A qualidade da água do rio Doce, contaminado pelo rompimento da barragem da Samarco/Vale em Mariana (MG), é péssima em 650 quilômetros de extensão – de 853 ao todo. Este é o resultado da expedição realizada pela Fundação SOS Mata Atlântica, que avaliou 18 pontos do rio, quatro deles em Colatina e Linhares, no Espírito Santo.
As análises foram realizadas entre os dias seis e 12 de dezembro passado, um mês após o maior crime socioambiental do País. Dos pontos avaliados, 16 apresentaram o Índice de Qualidade da Água (IQA) péssimo e dois regular. A conclusão do estudo, divulgada nesta terça-feira (26), reforça que a água está imprópria para consumo humano e animal em todo trecho analisado, que compreendeu 29 municípios entre Minas Gerais e o Estado ou 650 quilômetos de extensão do rio.
O estudo aponta que a turbidez e o total de sólidos em suspensão estão em concentrações muito acima do que estabelece a Resolução Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) 357/05 para rios classe II, que é o caso do rio Doce.
Segundo Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, a turbidez variou de 5.150 NTU (unidade matemática utilizada na medição) na região de Bento Rodrigues e Barra Longa, à 1.220 NTU em Ipatinga (MG), aumentando gradativamente até a região da foz, em Regência, no Espírito Santo, onde registrou 1.505 NTU.
Nos dois pontos do rio avaliados em Colatina, o índice de turbidez foi de 1.650 e 1.580 (Bela Vista) NTU. Já na cidade de Linhares, foi registrada turbidez de 1.620 NTU. “O máximo aceitável deveria ser de 40 NTU”, alertou Malu.
Os dados, aponta a coordenadora, reforçam a gravidade do dano ambiental. “Infelizmente, as chuvas acabam por arrastar mais lama para o leito do rio e a situação tende a ficar ainda mais complicada. A lama e os metais pesados não mascararam ou diminuíram as concentrações de poluentes provenientes de esgoto sem tratamento e de insumos agrícolas”, afirmou.
As análises também apontaram para a presença de metais pesados no rio Doce, com destaque para o magnésio, cujos índices ultrapassaram o que determina a legislação – 150 mg por litro – em todos os 18 pontos do estudo. Nos pontos no Estado, os números atingiram as marcas de 160 (Colatina), 166 (Boa Vista), 168 (Linhares) e 166 (Regência).
Já o cobre, alumínio e manganês foram encontrados em cinco, quatro e oito pontos, respectivamente, porém todos em cidades mineiras atingidas pelos rejeitos. Os níveis de cálcio e ferro, de acordo com o estudo, estavam dentro dos padrões.
O resultado da expedição ressalta ainda que as águas analisadas em todos os pontos são consideradas “duras”, ou seja, com teores acima de 150 mg/l de cálcio e magnésio – a “água mole” são as que possuem concentrações abaixo de 75mg/l. Apesar disso, são consideradas potáveis, porque a Portaria do Ministério da Saúde 518/2004 coloca como padrão de potabilidade a dureza com limite até 500 mg/l.
Os pesquisadores da SOS Mata Atlântica também encontraram nas análises microbiológicas quatro grupos de bactérias, que podem gerar doenças como gastroenterite, infecção urinária e respiratória, dores abdominais e desinteria bacilar. Isso ocorre por meio do consumo da água ou de alimentos contaminados.
A expedição reuniu 29 amostras de lama para análise em laboratório e, além da equipe da entidade, participaram especialistas da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e do Grupo Independente de Avaliação de Impacto Ambiental (GIAIA). O eco esportista Dan Robson navegou trechos com um caiaque para realizar análises da qualidade da água e da profundidade do leito dos rios e dos reservatórios ao longo do percurso.
A classificação da qualidade das águas é feita em cinco níveis de pontuação: péssimo (de 14 a 20 pontos), ruim (de 21 a 26 pontos), regular (de 27 a 35 pontos), bom (de 36 a 40 pontos) e ótimo (acima de 40 pontos).
Embora também atingido pela lama da Samarco/Vale, não foi realizada análise no município capixaba de Baixo Guandu.