Até o momento, não foram relevados detalhes sobre a decisão – uma vez que o processo tramita em segredo de Justiça. As primeiras informações dão conta que a ordem de prisão partiu do Ministério Público Estadual (MPES), atendendo solicitação da Associação dos Magistrados do Espírito Santo (Amages), cujos juízes são membros da diretoria, e figura no processo como assistente de acusação.
A advogada foi condenada em primeira instância pela prática dos crimes de calúnia e denunciação caluniosa. A sentença foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJES), fato que permitiu a prisão de Karla Cecília, recentemente beneficiada por uma decisão do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), que reconheceu a violação das prerrogativas da advogada pelos juízes Flávio Jabour Moulin e Carlos Magno Moulin Lima, respectivamente, filho e sobrinho do desembargador aposentado Alemer Ferraz Moulin.
A condenação judicial trata justamente da queixa feita pela advogada ao CNJ, que alegou ter sido vítima de perseguição judicial por parte dos primos Moulin há quase uma década. Enquanto o CFOAB reconheceu em novembro passado a existência de violações, com base no parecer da Comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas e Valorização da Advocacia da Ordem (CNDPVA), a Justiça estadual sentenciou a advogada por entender que ela ofendeu a honra dos magistrados e teria denunciado falsamente ambos.
Toda controvérsia teve início na tramitação de um processo criminal de pedofilia, junto à 2ª Vara Criminal de Vila Velha, no ano de 2005. Na ação, a advogada representava os interesses do pai das três crianças supostamente vítimas de assédio da mãe. Na representação no CNJ, ela denunciou que o juiz Carlos Magno teria impedido que ela assumisse a assistência da acusação, sendo que após o fato, ela foi alvo de uma interceptação telefônica, deferida pelo magistrado, passando da figura de advogada para autor do crime. O pai da criança foi condenado na mesma ação e teve agora a prisão decretada pela Justiça.
Existem recursos da advogada pendentes de julgamento pelo Supremo, porém, a ordem de prisão já foi cumprida e ela deve começar a cumprir a pena em presídio comum. Isso porque a legislação garante a prisão em sala de Estado Maior aos advogados detidos. No entanto, a prerrogativa cai por terra em casos de condenação em definitivo. Logo após a mudança na jurisprudência, a Ordem dos Advogados e juristas foram contrários à medida. O presidente da seccional capixaba da OAB, Homero Junger Mafra, também se posicionou contra a possibilidade da prisão antes do trânsito em julgado.
A reportagem tentou localizar a defesa de Karla Cecília, mas até o fechamento da edição não obteve contato. Logo após a prisão, a advogada foi conduzida à Chefatura da Polícia Civil, em Vitória, e deve ser encaminhada para uma das unidades do sistema prisional.
Confira abaixo o vídeo publicado a manifestação da advogada durante audiência pública do CNJ na Justiça estadual, realizada em setembro de 2009: