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Menos de seis meses após fim do Integra Vitória, Luciano enfrenta nova crise no transporte

Menos de seis meses após o fiasco do projeto Integra Vitória, a questão do transporte público abriu uma nova e profunda ferida na gestão Luciano Rezende (PPS). A defesa incondicional subsecretário de Transportes Fernando Repinaldo à política de redução de custos e aumento de lucro das empresas concessionárias dos ônibus de Vitória, exposta em declaração ao jornal A Gazeta desta quinta-feira (31), custou-lhe o cargo. Repinaldo foi exonerado ainda nesta quinta.
 
As palavras do subsecretário causaram ojeriza a líderes comunitários da capital capixaba ao recomendar que, mesmo diante de um quadro de demora e superlotação, os usuários se adequassem aos novos horários dos ônibus. Dito de outro modo, recomendou que aceitassem a redução de frota no sistema.
 
“Inacreditável ele falar uma coisa dessa em público. Vai na contramão da democratização do espaço público. Ele parece que está zombando da cara dos moradores”, lamenta o coordenador-geral da Associação de Moradores de Jardim da Penha (Amjap), Fabrício Pancotto. Segundo ele, os moradores do bairro também sentem a crise dos ônibus em Vitória, sobretudo nas linhas 110, 124, 213 e 214.
 
O presidente do Movimento Comunitário de Resistência João Batista Venâncio da Silva considerou uma “falta de respeito” a declaração de Repinaldo. “O usuário já paga a passagem cara Quem tem que se adequar é a prefeitura. O usuário tem que sair para trabalhar mais cedo e o ônibus não vem? Achei uma falta de respeito a fala dele”, afirma. Venâncio aponta redução de um a dois veículos nas linhas 175 e 044.
 
Líder comunitário de Jardim Camburi e membro do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito (Comutran) de Vitória, Evandro Figueiredo aumenta o coro da reprovação ao subsecretário. “Eu, como conselheiro do Comutran, me causa muita indignação. Foi uma fala muito infeliz”, diz o Evandro, que entrou semana passada com uma denúncia no Ministério Público Estadual (MPES). 
 
O documento exige que a prefeitura elabore um Plano Municipal de Mobilidade Urbana, que, segundo ele, já defasado em oito anos, iria apontar as fontes geradoras de origem e destino das viagens, e abra a planilhas de custo das empresas, para conferir transparência à relação entre poder público e concessionárias. 
 
“Quais são as planilhas por quilômetro rodado de cada linha?”, questiona. Segundo ele, como quilômetro rodado é critério para cálculo de tarifa, há linhas ociosas, aquelas que rodam vazias, apenas para inflar o sistema, enquanto outras circulam com superlotação. Jardim Camburi dá o exemplo: a linha 203 vive vazia, enquanto as linhas 121 e 211, que atravessam os grandes eixos da cidade, vivem lotadas. 
 
Em Bela Vista, Ismael Pastorini questiona: “Que qualidade de vida é essa que Vitória tem?”. Segundo ele, as linhas 051, 052 e 104 sofreram redução. Em Jesus de Nazareth, Fernanda Pereira reclama que a linha 102, antes atendida por dois veículos, agora é atendida por um. A espera de 20 minutos entre as viagens viraram intervalos de uma hora. “A fala do secretário é um descaso total com a população. A gente que tem que se adequar a uma linha com um ônibus só, como acontece aqui no bairro?”, questiona.
 
A presidente da Associação de Moradores de Itararé Luciana Ribeiro contou uma experiência própria: essa semana, à noite, ficou cerca de uma hora no ponto em frente à sede da prefeitura, em Bento Ferreira, à espera do 052. “O usuário já paga a passagem cara. Não é ele que tem que se adequar. Eles que tem que aumentar a frota de ônibus”, critica. 
 
As recentes mudanças no sistema municipal de transporte repetiram a falta de tato da gestão Luciano Rezende vista no caso Integra Vitória: imposição, falta de diálogo com os moradores e argumentos frágeis oferecidos pela Setran. Lá como cá, a população não assimilou as alterações. E, assim, o transporte público provocou mais um arranhão na vitrine de Luciano, candidato à reeleição nas eleições de outubro deste ano.
 
Embora adornado pelo discurso modernizador da integração, o Integra Vitória foi igualmente um esforço de redução dos gastos das empresas concessionárias. O projeto sobreviveu por apenas duas semanas. Começou a operar em 3 de outubro de 2015 e foi cancelado no dia 15. Luciano Rezende viveu 12 dias sob uma borrasca de críticas e protestos nas ruas contra o Integra Vitória – apelidado de “Estraga Vitória”.
 
Os moradores, principalmente dos bairros de baixa renda, reclamaram da falta de diálogo com as comunidades, da superlotação, da demora e da alteração de itinerário. O projeto alterou a rotina da cidade. Na Câmara de Vitória, o prefeito foi acusado de implantar o projeto sem apresentar estudos técnicos e econômicos. No dia 15, Luciano Rezende deu ouvido às críticas e suspendeu 13 das 18 linhas do Integra Vitória.

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