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Duas semanas após denúncia de fraude no sistema de cotas, Ufes recebe primeira edição da Mostra de Cinema Negro

A primeira edição da Mostra de Cinema Negro da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) acontece em um momento sintomático. Faz pouco mais de duas semanas que uma denúncia do Coletivo Negrada sobre fraudes no sistema de cotas étnico-racial no Vestibular 2016 sacudiu a instituição e mostrou que a injustiça contra os negros ainda atinge níveis inimagináveis.

 
O processo foi protocolado no Ministério Público Federal (MPF) e aponta pelo menos 30 alunos que se autodeclararam negro ou pardo para conquistar o benefício. 
 
“Apesar de o caso não ter relação direta com o evento, o que a gente sente é tristeza em relação a algumas pessoas de não aceitarem políticas públicas para inserir indivíduos que sofrem desigualdade”, diz Adriano Monteiro, do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Ufes e um dos coordenadores da Mostra, que acontece entre esta quinta-feira (25) e o próximo domingo (28) no Cine Metropolis, no campus de Goiabeiras da universidade. Além de exibição de filmes, haverá debates e oficinas.
 
O preconceito e a desigualdade raciais que a denúncia do coletivo explicitaram são alguns temas que perpassam a mostra, composta por pouco mais de duas dezenas de filmes, entre curtas e longas. Segundo Adriano, no entanto, o evento busca dar um passo além o conceito de “cinema negro” apenas como representação do indivíduo negro na tela do cinema. O vetor da mostra são os filmes cujos diretores são negros, ou seja, produções em que o negro constrói a própria representação.
 
Adriano cita uma pesquisa de 2014 do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), indicando um quadro alarmante de segregação racial no campo cinematográfico brasileiro. O grupo analisou os filmes de maior bilheteria do cinema brasileiro entre 2002 e 2012 e registrou que 97% dos diretores são brancos, 1% de cor amarela e somente 2% negros. 
 
Entre os roteiristas, 93% são brancos e somente 4% negros. Não foram encontradas diretoras ou roteiristas negras. Entre atores e atrizes, apenas 20% são pardos ou negros. Estes, vale lembrar, representam 50,7% da população brasileira. “A mostra trata não só da representação do negro, mas também da valorização do realizador negro”, afirma Adriano.
 
Essa diretriz fica mais palpável na organização da mostra: uma espécie de três painéis que contemplam a produção africana, a brasileira e a norte-americana, todas oriundas da mesma raiz do preconceito, mas que frutificaram reações diferente entre si devido, claro, às particularidades de cada contexto. A mostra também propõe um diálogo entre produções clássicas e contemporâneas para revelar o trajeto histórico das abordagens de um mesmo objeto.
 
Entre os filmes da programação, vale o destaque para Oya – Rise of the Suporishas, um curta-metragem nigeriano que discute imigração e expõe o embate entre a tradição e modernidade, o curta brasileiro O Dia de Jerusa, que integrou a programação do Festival de Cannes 2014, e Straight Outta Compton, longa norte-americano sobre o N.W.A, notável grupo de rap californiano formado nos anos 80, indicado ao Oscar de melhor roteiro.
 
Serviço
A I Mostra de Cinema Negro da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) acontece entre quinta-feira (25) e domingo (28) no Cine Metropolis. Av. Fernando Ferrari, 514, campus de Goiabeiras. Entrada franca. Para mais informações, acesse a página do evento no Facebook.

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