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Reluzente por fora e vazia por dentro

Assim que venceu a disputa ao governo, Paulo Hartung (PMDB) disse que estava “cheio de energia”, pronto para “chacoalhar o Espírito Santo”. Após dez meses de governo, e olhando para o Orçamento 2016, o que se vê é uma gestão estagnada, que tenta vender ilusões. 
Logo no início do governo, Hartung aproveitou o clima da crise nacional para preparar a população para o pior. O discurso do caos serviu tanto para justificar a política de austeridade extrema adotada pelo governo quanto para condenar a gestão do antecessor Renato Casagrande (PSB) — acusado de ter “quebrado o Estado”.
Mas após quase um ano com os investimentos reduzidos, paralisados ou simplesmente abortados, o governo precisava fazer algumas “entregas” à população. Afinal, muita gente continua aguardando, ansiosa, o grande “salto” prometido por Hartung
Sem ter o que entregar, a exemplo do que ocorreu nos seus dois primeiros mandatos, Hartung voltou a investir pesado na publicidade governamental. Com a imprensa corporativa na mão, fica mais fácil jogar luz nas principais vitrines do governo: Escola Viva, Cais das Artes, Hospital Geral de Cariacica e o recuo das taxas de homicídios. 
A estratégia é fazer a embalagem vazia reluzir e se manter em pé para convencer a população de que o governo, apesar da crise, vai concentrar “o pouco que tem” na área social — segmento mais negligenciado nos seus dois mandatos anteriores.
Reportagem publicada por Século Diário nesta quinta-feira (1) penetra nos dados do Orçamento 2016 e mostra que o “salto grandioso” é na verdade mais um engodo deste governo. O detalhamento dos recursos empenhados nas chamadas áreas essenciais (Segurança, Saúde e Educação) deixa claro que os investimentos reais nessas pastas são pífios. 
Na educação, por exemplo, área eleita como prioritária pelo governo, o orçamento prevê R$ 2,11 bilhões, porém, o total destinado a investimentos é de R$ 81,38 milhões, equivalente a 3,85% das verbas para o próximo ano. Pouco? Depende para quais pretensões. 
O recurso é mais que suficiente para alugar mais três prédios — e ainda ajudar os empresários-amigos que estão com imóveis encalhados —, dar uma boa maquiada na fachada e implantar três novas unidades do Escola Viva. 
Alguém irá perguntar: “Mas esse projeto sozinho dá uma resposta às demandas das mais de 500 ‘escolas chatas’ da rede pública estadual?” Claro que não. Mas isso também não importa. A prioridade é consolidar o Escola Viva como o principal projeto social deste governo. 
Na saúde não é diferente. Expor o Hospital Geral de Cariacica na vitrine é mais do que suficiente para confirmar o compromisso do governo com a área da saúde. Do orçamento total da pasta (R$ 2,43 bilhões), a previsão de investimentos é de R$ 209,3 milhões (8,58%), só o hospital vai levar R$ 191 milhões deste bolo, deixando muito pouco para melhorias no restante da rede pública hospitalar. O restante orçamento da Saúde é praticamente dividido entre gastos com pessoal (R$ 807,86 milhões, equivalente a 33,13% do total) e despesas de custeio (R$ 1,38 bilhão, 56,98%).
A área da segurança segue a mesma lógica, com uma vantagem, o trabalho duro — investimentos estruturais da área, como aumento do efetivo e modernização das polícias — já foi feito pelo governo anterior. Hartung só colhe os resultados que começam a cair no seu colo. 
O orçamento global da Segurança é de R$ 1,78 bilhão. No entanto, a parte destinada a novos investimentos é de pouco mais de R$ 53 milhões, equivalente a 3%. Os índices de homicídios em desaceleração dão uma condição confortável ao governo. Basta conferir os números. Em 2016, Hartung deve investir nas polícias Civil e Militar pouco mais de R$ 10 milhões. 
Fecha as atrações da vitrine o Cais das Artes. Elefante branco que se arrasta deste o segundo mandato de Hartung. O emaranhado de ferro e concreto inconcluso na Enseada do Suá, Vitória, que já engoliu milhões de reais e ainda envolveu Hartung e a primeira-dama no escândalo das passagens áreas para o Rio de Janeiro e São Paulo — denúncia que deu muito pano pra manga durante a campanha eleitoral de 2014 —, volta à cena como o mais novo projeto de inclusão social do governo. 
Hartung, que sempre sonhou em deixar uma grande legado cultural como marca de seu governo — característica inerente aos grandes ditadores —, não pensou duas vezes na hora de jogar o Cais das Artes na vitrine. Para justificar o investimento de mais R$ 25 milhões — praticamente metade do orçamento da Cultura —, Hartung assegura que o projeto vai servir prioritariamente os jovens de baixa renda das periferias da Grande Vitória. 
O argumento nobre, além de enfeitar a vitrine, contempla sua vaidade. 

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