É na reflexão sobre a falta ou escassez de um sistema de arte maduro presente em Vitória e Carrancas (MG) que o projeto Polaridades justifica sua própria existência, deslocando-se do eixo tão efervescente Rio-São Paulo – argumento presente no site do próprio projeto, que apresenta as minúcias desse trabalho que envolve residências artísticas e, atualmente, a exposição.
Pautado na residência artística, e como o próprio nome já sugere, o Polaridades une de polo a polo dois artistas que não necessariamente encontram-se em posições opostas. Na verdade, eles compartilham muito de seus processos do fazer artístico a partir das vivências. São eles Gabriel Borem, nascido em Belo Horizonte, mas morador de Vitória desde criança; e Márcio Shimabokuro, o Shima, um paulista que desenvolve trabalhos em Carrancas.
Para desenvolver os trabalhos do projeto Polaridades, ambos já se conheciam e estando Gabriel Borem no grupo de idealização do projeto, o nome de Shima logo surgiu como possibilidade. Dessa forma, o projeto foi pensado para realizar, além de um intercâmbio entre os artistas, duas residências nas cidades de atuação de cada um deles.
“Criamos esse mote para apresentar ao público um pouco dos dois artistas a partir do intercâmbio entre eles. Em fevereiro o Gabriel foi para Carrancas fazer a residência. Como o Polaridades não tem a proposta de definir que tipo de trabalho essas vivências vão render aos artistas, o Gabriel foi vivenciar e experimentar trabalhos com o elemento água. Ele realizou uma instalação na pracinha da cidade (foto acima), conseguiu interagir com o público local, e voltou para Vitória em 12 dias com a presença do Shima, que finalizou nesta semana a residência em Vitória”, explica uma das idealizadores do Polaridades, a jovem Juliana Lisboa.
Juliana integra o espaço do OPARQUE, presente na agitada Rua Sete de Setembro, no Centro de Vitória. OPARQUE é onde Shima hospedou-se para a residência, desenvolveu seus trabalhos e realizou encontros com artistas locais. De início era até comum confundir OPARQUE com mais uma sede de grupos criativos de design, publicidade e educação. Mas com o tempo, as movimentações, os eventos promovidos e os projetos realizados dentro do espaço, logo se viu que para além de um local de trabalho, OPARQUE é também um ponto de encontros artísticos e de interação com a cidade.
Sendo OPARQUE a sede para o recebimento de Shima, em Carrancas o local escolhido foi o estúdio Efêmero, espaço de pesquisa, difusão de conhecimento e residência artística. Enquanto Gabriel desenvolveu o trabalho intitulado Quando se fecham os olhos – cujo objeto de pesquisa eram os fluxos de água da região; Shima fez o Tudo o que eu (não) sei, que consiste, entre outras coisas, no tratamento da alimentação como discurso artístico (foto abaixo). Em breve, o trabalho de ambos estará destrinchado no site oficial do projeto.
E como resultado desses dois trabalhos desenvolvidos, o Polaridades abre ao público a exposição de mesmo nome que concentra a adaptação da instalação desenvolvida por Gabriel Borem e alguns trabalhos de Shima. As visitações são gratuitas, abertas ao público, e podem ser visitadas até o dia 20 de abril.
“A troca de experiência entre o Shima e os grupos criativos daqui foi tão intensa que até nos surpreende. Nossa ideia é fazer com a torre de OPARQUE continue recebendo residências e fazendo esse intercâmbio entre artistas, interagindo com o entorno e se apropriando de nosso espaço como um local de arte, não no sentido de galeria, mas de integração com a vida das pessoas. A ideia é que morem artistas lá por certo tempo e que eles possam interagir com o cotidiano da casa e da cidade”, finaliza Juliana.
Serviço
A exposição Polaridades, que concentra trabalhos de Gabriel Borem e Shima, está na sede de OPARQUE – rua Sete de Setembro, 493, Centro de Vitória. As visitações são abertas ao público e podem ser feitas das 16h às 19h.