“Machado de Assis foi ficando branco ao longo do tempo”, comenta o jovem Adriano Monteiro, um dos nomes que está à frente do coletivo e da websérie Palavra Negra, projeto recente e que terá lançamento em breve. Quando Adriano afirma tal frase, ele faz referência ao ensino das escolas públicas, que apresenta Machado de Assis, na maioria das vezes, como um escritor branco – mesmo diante da importância de apresentá-lo como ele realmente era, um homem negro.
“A proposta da websérie Palavra Negra é também ser uma ferramenta de trabalho nas escolas para que os professores levem as obras de grandes autores afro-brasileiros para dentro da sala de aula, visto que muitos escritores negros são historicamente esquecidos, como Lima Barreto. O projeto também destaca escritores nascidos no Estado, como a Elisa Lucinda e a Suely Bispo”, acrescenta Adriano.
Os objetivos da websérie podem ser resumidos em uma única frase: representatividade negra nos âmbitos social e educacional. Para isso, DVDs com os episódios do projeto serão distribuídos em algumas escolas – amparados na Lei 10.639-2003, que visa o ensino da cultura africana e afro-brasileira nas escolas. Além disso, a série destaca especificamente escritores negros, desde alguns consagrados, como Carolina Maria de Jesus, até os contemporâneos presentes no Estado, como as já citadas Suely Bispo e Elisa Lucinda – valorizando a literatura produzida no Espírito Santo; e cada texto recebe a interpretação de jovens negros e negras envolvidos nas artes – o que trabalha a protagonização do negro.
Os textos selecionados para a série abordam um pouco da realidade do jovem negro nas periferias, colocando em discussão temas como o racismo, a mortalidade da juventude negra, o cotidiano das comunidades, a violência policial nas periferias, a desigualdade étnica, entre outras temáticas que são colocadas diretamente para a reflexão.
E para levar cada um desses escritos ao público, o Coletivo selecionou alguns jovens (foto de capa, ao lado e vídeo) que foram gravados interpretando os poemas. “Incluímos jovens do Coletivo Literatura MarginalES, que é de uma galera envolvida na cena da poesia marginal e com intensa atuação; e pedimos indicações de meninas para o Coletivo Negrada, até chegar aos nomes de cada um deles e delas”, explica Adriano.
“Enquanto idealizador da websérie, penso que juntar a literatura e o audiovisual para abordar essas temáticas é potencializar nossas vozes, já que a força da internet nos permite ter visibilidade em âmbitos maiores. E acredito que o projeto tem esse potencial, e objetivo, de chegar a todo o Brasil”, apresenta Adriano sobre a logística de lançar a websérie em DVD e na internet.
Para quem ainda não conhece, o Palavra Negra é um novo coletivo que se estrutura na Grande Vitória há alguns meses. Composto por quatro artistas, o coletivo se forma para trazer à tona uma iniciativa que mescla a estética do audiovisual com a reflexão da poesia, é a websérie homônima. O trabalho tem 30 episódios que serão lançados todas as segundas gratuitamente na internet.
Para marcar o lançamento oficial do projeto, na sexta-feira (20) haverá evento oficial de apresentação do primeiro episódio, além de sarau e música. O evento será realizado no Centro de Vitória, na Casa Barão. Entrada é livre.
Serviço
O lançamento da websérie Palavra Negra será realizado na próxima sexta-feira (20), às 20h, na Casa Barão – Rua Barão de Monjardim, 317, Centro de Vitória. A entrada é livre.