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Marcha da Maconha sai às ruas de Vitória em favor da legalização

A vida de Raquel Gardel mudou há cinco anos. Após passar mais da metade de seus 53 anos mortificada por dores crônicas, que nem cirurgias e remédios lograram aplacar, decidiu experimentar um cigarro de cannabis natural oferecido pelo filho. “Quando eu fumei isso aí, foi a melhor noite da minha vida”, confessa. A mãe que já repreendeu o mesmo filho ao descobri-lo usuário de maconha, hoje é uma defensora convicta da legalização da maconha.
 
Mãe e filho são presenças garantidas na edição deste ano da Marcha da Maconha em Vitória, que acontece neste sábado (4). O movimento defende a legalização da maconha, o cultivo caseiro, o uso recreativo, o uso medicinal e o fim da “guerra às drogas”. A saída é às 16h20 do campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória. O percurso ainda não foi definido.
 
A marcha deste ano contesta especialmente a autorização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publicada em março, da importação por pessoa física de remédios com canabidiol e tetrahidrocannabinol (THC) na formulação para tratamento de saúde. Para o movimento, a decisão favorece a indústria farmacêutica. “O Estado não autoriza a produção”, pontua Lara Toledo, que integra a organização da marcha em Vitória. Para ela, o Brasil tem condições climáticas e de solo ideais para o plantio de cannabis.
 
O problema de Raquel manifestou-se de forma mais aguda ainda na juventude, após a primeira gravidez. Os médicos apontaram achatamento de coluna. Ela não deu bola. Na segunda gravidez, já não conseguia andar. A primeira cirurgia veio em 2006, seguida de mais duas. Foi igualmente em vão o uso de remédios, entre os quais a morfina. Na escala de 0 a 10, a dor atingia o mais intenso, o nível 10.  Raquel sucumbiu: dominada por dores e beirando os 90 quilos, parou de trabalhar. 
 
O quadro, agora, é mais animador. “Não falou que vou sarar da minha dor crônica, mas eu tô feliz, tô bem, tô magra”, diz.  Raquel tem hérnia de disco no pescoço e ainda sente dores por todo o corpo. Mas garante que o uso da cannabis via óleo, bong ou cigarro, aliviou uma aflição quase invencível. 
 
Os ativistas pró-cannabis defendem uma mudança de paradigmas na política brasileira de drogas amparada principalmente na autorização do cultivo para consumo próprio e no fim da “guerra às drogas”. Eles consideram o cultivo doméstico um meio para não lidar com o mercado ilegal, se esquivar do estereótipo de financiador do tráfico e acessar produto de melhor qualidade. 
 
A chamada “guerra às drogas” é o modelo em vigência de combate às drogas no Brasil: uma repressão que mais agrava do que remedia problemas sociais. “A guerra às drogas é na verdade ma guerra contra pobres e negros”, afirma Lara. Por trás de todas as bandeiras, está a certeza de que a questão das drogas não é assunto de segurança pública e, sim, de saúde pública.
 
Se em anos anteriores a marcha aconteceu em um cenário progressista, ainda que nada generoso em avanços, na edição deste ano o quadro é oposto. O perfil conservador do governo interino de Michel Temer (PMDB) preocupa o movimento e causa receio de retrocesso mesmo nos tímidos avanços, como o que se desenhou em 2015 com a discussão no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a descriminalização da maconha. Na ocasião, três ministros votaram a favor. 
 
O debate a favor da legalização da maconha será ampliado com a realização do 1º Encontro Nacional de Coletivos e Ativistas Antiproibicionistas (ENCAA), que acontece de 24 a 26 de junho, em Recife (PE). A ideia do encontro é reunir na capital pernambucana “marchas” e outros movimentos pró-cannabis de todo o Brasil para discutir um modelo de legalização.

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