreira disse que era amigo dos proprietários da empresa Marca Ambiental, que tinham interesse na área, e quis apenas pôr as duas partes em contato. Ele diz que cada um dos terrenos foi vendido por R$ 250 mil, e que o corretor teria levado R$ 50 mil de comissão pelas vendas. Mas depois Correia passou a insinuar que ele, Ferreira, teria levado os R$ 50 mil. Essa seria, segundo o coronel, uma das explicações para Correia inventar a história sobre suas pretensões de tramar as mortes de juízes e promotores.
Revoltado com a negociação, Manoel Correia prometera, segundo Ferreira, matar os donos da Marca Ambiental. O coronel teria então acionado o delegado Gilson Lopes (hoje deputado estadual), que prendeu Correia com armamentos pesados.
Ele respondeu as perguntas da acusação sobre outros crimes. Para quem não conhece cada um dos casos, as explicações se tornam confusas, porque estão relacionadas a diversos personagens e situações distintas.
Sobre a grande quantidade de crimes que é acusado de estar envolvido, o coronel justificou. “Na PM ninguém pode se destacar”. Ele disse que sempre foi linha dura, e que as pessoas queriam jogar as coisas para cima dele para ganhar Ibope.