Fotos: Leonardo Sá/Porã
Após 25 dias de ocupação, os camponeses decidiram desmontar, na noite dessa sexta-feira (11), o acampamento Paulo Freire na Secretaria de Estado da Educação (Sedu), em Vitória. A decisão foi tomada em assembleia realizada depois da reunião com o secretário Haroldo Correa Rocha, que resultou em poucos avanços, mas segundo o coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Adelso Lima Rocha, os militantes entendem que a luta deve prosseguir em novos espaços.
Assim como tem feito diante da pauta dos movimentos sociais, apresentada ainda no ano passado, o secretário manteve sua postura irredutível em relação à pedagogia da alternância, que intercala um período de convivência na sala de aula com outro no campo. A gestão estadual quer pagar somente a hora/aula de cada educador, sem contabilizar o tempo de acompanhamento no campo e na auto-organização dos estudantes.
A diferença, agora, como aponta Adelso, é que o governo aceitou ouvir uma contraproposta, o que até então se negava a fazer. Nos próximos dias, as entidades do campo irão elaborar um documento, por escrito, com todos os pontos que levarão para a mesa de negociação. O mesmo irá fazer uma comissão da Sedu. De posse dessas informações, uma nova reunião será realizada na próxima sexta-feira (18), em São Mateus, norte do Estado. “Lá esperamos andar mais alguns passos”, ressaltou a liderança do MST.
Adelso afirmou que Haroldo sinalizou nesta sexta para abertura do processo seletivo que irá contratar professores para as escolas dos assentamentos. Ele alerta sobre a importância das conversas surtirem efeito o quanto antes, já que essas escolas estão sem funcionamento regular há um mês, em decorrência do impasse. A demora pode resultar na matrícula dos estudantes em unidades que não atendam às especificidades do campo, o que seria ainda mais danoso para o movimento, pela importância de manter as famílias na zona rural.
Os militantes, que seguiram para suas casas, no interior do Estado, retornam à Capital no próximo dia 28, às 14 horas, para reunião com o governador Paulo Hartung (PMDB).
Além da manutenção da pedagogia da alternância, os movimentos sociais cobram a aprovação das diretrizes das escolas de assentamentos e acampamentos; não fechamento de turmas, turnos e escolas do campo e da cidade; garantia de acesso, permanência, continuidade e qualidade social da educação básica; e editais específicos para a contratação de profissionais de educação efetivos e em regime de Designação Temporária para as escolas do campo.
Em outras áreas, a assinatura de decreto de emergência do Estado em função da seca; construção imediata das barragens; assistência técnica, social e ambiental para todas as famílias assentadas; levantamento e destino das áreas devolutas do Estado para fins de reforma agrária; aquisição de áreas penhoradas nos agentes financeiros e destinação para reforma agrária; punição da Samarco, Vale e BHP por crime ambiental; e medidas contra a expansão dos plantios de eucalipto no Espírito Santo.
O diálogo com a atual gestão só foi possível após a ocupação do Palácio Anchieta nessa terça-feira (16), por mais de dez horas.
Prévia
O período que antecedeu a reunião desta sexta-feira foi marcado por clima de tensão na
Sedu, após tentativa do governo de esvaziar a ocupação. Policiais militares foram deslocados para o local, onde impediam a entrada de professores, entidades, apoiadores e até da imprensa. Após muita pressão, os portões foram novamente abertos, mas sob temor do uso de força para pôr fim ao acampamento.
A estratégia ocorreu no mesmo momento em que o secretário de Educação, Haroldo Rocha, tinha reunião marcada com as lideranças, porém, em outro prédio, na Praia do Canto. Lideranças afirmam que o secretário também impôs dificuldades em relação à definição de quem irá para a mesa de debate.
A estratégia do governo ficou evidente quando os funcionários da Sedu foram dispensados no início da tarde desta sexta. A justificativa para fechar as portas e, assim, impedir o fortalecimento da luta, foi exatamente o fim do expediente, encerrado bem antes do horário normal.
Após a ocupação pacífica no Palácio Anchieta, o governo do Estado iniciou um movimento de criminalização da luta dos camponeses. Embora as reivindicações tenham se iniciado bem antes da condução coercitiva do ex-presidente Lula há uma semana, a gestão estadual utilizou a mídia corporativa para atrelar a mobilização aos últimos acontecimentos políticos nacionais e, assim, evitar desgastes à imagem do governador, conhecido por posição avessa ao diálogo com os movimentos sociais.