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Calú confirma ligação com acusados, mas nega participação no assassinato do juiz

Durante pouco mais de seis horas, o ex-policial civil e hoje empresário Cláudio Luiz Andrade Batista, o Calú, prestou depoimento no sexto dia do júri popular da morte do juiz Alexandre Martins de Castro Filho. Bastante emocionado, o acusado negou qualquer participação na morte do juiz da Vara de Execuções Penais, ocorrida em março de 2003. Calú confirmou sua atuação na cobrança de dívidas até o ano de 2001, citando até mesmo episódios com a participação de suspeitas na trama do crime de mando, mas afastou qualquer ligação com o assassinato do magistrado.

Nas quatro horas iniciais do interrogatório nesse sábado (29), o empresário respondeu aos questionamentos feitos pelo juiz Marcelo Soares Cunha, que preside o julgamento. Calú foi confrontado com seis depoimentos prestados por ele ao longo do processo que apurou a morte do juiz Alexandre. Ele confirmou que atuou na cobrança de dívidas no período em que esteve no escritório do advogado José Maria Ramos Gagno e relatou episódios de “negociações” que tiveram em alguns casos a participação do juiz aposentado Antônio Leopoldo Teixeira e o coronel reformado da Polícia Militar, Walter Gomes Ferreira, que também são acusados de mando do crime.

 
 
 
 
Vale ressaltar que a denúncia do Ministério Público Estadual (MPES) narra esses episódios na tentativa de ligar a autoria intelectual do assassinato ao trio, mesmo sem citar um evento concreto em que eles teriam tramado de fato a morte do juiz Alexandre. Calú afirmou que disse toda a verdade e que nunca houve qualquer tipo de articulação para matar Alexandre, de quem seria amigo.

Tanto que o empresário citou que foi procurado pelo próprio Alexandre, que deu aula para o acusado no curso de Direito na faculdade Fadic antes de ingressar na magistratura, em troca de um “favor”. O juiz morto teria procurado Calú para cobrir a dívida do empresário João Malini, dono de uma revendedora de veículos, que havia adquirido um carro esportivo de Alexandre e dado um cheque sem fundo. Esse tipo de favor a amigos seria a explicação para a ligação de Calú com diversas autoridades do Estado.

Em três situações, as negociações tiveram a participação de Leopoldo, que faria jus a uma compensação financeira – uma espécie de comissão – em troca da indicação pelos serviços. No primeiro caso, Calú contou que foi procurado por Leopoldo para resolver um problema com o cunhado, sócios de uma pedreira de mármore e granito, sobre a herança de sua mulher. Eles também participaram das negociações da venda de um posto de gasolina na Serra – que acabou frustrada – e do acerto sobre a massa falida da Sessal, que rendeu uma comissão de R$ 50 mil, paga pelo acusado ao juiz aposentado.

Sobre as negociações que constam na denúncia do caso, Calú destacou que os fatos ocorreram até o ano de 2001, ou seja, dois anos antes da morte de Alexandre. No dia 24 de março de 2003, quando o juiz foi abatido a tiros na frente de uma academia de ginástica, em Itapoã, Vila Velha, o empresário e o coronel Ferreira estavam presos – o primeiro na Delegacia da Praia do Canto, em Vitória, por suspeita de extorsão a uma dupla sertaneja; e o segundo recolhido no presídio federal da Papudinha, no estado do Acre.

Essa proximidade entre Calú e os dois juízes chegou a motivar uma tentativa de conciliação entre ambos bem antes do crime. Em seu relato, o empresário afirmou que tentou acabar com a briga entre Leopoldo e Alexandre que, segundo ele, seria uma “disputa de vaidades”.

Ele rechaçou as insinuações de que teria “livre trânsito” na Vara de Execuções Penais. O acusado citou um episódio em que intercedeu a favor de um preso, amigo do ex-sargento Heber Valêncio – que atuava junto com Calú nas cobranças. O pedido de arquivamento do caso em decorrência da prescrição de uma ação criminal foi inicialmente feita a Leopoldo, que não atendeu. A solicitação teria sido atendida pelo próprio juiz Alexandre.

Em relação à acusação de propriedade de um escritório de advocacia, Calú respondeu que, na verdade, atuou junto à banca de José Maria Gagno. Ele afirma que o escritório citado na denúncia do Ministério Público era da advogada Lorena Tardin, que atuou na mesma banca. Calú alegou que somente alugou a sala adquirida por ela por valor módico para não deixar o imóvel “parado” e arcar com as taxas de condomínio atrasadas.

O acusado revelou que o seu grande sonho era a carreira jurídica, mas teve que desistir após as dificuldades encontradas para obter o registro junto à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por conta dos processos que respondia da época em que era investigador da Polícia Civil, em que atuou entre 1987 e 1989, até ser demitido pelo bem do serviço público. A sua expulsão da Polícia Civil teria sido motivado por uma transgressão disciplinar.

Paralelamente, o empresário passou a dedicar maior parte de seu tempo à gestão de sua empresa de mineração, a partir de 2001, quando o negócio virou. Desde então, ele teria deixado o ramo de cobranças, além das antigas ligações – embora mantenha as amizades da época. Ele afirmou que Valêncio participava das cobranças como uma espécie de “bico” e que este contava com o auxílio do ex-sargento Ranílson Alves, ambos condenados como intermediários do crime do juiz Alexandre.

Ao longo de seu depoimento, Calú também se emocionou. Ele chorou pelo menos em três passagens do interrogatório, quando falou que foi preso pelo suposta extorsão – em que acabou sendo processado e, posteriormente, absolvido da acusação – e sobre o impacto do Caso Alexandre em sua família. Questionado por seus advogados sobre a forma em que se sentia, ele respondeu: “Indignado, triste e envergonhado com as acusações”.

Segundo ele, a inclusão de seu nome na trama do crime de mando teria sido arquitetada pelos delegados da Policia Civil, Danilo Bahiense e André Luiz Cunha – coincidentemente, os dois responsáveis pela prisão no caso do juiz e no inquérito sobre a extorsão. A perseguição seria motivada pelo fato dele “ser um ex-policial que passou a ganhar dinheiro”. Tanto que Calú afirmou ter se arrependido de apenas um acontecimento em toda sua vida: ter virado policial civil.

Ele também citou que vem sofrendo prejuízos com a denúncia por causa do juiz Carlos Eduardo Ribeiro Lemos. Calú afirmou que ouviu do promotor de Justiça, Florêncio Izidoro Herzog, que era o promotor responsável pelas primeiras investigações da morte do juiz, que foi praticamente forçado a assinar a denúncia contra ele. A pressão teria vindo do então chefe do GRCO (Grupo de Repressão ao Crime Organizado, órgão do Ministério Público), promotor Marcelo Lemos, que, segundo ele, seria primo de Carlos Eduardo.

Durante o encontro com o promotor, que teria ocorrido há poucos dias, Calú afirmou que Florêncio lhe disse que a divulgação do áudio de uma conversa gravada pela mãe do acusado com o promotor, em que declara que o crime foi um latrocínio (roubo seguido de morte), pode “acabar com sua carreira”. A defesa de Calú deve utilizar esse áudio durante o debate que marca a fase derradeira do júri popular.

Neste domingo (30), a acusação e a defesa dos réus – Calú e Coronel Ferreira – terão duas horas e meia para convencer os sete jurados que compõem o Conselho de Sentença sobre a predominância de suas teses. As regras do júri garantem ainda uma réplica do Ministério Público com duração de até duas horas, mesmo tanto para tréplica da defesa. Com isso, somente essa fase deverá durar cerca de nove horas. A previsão é de que o julgamento termine ainda no final da noite.

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