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Esquema dos táxis: dona de placa é professora efetiva da Prefeitura de Vitória

Permissionária da placa 0092, Alessandra Ghidetti Pereira Torres é também professora do quadro efetivo da Secretaria Municipal de Educação (Seme) de Vitória, no cargo “Professor de Educação Básica – PEB II – Ensino Fundamental do 1° ao 5°”, como registra o Portal da Transparência da Prefeitura de Vitória. A data de admissão é de fevereiro de 2008. Hoje a servidora tem vencimento padrão de R$ 4.989,74.
 
Em caso semelhante, mas em Cariacica, está Jeovanda das Virgens Pereira Gomes. Segundo o portal da transparência da Prefeitura de Cariacica, a permissionária do veículo 0330 consta como professora de Educação Artística sob contrato temporário da Prefeitura de Cariacica desde abril de 2013. O último registro dela tem data de admissão em 15 de fevereiro de 2016. O vencimento padrão de Jeovanda oscila entre R$ 1.055,96. e R$ 1.979,93.
 
Após a publicação da série de reportagens de Século Diário sobre possíveis fraudes em contratos de permissão de táxi de Vitória, novas denúncias de igual teor chegaram ao jornal. São indicativos de que a formação de frotas particulares de táxi não se restringe aos grandes gestores de placas como Carlos Agne, Josias Siqueira, Mateus Ataíde e Alex Muller, que, juntos, administram cerca de 60 veículos, com faturamento que beira R$ 300 mil por mês.
 
Alessandra e Jeovanda integram um exemplo descrito como clássico de formação de frota particular sob gestão familiar no ponto da Praça Wolghano Netto (pracinha do Carone), em Jardim da Penha. São 12 veículos na área, onde, por lei 12 permissionários deveriam dirigir os respectivos carros, mas apenas entre quatro e cinco permissionários efetivamente batem ponto. Nos demais sete ou oito carros trabalham apenas defensores. O regime de diária do ponto oscila entre R$ 200 e R$ 240.
 
O ponto seria dominado pela família de Almir Pereira de Souza, sob cujo resguardo estariam as placas 0330, 0092, 0425, 0145, 0392 e 0319, este registrada em nome de Almir. 
 
Os sobrenomes se cruzam entre os permissionários do grupo. Dono da placa 0425, Cley Neves Gomes é um dos poucos que trabalham no ponto. A placa 0330 está registrada em nome de Jeovanda das Virgens Pereira Gomes. A 0392, em nome de Lucimar Rodrigues Torres. A 0092, em nome de Alessandra Ghidetti Pereira Torres. E Zilda das Virgens Pereira tem permissão da placa 0145. O caso das duas professoras dá traços mais precisos aos indícios de fraude.
 
O número de mulheres permissionárias no grupo fornece os primeiros indícios de suspeição. Como já mostramos na série, a quantidade de mulheres na lista de permissionários não corresponde ao número que realmente trabalha nas praças de Vitória.  São 93 permissionárias, mas no máximo 10 estão nas ruas de Vitória. 
 
Pelo menos três permissionários do grupo são mulheres e, segundo as denúncias, duas são filhas de Almir. Entre os homens, dois permissionários seriam genros dele. Almir teria placas em outros pontos. Também há denúncias de que parentes do gestor do ponto do Carone foram contemplados na licitação que concedeu 108 novas placas em Vitória.

Operando a matemática da diária média em Vitória: com oito carros com defensores pagando uma diária de R$ 200, a frota de Almir deverá gerar cerca de R$ 40 mil por mês.

 
O caso de Alessandra é exemplar. Como funcionária pública efetiva, de um lado ela integra a casta cuja renda dispensaria a disputa por uma placa. Mas, como indicou a série, não faltam permissionários de renda alta em Vitória. De outro, integra a fatia feminina na permissão do seviço de táxi de Vitória, cujo quantitativo nas ruas é inexpressivo.
 
Também há denúncias de irregularidades no ponto do Hotel Canto do Sol, em Jardim Camburi, que envolvem os permissionários das placas 0049 e 0318. Segundo a denúncia, ambas estão alugadas para um homem chamado Jair Rios, que seria morador do bairro Vera Cruz, em Cariacica. As placas estão em nome de Marlene de Souza Palma (0049) e Waneide de Souza Palma (0318), que seriam respectivamente mãe e filha. 
 
As denúncias levantadas por Século Diário repercutiram na Câmara de Vitória e na Assembleia Legislativa. Na quarta-feira (15), vereadores apresentaram pedido de instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denúncias de irregularidades nos contratos de permissão. O pedido foi subscrito por 10 vereadores, número suficiente para a instalação da comissão. 
 
Na quinta-feira (16), durante audiência pública promovida pela CPI da Máfia dos Guinchos para discutir o serviço de táxi na grande Vitória, o presidente da comissão Enivaldo dos Anjos (PSD) considerou “gravíssimas” as denúncias apresentadas na série de reportagens de Século Diário sobre o negócio dos táxis em Vitória. Segundo o deputado, há interesses 'muito fortes' em proteger serviço de táxi da capital capixaba.
 

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