Dois fatos em dias seguidos essa semana se somam às incontáveis provas da alta capacidade de inoperância da Samarco/Vale-BHP. Em macro e em microescala, o desrespeito às comunidades se mantém, com a cumplicidade do Estado.
Nessa quarta-feira (15), foi a Organização das Nações Unidas (ONU) quem reafirmou sua avaliação de que o governo “poderia ter feito mais” pelas vítimas e que não está suficientemente preparado para evitar futuras possíveis tragédias semelhantes. O relatório do Grupo de Trabalho da Organização das Nações Unidas sobre Direitos Humanos e Empresas Multinacionais também orienta que as empresas procurem retomar a confiança da população, sendo mais atenta às suas necessidades e mais transparente em suas comunicações.
Já nesta quinta-feira (16), em Regência (Linhares), na foz do Rio Doce, um grupo que nas redes sociais se intitula Regência Lutando Pelos Direitos publica sua avaliação sobre os pontos negociados há 40 dias com a empresa: quase nada foi feito. O acordo, alcançado no dia último dia seis de maio, deu fim aos protestos de moradores que bloqueavam o acesso da empresa e suas terceirizadas à vila, devido ao descaso em relação à comunidade, que sofre os impactos do rompimento da barragem em Mariana (MG).
Dos seis pontos acordados, apenas um foi integralmente cumprido, o apoio à Festa do Caboclo Bernardo, realizada no início deste mês. O acompanhamento da revisão dos cadastros de pescadores e outros profissionais afetados diretamente pela contaminação das águas está em andamento. “Muita gente ficou de fora injustamente”, reclama o comerciante Pablo Ferreira.
A ajuda de custo aos comerciantes só foi atendida parcialmente, visto que a empresa criou por conta própria um critério, a existência de Cadastro Nacional de Pessoal Jurídica (CNPJ), inviabilizando o acesso de boa parte dos afetados.
Os outros três pontos sequer foram iniciados: o adiantamento do balcão indenizatório, cujo prazo era a primeira quinzena de junho; a ajuda de custo para as famílias em fragilidade social (este depende da atuação da prefeitura, que tem se mostrado tão inoperante quanto as empresas, na visão dos membros do grupo); e o acompanhamento médico dos casos de problemas de saúde que saíram do padrão após a chegada dos rejeitos de mineração. “Tem aparecido mais crianças com coceira, diarreia, e não sabemos a causa”, denuncia o também comerciante Fernando de Oliveira.
O grupo entrou em contato nesta quinta com a Samarco cobrando que até a próxima terça-feira (21) seja agendada uma reunião com a comunidade. Novos protestos e bloqueio de estrada não estão descartados, caso não sejam atendidos.