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Moradores bloqueiam entrada de Regência por tempo indeterminado

Os moradores de Regência, em Linhares (norte do Estado), bloqueiam o acesso à vila desde às 20h30 dessa quarta-feira (27), por tempo indeterminado. O protesto é uma reação ao anúncio da Samarco/Vale-BHP de que irá retirar nesta sexta-feira (29) a base instalada na cidade após o crime do rompimento da barragem em Mariana (MG), além de encerrar o fornecimento de caminhões-pipa e o cadastramento para pagamento do auxílio-emergencial aos atingidos. A medida irá agravar a situação da comunidade, que perdeu suas principais fontes de renda e enfrenta graves problemas de abastecimento de água.
O bloqueio dos moradores é apenas para funcionários da Samarco e terceirizados. A empresa, quase seis meses após a maior tragédia socioambiental do País, ainda trata com descaso os impactados pela contaminação do rio Doce e do mar pela lama de rejeitos, o que decretou o fim da pesca artesanal e do turismo na vila, deixando as famílias sem fonte de subsistência e alimentação. 
Eles cobram da empresa que o pagamento do auxílio-emergencial definido pela Justiça aos pescadores e ribeirinhos seja ampliado a todos os moradores de Regência. “O crime afetou a cidade inteira”, enfatizou Pablo Ferreira, comerciante e morador da vila há oito anos. Segundo ele, muitos estabelecimentos tiveram que fechar as portas e os imóveis estão desvalorizados à metade. 
Pablo também denunciou que, mesmo entre os pescadores e ribeirinhos, há muitas pessoas sem receber o auxílio. Esse pagamento, como aponta, não deve chegar a 200 pessoas da comunidade, que tem cerca de 900 moradores. “Além de ser uma minoria, há relatos de que pessoas de fora estariam recebendo o pagamento, o que é injusto e revoltante”. 
A comunidade também relata casos de violência jamais registrados na vila antes do crime, inclusive roubos a mão armada e ameaças.
O problema da qualidade da água é outro ponto levantado pelos moradores. O abastecimento feito pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Linhares, como afirma a professora da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Vila Regência, Luciana Souza, distribui para as casas uma água com coloração que varia entre ferrugem e azul escuro, com forte odor que lembra vegetação de brejo. 
Ela pontua que, nos últimos dois meses, os casos de crianças e estudantes com sintomas como diarreia, irritação nos olhos e náuseas aumentou consideravelmente na escola que trabalha. Ela cobra que essa coincidência seja investigada.
Na escola estadual e no Centro Educacional Infantil Municipal (CEIM) de Regência, a água do SAAE é utilizada somente para cozinhar. Para beber, os alunos têm disponível água mineral, graças a doações de entidades e movimentos sociais. “Dependemos de atos de solidariedade, a empresa nunca procurou a escola para isso”, afirmou.
A mobilização, além do pagamento de auxílio a todos os moradores, cobra a disponibilização da lista dos contemplados; soluções alternativas para captação de água, que não seja no rio Doce nem como é feito atualmente, no rio Pequeno (separados apenas por uma barragem), recurso igualmente impróprio para consumo humano; fornecimento de água mineral pela Samarco; e mapeamento hidrogeológico urgente da foz do rio Doce. 
O oceanógrafo Eric Mazzei, que é morador de Regência e integrante do Fórum Capixaba de Entidades em Defesa da Bacia do Rio Doce, alerta que a alternativa apresentada pelo poder público de captar água da Lagoa Nova, também não irá resolver o problema. “Primeiro, não há capacidade hídrica para suportar o abastecimento de todo o município, segundo, a lagoa também recebeu rejeitos da lama”, explicou. 
Ele defende a descentralização do uso dos corpos hídricos disponíveis na região para uso das comunidades, medida que garantiria não só um abastecimento de qualidade, como a menor exploração de cada corpo hídrico.
Os moradores, cerca de 150, aguardam a Samarco para uma reunião na própria vila, mas garantem que só deixarão o local após a empresa apresentar medidas efetivas. O SAAE já esteve na área do protesto, garantiu que a água é própria, e se comprometeu a investigar a situação de algumas casas, que serão listadas pela comunidade. 

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