O prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), está no último ano de mandato. Durante esse período, foi alertado e cobrado pela sociedade civil organizada sobre as medidas urgentes e necessárias para combater a poluição do ar da Vale e da ArcelorMittal, o minério e esgoto lançados indiscriminadamente no mar, e a contaminação das areias das praias, também por minério. Mas só agora, em ano eleitoral, “descobriu” todos os problemas ambientais da Capital que os capixabas denunciam há décadas, sem providências.
As ações esperadas da atual administração municipal desde a posse do prefeito, no início de 2013, só começaram a surgir, mesmo, após a decisão judicial que interditou o Complexo de Tubarão, em 21 de janeiro passado. Exatamente nesse dia, o prefeito anunciou aplicação de cinco multas à Vale e à Arcelor, que chegaram a R$ 34,2 milhões para cada poluidora.
Embora essa questão tenha muito mais efeito para a imagem dos gestores do que no sentido de se reverter em benefício para os moradores da cidade, já que as multas raramente são pagas, esta seria a primeira iniciativa com tom enérgico do município em relação à questão.
Até então, a gestão de Luciano ensaiava medidas tímidas para combater a poluição do ar, muito mais no sentido de oferecer uma resposta à população do que cobrar ações efetivas das poluidoras. Quando apertado, o prefeito transferia a responsabilidade para o governo do Estado, que também não cumpre seu papel de impedir os impactos gerados pelas poluidoras, as principais financiadoras de campanhas eleitorais.
Com a interdição de Tubarão, a pauta ambiental ganhou força e a classe política embarcou de carona em assuntos que sempre incomodaram os moradores da Grande Vitória, inclusive com uma lista extensa de denúncias, mas esbarravam na omissão do poder público.
Depois de trocar de secretário de Meio Ambiente por três vezes, a prefeitura de Vitória percebeu o peso do meio ambiente na disputa deste ano e resolveu eleger o assunto como bandeira.
Das multas até hoje se sucederam uma série de ações e exposições na mídia corporativa, tanto do prefeito Luciano Rezende como do secretário Luiz Emanuel Zouain, ambos do PPS.
A prefeitura retomou em seguida um termo de acordo apresentado à Vale que nunca saiu do papel e se uniu ao Ministério Público Estadual (MPES), também com atuação questionável no combate às emissões de poluentes, para “construir e legitimar ações de controle ao pó preto” com base nas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) do Pó Preto da Assembleia Legislativa e Câmara de Vitória.
Junto com esse tema, depois de ficar por meses sem realizar as análises de balneabilidade em Vitória, a prefeitura se voltou para o problema da água do mar e anunciou a contaminação de toda a praia de Camburi, seguido de alertas à população para que não frequente o local.
Outro assunto que nunca foi novidade, o esgoto lançado na baía de Vitória, também ganhou destaque. Primeiro a prefeitura tentou dividir a responsabilidade com os municípios vizinhos pelo grau de contaminação das praias, mas logo decidiu assinar uma portaria determinando a realização de um estudo para identificar a origem dos lançamentos em um prazo de 30 dias.
A prefeitura “descobriu”, ainda, que as areias das praias da Ilha do Boi e Curva da Jurema, como já denunciado inúmeras vezes, assim como ocorre em Camburi, têm em sua composição pó minério, resultado das operações industriais das poluidoras em Tubarão.
Apesar de Luciano Rezende manifestar surpresa e preocupação com os problemas que resolveu somente agora apresentar como prioritários, nenhuma dessas “descobertas” é novidade para ambientalistas e moradores da Capital.
O que mudou foi o comportamento da gestão municipal, que tenta sair da condição de omisso para protagonista, por interesses que ultrapassam a preservação ambiental e o bem-estar da população.