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Paulo Hartung repete fórmula para justificar ausência de investimentos em segurança

O governador Paulo Hartung (PMDB) segue tentando capitalizar com a campanha #CompartilheoBem, de combate à violência, focada em diminuir os índices de crimes por motivos fúteis. A campanha aposta na promoção da cultura de paz entre os cidadãos para reduzir esses índices, sem qualquer contrapartida do governo para que essa redução seja efetiva.

Nesta sexta-feira (17), o governador publicou artigo no jornal A Gazeta, enquanto o secretário de Estado de Segurança Pública, André Garcia, no jornal A Tribuna, ambos promovendo o programa.

Os gestores alegam que tudo o que o governo poderia ter feito, já fez – citando os programas Escola Viva e Ocupação Social, que ainda não entregaram nenhum resultado prático – sem mencionar que não há nenhum concurso previsto para a recomposição do quadro da Polícia Civil e que as instituições policiais do Estado estão sucateadas e em processo de redução de custos que atinge, inclusive, combustíveis e celulares dos policiais.

Essa tentativa de transferir a responsabilidade para a população sobre a redução dos índices de criminalidade não é tática nova do governador. Em 2010, ano em que o atual prefeito de Vila Velha e então secretário de Segurança, Rodney Miranda (DEM), estava prestes a se descompatibilizar do cargo para tentar uma vaga de deputado estadual, Hartung tinha duas missões: mostrar que a gestão de Rodney havia sido bem-sucedida (mesmo com os índices de homicídios chegando a patamares absurdos) e tentar fazê-lo deputado estadual.

Para isso, a dupla elegeu o tráfico de drogas como principal motivo dos homicídios, espalhou outdoors pela Grande Vitória com a imagem de um prato cheio de um pó branco, em alusão à cocaína, apontando que 70% das mortes eram decorrentes do tráfico de drogas, e uma responsabilidade de toda a sociedade, se isentando das mortes de mais de 14 mil pessoas que foram assassinadas no Estado entre 2003 e 2010.

O então candidato a uma vaga na Assembleia Legislativa percorreu municípios do interior do Estado também alegando que o governo fazia a parte dele – justamente no momento em que o sucateamento das polícias era muito mais acentuado – e, assim, sensibilizando prefeitos e população. É importante frisar que não houve qualquer investimento na área de segurança pública (aquisição de aparato para as polícias e realização de concurso público) durante os dois primeiros mandatos de Hartung (2003-2010) e o único concurso para a Polícia Civil em mais de 15 anos foi iniciado no apagar das luzes do segundo mandato, com andamento dado pelo sucessor dele, o ex-governador Renato Casagrande (PSB).

Além disso, foi o governo Casagrande que houve alguma aquisição de aparato para as polícias Civil e Militar, que nem pode ser tratado como reforço, mas como reposição daquilo que estava inutilizado por anos de abandono.

O objeto das causas de homicídio mudou. Agora o foco em no fato de 40% das mortes ocorrerem no Estado por motivos banais. No entanto, a maneira como a segurança pública é tratada por Hartung não mudou, já que ele continua não apresentando planejamento para a área e não propõe políticas públicas e valorização dos profissionais do setor.

Prova do abandono das polícias é o fato de estarem acumulados 18 mil mandados de prisão. O acúmulo se dá por não haver efetivo policial suficiente para cumprir os mandados.

Em entrevista a Século Diário no início deste mês, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado, Jorge Emílio Leal, apontou que o quadro de deficiência na instituição é tão grande que os policiais têm de priorizar o atendimento de certas ocorrências, geralmente de crimes de grande repercussão, para serem investigados. Os crimes comuns, que atingem as camadas mais periféricas da população, ficam sem investigação.

Mesmo com a impossibilidade de garantir atendimento satisfatório à população, o governo sequer tem previsão de realizar concurso público para a recomposição do quadro da Polícia Civil. O resultado disso são policiais adoecidos, trabalhando em desvio de função e sobrecarregados.

O Sindipol, inclusive, estuda denunciar o Estado para organismos internacionais, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) a violação de direitos na Polícia Civil, visto que as denúncias em níveis estaduais não surtem efeito.

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