Acompanhe a continuação da série Movimento Literário Capixaba, que foi iniciada com a editora Cousa e agora segue com a Pedregulho
Em 2015 uma editora que despontou no Estado em eventos literários, lançamentos de livros muito bem recebidos pelo público e bastante movimentação nas redes sociais. A Pedregulho lançou quatro livros ao longo do ano. E desses, todos foram de autoras mulheres: Além das Pernas, de Aline Dias; Cortes Lentos, de Isabella Mariano; O Mundo de Cá, de Juane Vaillant; e Lisboa com Afeto, de Izabel Mendonça. Além de deixar já em processo de lançamento o novo livro de Lilian Menenguci, que se prepara para lançar no início do ano uma obra que apresenta memórias sobre a alfabetização. O livro vai estrear ainda o novo selo da editora, a Pedrinha Miudinha, voltada para o público infantil.
Não, a editora não é temática. Ela não trabalha só com mulheres, foi algo que aconteceu e que chamou certa atenção. “Lançar só mulheres neste ano foi mais coincidência do que um objetivo nosso. Fiquei muito feliz, porque afinal são cinco mulheres com as quais trabalhei. São poucas? São. Mas é algo muito representativo”, conta Marília Carreiro, escritora, editora e idealizadora da Pedregulho. Ela, sentada na praça da avenida Jerônimo Monteiro, no Centro de Vitória, conta com muito orgulho de seu trabalho, do começo, das experimentações e não deixa de frisar a todo o momento que a editora existe para fomentar literatura e trazer à tona temas relevantes e reflexivos.
Não é à toa que a Pedregulho lançou neste ano um livro sobre o universo feminino; livros de contos; poemas e até fantasia. Todos de temáticas bastante relevantes. E, contando alguns dos planos para 2016, Marília já mostra que a tendência é enveredar mesmo para esse lado. “A gente gosta de trazer temas que são relevantes e pouco vistos na literatura. E eu acho que tem que ter, porque a literatura também serve para abrir a cabeça das pessoas mais do nunca. Então quando chega um projeto representativo, forte, eu fico muito necessitada de fazer. É algo que eu sei que é necessário não só para mim, mas para todos”, explica ela.
Exemplos dessas representatividades tão buscadas por Marília são os livros Música no Corpo de Fuga, de Fabricio Fernandez, que trata a teoria quer; ou o já citado Além das Pernas, de Aline Dias, que apresenta contos só sobre mulheres. E para 2016 a Pedregulho tem tantos planos, que já se projeta como uma editora não tão pequena quanto o público pode ver. Além do selo infantil, a editora lançará a obra Boneca Atrás da Feição Oca, de Hugo Estanislau, que apresenta 24 contos sobre 24 tipos de bonecas diferentes – desde as bonecas de dedo até as travestis. Haverá ainda projetos de publicações para a área acadêmica; um novo livro da escritora Mara Coradello, com poemas de quando a autora tinha por volta de seus 17 anos; o projeto de lançar a primeira coletânea da Pedregulho, com uma reunião de 25 mulheres escrevendo contos sobre a temática feminina; e um projeto que Marília faz questão de detalhar:
“Tenho a projeção de realizar alguns livros artesanais, com costuras diferentes, linhas e páginas coloridas e tudo isso à mostra,bem artesanal mesmo. Tenho, então, que ver qual é o autor que vai topar essa empreitada. E se tudo ocorrer como esperado, acho que seria interessante o autor participar do processo de montagem do próprio livro. Porque se ele está perto e vê aquilo tomando forma, o livro entra numa dimensão completamente diferente. Eu sei disso porque fiz o mesmo no meu primeiro livro. São mais sentimentos envolvidos. É claro que é trabalhoso, mas acredito que será uma experiência que vai valer muita para nós e para o autor”, explica Marília.
O livro que Marília cita acima é o Opala Negra, de 2013, sua primeira obra que foi também a primeira publicação da Pedregulho. Marília é de Pancas e escreveu um livro sobre esse universo. Na época havia sido contemplada com um edital de incentivo, então resolveu não só lançar o livro, mas já no selo da Pedregulho. Ela explica que tudo foi uma grande experimentação. O irmão já tinha uma gráfica e ela tinha a vontade de fazer dar certo – tanto que deu. Tempos depois ela republicou Opala Negra da forma que queria, com outro formato, outro papel, outro projeto gráfico.
Essa característica de experimentar projetos gráficos diferentes é bem presente na Pedregulho. Cada livro é um projeto único. E ser uma editora de pequeno porte possibilita um cuidado maior com cada obra. “Depois que fiz a segunda edição do meu livro, colocando ele da forma que queria, comecei a pensar no fato de priorizar formatos diferentes. Queremos que cada projeto seja único e exigir projeto gráfico diferente é essencial”, conta Marília, que explica também que atualmente a editora dedica cerca de três meses para cada projeto de livro. Dessa forma, para a Pedregulho, lançar quatro livros ao ano é o ideal. Contudo, a editora tem avançado tanto, que a prática dessa teoria não se aplica mais.
“Só em 2014 fizemos 10 livros. Neste ano foram cinco. E para o ano que vem queremos fazer mais, já que a editora começa a ter uma estrutura mais consistente, aumentando o número de pessoas envolvidas – pois até hoje tudo foi feito muito em grupo. Queremos manter nosso processo de parcerias, mas com as funções delegadas, no intuito de que fique mais rápido o processo de lançamento de livros. E se conseguirmos manter essa lógica das funções, acho até que seria possível fazer um livro por mês”, projeta ela.
Questionada sobre ser um risco lançar tantos livros por ano, mesmo sendo uma editora pequena, Marília confirma que é um risco sim, mas muito bem assumido ao optar por essa escolha. A ideia é crescer, fomentar literatura, atrair público e envolver autores. “Trabalho só com isso atualmente e acredito que existe espaço e também mercado. Considero que seja interessante a gente criar junto com os lançamentos, eventos alternativos, integrando autores da editora e de fora. A proposta é investir nos eventos e na divulgação da literatura, pois é assim que vendemos livros e nos mantemos”, conta.
A Pedregulho, junto da Cousa, movimenta e muito o cenário literário independente. São saraus, venda de livros por quilo, participação em feirinhas, eventos em campos universitários e em ruas, até em calçadas, além dos lançamentos quem têm atraído bastante público. Juntas, as editoras fazem parcerias a acreditam nesse movimento da literatura independente. Essa literatura de guerrilha, como muitos chamam, que busca por seus leitores, que se mostra para o público, que apostam em autores integrando-se a essa proposta de movimentar.
E não só nas ruas está a Pedregulho. Na internet a editora ainda mantém um blog com seus autores publicados, além de convidados. As atividades são diárias e Marília criou o espaço para dar visibilidade a quem queira, basta entrar em contato. No email oficial da editora ([email protected]) também é possível fazer articulações e enviar originais. Já Marília Carreiro, está sempre muito acessível a quem queria apresentar propostas. Se não nas ruas do Centro de Vitória, ela pode ser encontrada, sem dúvidas, em todos esses eventos literários que rondam na maioria das vezes o Centro de Vitória. Em 2015, aliás, o que mais se ouviu nas entrevistas das autoras publicadas pela Pedregulho foi sobre a acessibilidade e receptividade da editora.