Nos últimos dias, para oferecer uma resposta à população, o governo Paulo Hartung (PMDB) vem anunciado uma série de ações para combater a escassez hídrica, além de percorrer o Estado para visitas aos rios, que estão cada vez mais secos. Na contramão do discurso, porém, faz movimentos de incentivo aos plantios de eucalipto, que estão diretamente relacionados à questão.
Nesta segunda-feira (26), em matéria do jornal A Gazeta, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Expansão Rural (Incaper) manifestou o interesse em ampliar a área ocupada pelo eucalipto hoje no Estado, calculada pelo órgão como 250 mil hectares no total – entidades do campo dizem que já são 350 mil hectares, sem considerar os plantios dos próprios agricultores.
“Poderíamos ter o dobro da área plantada”, sinalizou o pesquisador do Incaper, Pedro Arlindo Oliveira Galveas, colocando como único empecilho para isso a “péssima infraestrutura das estradas”.
Além de ressaltar a rentabilidade do negócio e as facilidades dos plantios, o Incaper defende que o eucalipto consome pouca água, ao contrário do que comprovam estudos sobre o problema e os relatos das comunidades impactadas.
Segundo pesquisas já publicadas no Estado, a espécie é exótica consome 36,5 mil litros de água por ano quando adulta, com o agravante de os plantios serem feitos próximos aos manancias, inclusive nas áreas de recargas de água, que são os topos de morros e encostas, e aquíferos.
Principal beneficiada com os incentivos do governo para o setor, a Aracruz Celulose (Fibria) não só degradou de uma só vez 50 mil hectares de mata atlântica com seus primeiros plantios realizados ainda na ditadura militar, como secou córregos e rios. Há, ainda, a contaminação dos mananciais por agrotóxicos, amplamente utilizados na atividade.
Nos municípios que concentram a maior extensão desses plantios, São Mateus e Conceição da Barra, no norte do Estado, não há água nem para consumo dos moradores. Sem ter mais para onde se expandir na região, as cidades serranas também foram invadidas pelo eucalipto.
O incentivo à monocultura, que leva à exaustão dos recursos hídricos, à escassez do solo e ao desmatamento, se contrapõe às ações necessárias para solucionar o grave problema da água, que consiste exatamente em criar condições para plantios de espécies da mata atlântica no Estado. Esses plantios nativos têm desenvolvimento rápido e podem gerar receita em sistemas agrossilvipastoris – integração de lavoura, pecuária e floresta.
Para agravar ainda mais a situação, a Assembleia Legislativa aprovou, no último mês, o projeto (PL 344/2015) do governo Hartung que libera a expansão dos monocultivos no Estado, sem a exigência dos estudos de impacto ambiental (EIA). A flexibilização da legislação ambiental tem a intenção de favorecer a expansão de grandes empresas como a Aracruz Celulose e a Suzano Papel e Celulose.
A estratégia para garantir a expansão da monocultura do eucalipto no Estado será debatida nesta quarta-feira (28), às 8h30, em Colatina (noroeste do Estado), como parte das oficinas do Plano Estratégico da Agricultura Capixaba (Pedeag). O governo também quer garantir os plantios de seringueira.