A discussão sobre o movimento negro e feminismo negro atraiu um bom público para a Ufes na noite dessa terça-feira (24). A proposta era trazer para a universidade mulheres e homens negros que estivessem dispostos a discutir as questões que abarcam os temas e, assim, gerar diálogo com os estudantes e com a sociedade. A noite começou com o Sarau BlackAtitude, em que poemas e textos sobre as mulheres negras foram recitados. Em seguida, houve apresentação teatral e, às 20h, o momento mais aguardado, o debate Denegrindo Gênero e Feminismo, com participação de Djamila Ribeiro (acima), Pesquisadora na área de Filosofia Política e Feminista.
“A academia é um espaço extremamente difícil de pautarmos as questões de feminismo negro. O que eu aprendi de feminismo negro não foi nem a academia que me possibilitou, foi a militância. Percebo que está havendo uma mudança por parte da militante negra, de quem estuda também, mas não nas universidades. Não é o professor ou o gestor, na grande maioria das vezes, que me convida para conversar sobre feminismo negro nas universidades, são os coletivos e as meninas negras. Percebo que é uma mudança de fora da universidade para dentro, das pessoas estarem cansadas de não se sentirem representadas até no próprio conhecimento, na epistemologia dominante que é ensinada e que ainda impede que estudemos certos temas, que conheçamos tantas autoras negras importantes para o feminismo”, explica Djamila Ribeiro.
Essa foi a segunda vez de Djamila no Estado. A passagem foi rápida, porém, muito aguardada. Foram aplausos e mais aplausos, além de falas que demonstraram a imensa representatividade que Djamila tem espalhado por ser uma das poucas estudiosas negras contemporâneas, com certa visibilidade na mídia. Ela contou que acha importante realizar essa circulação pelas universidades, já que são encontros como esses que geram diálogos, troca de vivências e multiplicação de conhecimento.
Em suas falas sobre feminismo negro, Djamila frisou o que muito tem alertado acerca do feminismo que inclui todas as mulheres sem preocupar-se com as especificidades das mulheres negras, trans ou lésbicas por exemplo. “A gente ainda enfrenta muita resistência do movimento feminista, isso tem melhorado, mas ainda existe a luta por espaço. O que acho interessante que o feminismo negro traz, das militantes e teóricas que vieram antes de nós, é isso da briga por espaço – o que reforça para gente hoje que não temos mais que brigar, daqui para frente temos que assumir responsabilidades e papéis. Não tem como nos silenciarmos mais. Não tem como acharmos que nossas lutas não são importantes para entrar nesse feminismo geral. O feminismo que não inclui minorias silenciadas não é luta por igualdade”.
A mesa de discussão contou ainda com a presença de diversas outras minorias, uma mulher africana, uma travesti, uma mãe negra, uma estudante e militante negra, um integrante do Coletivo Negrada e, cada um pôde contar um pouco de suas vivências, pesquisas e lutas. Antes do debate se iniciar houve ainda uma denúncia do Negrada sobre a conduta do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Ufes em separar alunos de uma turma entre cotistas e não-cotistas. O caso vai ser levado adiante no intuito de que não haja nenhum tipo de segregação entre estudantes cotistas do convívio de outros alunos.
O debate, realizado no Cine Metrópolis, foi uma iniciativa do Grupo de Estudos sobre Feminismo Negro e Interseccional, compostos por mulheres negras que realizam debates semanais e abertos a outras mulheres negras, no intuito de discutir feminismo negro e interseccional e, assim, desembocar a discussão para a sociedade, mesmo que aos poucos.