Inaugurado em 18 de novembro de 2013, o serviço Bike GV, de transporte de ciclistas entre Vitória e Vila Velha pela Terceira Ponte, sobrou como o único legado do conjunto de demandas por projetos de mobilidade urbana manifestado nas Jornadas de Junho na Grande Vitória. De lá para cá, especialmente desde o início do governo Paulo Hartung (PMDB), na esteira da crise econômica e do discurso do ajuste fiscal, todas as tentativas de remodelar o padrão de mobilidade na região foram abortadas.
As manifestações de 2013 foram abundantes em desejos e demandas, mas um em especial parece ter figurado como principal: a demanda por melhorias em mobilidade, por ideias que devolvessem o encanto de viver na cidade, algo que uma tecnologia de transporte barata, rápida e confortável poderia oferecer – exatamente o oposto do que oferece o Sistema Transcol. “Cidade para as pessoas”, era o lema.
O governo estadual captou a mensagem e respondeu com uma carta de propostas alentadoras, a implantação do BRT (vias exclusivas para ônibus) e retorno do Aquaviário figurando entre as principais. Claro, vale destacar, foram projetos apresentados na base da pressa para não perder popularidade, já que as eleições de 2014 batiam à porta. Como já vimos, o governo Hartung descartou ambas as propostas sem apresentar nada de animador no horizonte.
Ao mesmo tempo os ciclistas se consolidaram como atores políticos no Espírito Santo e ergueram alto a bandeira por infraestrutura cicloviária, ou seja, a cobrança para que as políticas públicas consolidem a bicicleta como opção de transporte. Assim nasceu o Bike GV, ainda que com críticas: os ciclistas consideram uma contradição pagar para andar, razão pela qual reivindicaram a construção de uma ciclovia na Terceira Ponte, outro projeto também ceifado pela gestão Hartung.
Apesar da crítica, o serviço registrou crescimento logo no primeiro ano: no primeiro mês de operação, o Bike GV transportou 2.709 ciclistas e, um ano depois, foram transportados 4.922 ciclistas, ou seja, um aumento de cerca de 80% em relação ao mês inaugural.
De certa forma, 2013 engendrou o Bike GV, mas ficou por aí, o que mostra que, mais uma vez as ruas foram ignoradas. Na posse, em janeiro de 2015, o governador até ensaiou uma sintonia com as vozes das ruas de 2013: “A ampliação, humanização e racionalização da mobilidade urbana é um ponto crucial. Mas é preciso fazer esse movimento dentro de um novo conceito de centros urbanos. Com investimentos em calçadas, ciclovias e transporte coletivo, nossas cidades devem dar prioridade às pessoas e não aos automóveis”.
Mas janeiro de 2016 virou pelo avesso o congelamento na tarifa do Transcol e a suspensão do pedágio da Terceira Ponte, o BRT e o Aquaviário. O Transcol e o outrora tão criticado transporte individual motorizado retornam à cena como as principais opções de mobilidade.