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Lista das permissões reúne classe privilegiada que não precisaria de táxi, mas domina o mercado em Vitória

A participação feminina na permissão de táxis de Vitória é o principal instrumento de ocultação de um esquema de cômodo enriquecimento à custa do trabalho de defensores. O caso de Rosiane de Oliveira Puppim mais uma vez é modelar e dá a dimensão de que como o serviço de táxi deixou de ser público e virou uma fonte de renda. 
 
Como dissemos, por mais de uma, duas, três ou quatro vezes, Rosiane foi apontada como esposa de Alex Sandro Muller Helmer, representante do Sindicato dos Taxistas e Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários do Espírito Santo (Sinditaxi) na Comissão Especial de Licitação da Secretaria Municipal de Administração (Semad) que conduziu o certame.
 
Alex Muller Helmer é apontado filho de Dona Lica, aposentada que comandaria uma frota particular de seis táxis registrados em nome de terceiros. Seriam dela duas placas no ponto de Jardim Camburi, duas no Hotel Canto do Sol, uma no Aeroporto de Vitória e uma no Shopping Vitória, com os quais faturaria algo entre R$ 20 e R$ 30 mil mensais.
 
Como chegamos a esse montante? Bem, os defensores trabalham em escalas de 24 horas sob dois regimes de trabalho, comissão ou diária. Na comissão, uma porcentagem do lucro diário é dividida entre permissionário e defensor, geralmente, 60% e 40%, respectivamente. Na diária, um valor mínimo é pago ao permissionário e por este prefixado. O combustível também fica a cargo do defensor.  
 
No caso das frotas particulares, o regime de trabalho mais comum imposto ao defensor é a diária. É menos oscilante que a comissão e, portanto, mais lucrativa.  
 
Segundo os defensores, a diária média em Vitória é de R$ 200. Em praças menos requisitadas, desce a R$ 180 ou R$ 190. Mas nas mais fervilhantes – Aeroporto, Rodoviária, Shopping Vitória – varia de R$ 230 a R$ 300.  Um carro que gera R$ 200 diários, produz R$ 6 mil mensais. Nessa toada, os seis veículos de Dona Lica significariam R$ 36 mil mensais, valor que, descontados os custos de manutenção mecânica e do seguro do veículo, se consolidam entre os R$ 20 e R$ 30 mil mensais projetados acima. 
 
As certidões de nascimento e de casamento das permissionárias de táxi em Vitória podem apontar os verdadeiros donos das placas. Não é mera casualidade que, como apontou Século Diário, 20% das permissões estejam em nome de mulheres, embora apenas 1% trabalhe efetivamente praças de Vitória. 
 
São mulheres, filhas e sobrinhas dos verdadeiros donos de placas as quais, como falam muitos defensores, “não sabem nem ligar o taxímetro” ou “nunca dirigiram um táxi na vida”. 
 
Se elas nunca dirigiram táxi, eles idem. Geralmente as mulheres significam a segunda ou terceira placa dos autênticos permissionários. A primeira está em nome desses profissionais liberais ou servidores públicos cuja alta escolaridade e cujo alto rendimento, em princípio, dispensariam a amofinação de lotar cursos para taxistas, como, por exemplo, oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), para concorrer a uma permissão.
 
Mas é o que acontece, relataram taxistas a Século Diário nesses 40 dias em que rodamos as praças de Vitória. Um deles sintetiza com clareza solar por que acontece: “Você ganha uma placa, bota dois motoristas e fica só no lucro”. 
 
De olho no rendimento fácil e gordo da permissão de táxi, figuras de confortável posição social, entre empresários, advogados, médicos, policiais militares de alta patente, policiais federais, bombeiro, guarda municipal, se dedicam a curso para taxistas ansiando a próxima licitação. Taxistas afirmaram que há capitão da Polícia Militar com duas placas, policial federal com duas placas, aposentado da Vale também com duas placas, aposentando da Escelsa com placa, mas que não trabalha. 
 
Junto com suas esposas e filhas, é uma classe que domina uma fração expressiva das permissões.
 
O serviço de táxi em Vitória é executado por defensores cujo nível médio de escolaridade é o ensino médio completo. Um defensor com 40 anos de praça com que a reportagem conversou nem se mete a adentrar os covis das licitações de táxi. Embora tenha todos os cursos para taxistas e conheça Vitória como a palma das mãos, seria excluído sumariamente: não tem o ensino fundamental completo, uma das condições de participação, por exemplo, da recente licitação.
 
Embora eloqüente, o caso de Dona Lica é um exemplo menor no quadro geral de usurpação de um serviço público para ganhos particulares. Na matéria desta quinta-feira (10), mostraremos como três homens comandam com destreza e rigor uma frota que, reunida, soma cerca de 50 veículos e movimenta um montante entre R$ 300 e R$ 400 mil à custa de diárias exorbitantes drenadas do suor de defensores.

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