Um ato com presença feminina quase absoluta, alguns homens, crianças e até bebês de colos. Houve quem levasse a bicicleta e quem preferiu ter as mãos desocupadas para levantar cartazes que estampavam frases como “nós que parimos, nós que decidimos”; ou ainda “nem do governo, nem do estuprador, o útero é meu!”, entre tantos outros que pediam pela legalização do aborto; pela saída do presidente da Câmara dos Deputados, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e pela queda do Projeto de Lei 5069/13, que tira de mulheres vítimas de violência o direito de ter acesso a medicamentos que previnem a gestação ou que a interrompam, caso se consolide.
Os pedidos das mulheres no trajeto – que saiu da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Goiabeiras, até Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), na Enseada do Suá – eram por respeito pelo corpo feminino. A liberdade sexual também foi pauta constante nos cantos que faziam questão de incluir os direitos de lésbicas, bissexuais e transexuais; além, claro, de intensa cantoria que alertava “se cuida seu machista, a América Latina vai ser toda feminista”.
Foram representantes de fóruns e o Coletivo Rua que guiaram a massa de mulheres no trajeto, orientando a não ocupar todas as vias e prezando pela organização nas decisões que envolviam as manifestantes – numa dessas, os grandes grupos de imprensa foram convidados a se retirar da manifestação e nenhuma das representantes do ato aceitaram conceder entrevistas, pedindo a democratização da mídia.
Ao sair de Jardim da Penha e adentrar na avenida Dante Michelini, uma ação e intervenções foram feitas em respeito ao caso Araceli – em que a menina de 8 anos, Araceli Cabrera Crespo, foi brutalmente violentada e assassinada por membros da família Michelini. Ao chegar próximo ao local onde era o antigo Bar Franciscano, pertencente á família Michelini, as manifestantes sentaram-se na rua e lembraram que foi ali que Araceli ficou em cárcere por dois dias sendo violentada. Adesivos com o nome 'Avenida Araceli C.' foram colados em placas e um minuto de silêncio foi feito, seguido de gritos que afirmavam ” Araceli presente, agora e sempre”.
Antes de seguir, o Fórum Araceli fez uma intervenção para convidar todos ao acompanhamento de suas atividades. “Aqui está representado um pequeno grupo do Fórum Araceli. Este Fórum é um espaço de luta, de guerra contra a opressão, contra as nossas crianças, as nossas adolescentes que estão sendo violentadas por causa do machismo, da misoginia e do ódio contra todas as mulheres. O Fórum Araceli é municipal e de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes. Este Fórum se reúne todo o mês, na primeira quarta-feira. Esperamos que todas e todos se juntem a esta luta. Machistas não passarão”.
O único momentào de inquietação na manifestação foi quando cerca de três rapazes adentraram no ato para provocar mulheres – e foram retirados a gritos e garrafadas de água. Ao chegar no fim do trajeto, a Assembleia Legislativa, o grupo se reuniu para realização de jogral e o chamamento para reunião que vai decidir sobre o segundo ato de Mulheres Contra Cunha, com data e local ainda a serem definidos. Um faixa imponente escrita “Fora Cunha” foi amarrada entre a porta e as escadarias da Assembleia, enquanto manifestantes intervieram em muros e paredes escrevendo as palavras de ordem da manifestação que, pelo jeito, não acaba por aí.