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A capoeira do Mestre Capixaba

 
Muitas crianças misturadas a adultos formam as rodas de capoeira do Mestre Capixaba (foto de capa e acima ao centro), como a realizada no deque da Praia de Camburi, em Vitória, no ultimo domingo (8). Um dos mais importantes da atualidade, é uma referência para capoeiristas, que se referem a ele com respeito, notoriedade e apreço. Mestre Capixaba já rodou “os quatro cantos do mundo”, como ele mesmo fala, e  perdeu há muito tempo as contas de quantos estados e países já esteve para ministrar cursos e até morar por poucos meses. Há alguns anos, mora definitivamente no Espírito Santo. Quem conhece minimamente seu trabalho, espanta-se ao saber que, mesmo não valorizado em sua terra natal, continua fincado no Estado.
 
Em solo capixaba, nos últimos anos, Rogério Sarlo de Medeiros Filho, o Mestre Capixaba, já passou por Conceição da Barra, São Mateus e Jaguaré, norte e noroeste, e agora instalou-se há poucos meses em Eurico Sales, na Serra. A razão por optar pelo Estado é simples, como ele mesmo explica. 
 
“Eu tive oportunidades de ser contratado para dar aulas na universidade de Sidney, na Austrália. Depois quiseram me levar para uma universidade em Londres, na Inglaterra. Nenhuma delas eu quis. O porquê de não aceitar, não sei explicar. Todo mundo pode falar o que for do Brasil, mas eu não consigo ficar longe daqui. Quando estou há uma semana fora, começo a ficar perturbado. Em 1986, fui embora para morar definitivamente no Estados Unidos, quando completaram três meses que estava lá, o tempo começou a esfriar e me deu uma fobia de querer ir embora daquele lugar. Comecei a achar o lugar ruim e só queria vir embora para o meu Brasil. É uma coisa difícil de entender”, conta Mestre Capixaba. 
 
 
Atualmente ele conta que têm pessoas querendo o levar para morar em São Paulo e Brasília –  locais que a valorização da capoeira é maior em relação ao Espírito Santo -, mas a negativa ainda é forte. E não é só o Brasil que lhe cativa, Vitória também. “Essas mudanças são meio inviáveis, pois sei que quando chegar uma certa época vou querer voltar a qualquer custo para Vitória. Quero construir aqui dentro. Sou daqui, sou capixaba”. E, por isso, nem se arrisca mais à empreitada de morar fora. Cursos ele continua ministrando pelo mundo todo. Só neste ano já esteve na Alemanha, São Paulo, Cuiabá e já perdeu as contas. O que Capixaba quer, no momento, é abrir seu Centro Cultural na Grande Vitória. 
 
Em Itaúnas, norte do Estado, é onde Mestre Capixaba tem atualmente um espaço onde pode ser considerado sede de seu grupo A.C.A.P.O.E.IR.A – Associação Cultural Artística Popular Orientada ao Esporte de Incentivo à Raiz Afrobrasileira.  Contudo, o Centro Cultural A.C.A.P.O.E.IR.A não existe ainda, até já existiu numa academia em Jardim Camburi, mas Mestre Capixaba lembra que não vingou. As pessoas não valorizaram e a participação era baixa. Hoje dando aulas em Jardim Camburi e Vila Velha, se volta para a divulgação da capoeira, como essas apresentações no deque da Praia de Camburi, onde reúne alunos e outros mestres para jogar capoeira, maculelê e até samba de roda.

O objetivo de reunir pessoas dá certo. São muitos pais e crianças que se aglomeram ao redor de quem joga. E assim como crianças olhando, muitas também jogam capoeira, desde alunos até os que passam – um menino que ajudava a mãe a vender picolé (foto abaixo, de camisa verde), para e entra na roda, jogando com tanta maestria que impressiona até mesmo quem está na roda. 

 
 
São crianças jogando com adultos – num cuidado único para que nenhuma delas se machuque -, mulheres jogando com homens, e todos numa integração pouco vista por quem passa cotidianamente por aquele deque da Praia de Camburi. As músicas que embalam são muitas, já que a apresentação dura em média uma hora e passa da capoeira ao Maculelê – levado não só com o canto, mas no ritmo dos bastões de madeira, que impressiona até quem está do outro lado da avenida Dante Michelini. E, em meio a esse cenário de pessoas estupefadas, são distribuídos panfletos simples sobre as aulas de Mestre Capixaba no UP, alertando que lá são bem-vindos alunos de todas as idades. 
 
Mestre conta que não importa a idade, contudo que o aluno chegue cru, a aula será proveitosa.  Enquanto conversa, Mestre Capixaba despede-se de seus alunos, desde crianças até adultos. Ele revela até que é bem mais fácil  ensinar alguém quem não entende nada de capoeira, do que alguém que já aprendeu algo. E, enquanto tenta conversar, muitos e muitos alunos fazem questão de despedirem-se reverenciando Mestre Capixaba, que recebe todo o apreço numa calmaria única, incentivando que os alunos foquem nos estudos da capoeira.
 
Nessa sexta-feira (13) e neste sábado (14), Mestre Capixaba se dedica ao IV Encontro Nacional de Capoeira ACAPOEIRA, em Montanha, noroeste do Estado. Lá ele ministrará um curso para capoiristas que já sabem jogar. “No curso a gente faz uma espécie de reciclagem. Ele é mais dinâmico. É preciso trabalhar todo mundo mais rápido. Quando dou aula normal, quando corrijo o movimento de um aluno, às vezes leva uma aula inteira, no curso não pode ser assim devido ao tempo estreito, são muito mais movimentos, então chego e já preciso perceber a deficiência da maioria dos alunos – se é falta de equilíbrio, golpe, se é falta de jogo… – para desenvolver um treino na hora. Antigamente eu levava as aulas prontas, mas nem sempre o capeirista está preparado para fazer certa aula”.
 
 
Com Mestre Capixaba são cerca de 26 anos de prática para formar-se mestre. Poucos alunos passaram por sua mão – e se depender dele cotinuará a ser assim. “Eu não abri o braço para fazer grupo grande. Fiz o contrário, fechei. Caso um capoerista queira entrar no grupo comigo vou deixar ele ali me acompanhando por um tempo. Tem uns que ficam cinco anos só assistindo as apresentações. Depois eu deixo entrar. Me preocupo em olhar bem o que o cara faz, como faz. Isso porque pela quantidade de capoeiristas no mundo hoje, sabemos que a capoeira está bem difundida. Só que o que eu prezo é a valorização da cultura”, conta ele. 
 
E por falar em eventos, quase todos os eventos de Capixaba são independentes, feitos na garra. Nos próximos dias 20, 21 e 22, ele e seus alunos irão fazer um circuito na Grande Vitória. Mestre Niltinho, de Belo Horizonte, vai vir para o Estado dar um curso. O objetivo é atingir quatro municípios: Maguinhos (Serra); Itaparica (Vila Velha); Shopping Norte Sul (Vitória); e Apae de Cariacica – em todos os lugares serão feitos cursos de capoeira com o Mestre Niltinho, além de batizado. É assim que Mestre Capixaba segue, focando em novas atividades e, claro, no calor do abraço de seus alunos, que dedicam-lhe respeito a cada encontro.  
 

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