“Nossa bandeira é a prancha de surfe, mas nosso objetivo é um só, cobrar das empresas irresponsáveis pela morte de milhares de vidas marinhas”. É com este chamado que os organizadores da “Carreata pela paz, contra a lama” convocam a população e os surfistas do Estado para se manifestarem nesta quinta-feira (26) contra o maior crime socioambiental da História da mineração, cometido pela Samarco, controlada pela Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.
O ato está marcado para 20 horas no Projeto Tamar, na Praça do Papa, e seguirá com buzinaço até a entrada da Vale no final da Praia de Camburi. Para alertar sobre os graves impactos gerados pelos rejeitos de minério na foz do rio Doce e no mar de Regência, um dos principais locais para a prática do esporte no País, os manifestantes percorrerão o trajeto com pranchas de surfe em cima dos carros.
Desde que a lama da Samarco/Vale chegou à foz do rio Doce, no último sábado (21), moradores e frequentadores da vila de pescadores se reúnem em atos para denunciar o crime, a omissão no acesso às informações e o descaso das empresas em relação às comunidades atingidas, que vivem a angústia de perderem suas referências e fonte de subsistência.
Regência tem como principais atividades a pesca e o turismo, que é impulsionado pela prática de surfe, esporte responsável por atrair pessoas para vila durante todo o ano. Mas tanto a pesca quanto o esporte se tornaram impraticáveis com a elevada concentração de rejeitos do rompimento da barragem. A água está imprópria para banho, consumo, irrigação e dessedentação animal.
Além dos prejuízos incalculáveis ao meio ambiente e às famílias humildes que dependiam do rio e do mar para garantir o próprio alimento, as reservas feitas nas pousadas para o verão já estão suspensas e o clima é de apreensão e incerteza.
A onda de lama alterou completamente a paisagem do local, impactando ainda áreas protegidas e a reprodução de tartarugas marinhas. Assim como Regência, estão interditadas as praias de Povoação e Pontal do Ipiranga, também em Linhares, igualmente voltadas para a pesca e o turismo.
Informações do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) apontam que os rejeitos já avançaram 35 quilômetros para o norte, oito ao sul, e 20 mar adentro de Regência.
Segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), somente na foz do rio Doce, já foi recolhida uma tonelada de peixes mortos. Moradores também têm encontrado com frequência aves mortas e ovos de tartarugas.
Nesta semana, imagens mostrando a diferença da praia de Regência antes e depois da presença da onda de lama ganharam repercussão nacional e internacional. Surfistas da elite mundial lamentaram os impactos e manifestaram solidariedade e revolta nas redes sociais.
A Samarco/Vale, até agora, não ofereceu qualquer assistências às comunidades afetadas, que começam a acionar a Justiça para exigir o mínimo de dignidade para sobreviver.