Após três dias de mobilização, os Tupinikim e Guarani desocuparam os trilhos da ferrovia da Vale em Aracruz (norte do Estado) na tarde dessa quinta-feira (3). A decisão foi tomada devido à sinalização da Samarco/Vale-BHP de finalmente apresentar uma proposta de compensação às famílias das dez aldeias do município impactadas pela lama proveniente do rompimento da barragem de Fundão em Mariana (MG).
As empresas contataram as lideranças indígenas para mais uma vez abrir a mesa de negociação, numa reunião marcada para a próxima sexta-feira (11). O encontro foi costurado pela Samarco e Fundação Nacional do Índio (Funai) em Brasília e os caciques aceitaram pôr fim ao protesto até lá.
Desta vez, no entanto, os índios esperam que as empresas, de fato, apresentem uma proposta. Eles estão em mobilização nesse sentido desde janeiro último, sem resultados. A Samarco/Vale-BHP insiste em negar os prejuízos a todo o território indígena de Aracruz e só se dispõe a pagar um auxílio emergencial às famílias da aldeia de Comboios.
Os Tupinikim e Guarani também exigem a inclusão das aldeias no acordo assinado pela União e governos do Estado e de Minas Gerais com as empresas.
Com a contaminação do rio Doce, que desvia suas águas para o rio Riacho, em Aracruz, por meio do Canal Caboclo Bernardo, e da Reserva de Comboios, que faz limite com a aldeia de Comboios, os índios estão impedidos de exercer sua principal atividade de subsistência, que é a pesca artesanal. Também há registros da mortandade de peixes do rio Piraqueaçu e da contaminação do mar.
A reivindicação dos índios é para que as empresas assumam um plano emergencial até que sejam concluídos os estudos que irão dimensionar os impactos do rompimento da barragem às terras indígenas. Eles apontam como mais importante, porém, os projetos que deverão ser elaborados para mitigar os danos e oferecer condições às aldeias para que voltem a desenvolver suas atividades.
A restrita proposta das empresas é a mesma firmada por exigência do Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais e do Espírito Santo aos pescadores e ribeirinhos, que destina o pagamento de um auxílio no valor de um salário mínimo por família (R$ 788), mais 20% para cada dependente e uma cesta básica, durante seis meses – 1º de março de 2016. Há várias denúncias, no entanto, de que as empresas sequer têm cumprido essa determinação.
Além do descaso das empresas, os índios denunciam a postura do governo do Estado, que não cobra providências para a situação das aldeias, muito menos atua como intermediador do impasse.