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Invisíveis para motoristas e poder público, ciclistas se despem para chamar atenção

Nus com suas bikes, por um dia ciclistas de todo o Brasil tentarão ganhar visibilidade nas ruas de forma não tão tradicional. No próximo sábado (5), várias cidades do hemisfério sul realizam mais uma edição da World Naked Bike Ride (WNBR), que no Brasil é conhecida como Pedalada Pelada. A edição capixaba acontece nesta sexta-feira (4), a partir das 18h, com saída da Praça do Ciclista (Praça do Cauê), em Praia de Santa Helena, Vitória. A nudez não é obrigatória. O evento é organizado pelo Bicicletada Vitória.
 
O evento é um protesto de ciclistas urbanos para ver se, assim, motoristas e poder público conseguem notá-los nas ruas. Há aqui a clara premissa de que quem pedala não integra a paisagem urbana – como se esta fosse dominada pelo condutor de veículos motorizados. O Pedalada Pelada é um convite singelo para que motoristas e poder público assumam o ciclista como personagem das malhas viárias.
 
“O ciclista é invisível, as pessoas não enxergam”, diz cicloativista Detinha Son, do Ciclistas Urbanos Capixabas (CUC). Ela aponta um traço da cultura carrocrata que contribui para o apagamento do ciclista: uma vez dentro do carro, atrás de portas fechadas e dos vidros pretos, os motoristas se descolam da realidade. “Ali as pessoas ficam encapsuladas, fecham o vidro, ligam o som e perdem comunicação com o universo”. 
 
Junto vem a velocidade dos carros e questão do cone de visão. Segundo Detinha, quanto maior a velocidade, menor o cone de visão do motorista. Em velocidade acima de 40 quilômetros por hora, o cone de visão do condutor já fica prejudicado.
 
O corpo nu chama atenção não apenas para a figura do ciclista, mas também age como espécie de metáfora da fragilidade de quem pedala. Bicicleta não tem air bag e capacete, defende Detinha, não protege o ciclista urbano, aquele que faz da bike um meio de transporte. Um carro em velocidade acima daqueles 40 Km/h vai lesar antes os membros inferiores que a cabeça. “Então, com o ciclista pelado, a pessoa olha”, conclui.  
 
Detinha, no entanto, destaca que a visibilidade do ciclista melhorou muito nos últimos anos, na esteira do aumento do número de ciclistas nas ruas. Mas, ressalva, os ciclistas ainda passam aperto nas ruas da Grande Vitória. Vias movimentadas como as avenidas Norte Sul, Nossa Senhora da Penha, em Vitória, e José Rato, na Serra, são especialmente perigosas para os ciclistas, tanto pela velocidade dos carros, como pela ausência de sinalização. 
 
São os típicos locais em que os ciclistas ou pedala na calçada ou divide a pista com carros em alta velocidade.
 
A sinalização horizontal e vertical precária em todos os municípios poderia ser contornada com a implantação das ciclorrotas, cujo mapa da Grande Vitória foi lançado em 2014. “Teria uma melhora significativa”, diz Detinha. 
 
A menos de uma semana para o Dia Internacional da Mulher, Detinha chama atenção para as ciclistas mulheres. Aqui, a fragilidade como que dobra. Além dos riscos de assalto e roubo, a mulher vive a ameaça do assédio. “Se ela pedala de saia, se ela pedala de short, tem essa questão”, diz Detinha. E, em caso de desavença numa via compartilhada, a conduta do motorista homem é mais incisiva para a ciclista que para o ciclista. “O ciclista ele sabe que pode reagir. Mas a mulher não vai, até por conta da questão da força física”, afirma. 
 
As campanhas de educação no trânsito também poderiam melhorar o quadro. Por ora, há apenas promessas, feitas pelo governo estadual na ocasião do anúncio semana passada da instalação de 563 bicicletários próximos a prédios públicos da Grande Vitória e aos terminais rodoviários do Sistema Transcol.

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