Em sua fala, Zanon citou uma decisão recente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que não viu irregularidades em contratos assinados pelo ex-prefeito de São Mateus, Lauriano Zancanela, para terceirização do serviço de levantamento de créditos tributários. O acordo guarda relação com os acordos investigados na Derrama, que levaram outros dez ex-prefeitos para a prisão, entre eles, a ex-prefeita de Itapemirim, Norma Ayub Alves (DEM), mulher de Ferraço. Só que no caso mateense, a corte de Contas não entendeu que o serviço deveria ser prestado exclusivamente por servidores públicos efetivos.
“Se me lembro bem, o então presidente do TCE [conselheiro Sebastião Carlos Ranna] não cumpriu o rito natural. Ele pegou o que se chamou de um achado de auditoria e remeteu não para a Promotoria [de Justiça], mas diretamente para o Nuroc [Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e a Corrupção, da Polícia Civil]. É por essas e outras que temos de ter muita paciência. Vamos até o momento acreditar que o senhor Carlos Ranna cometeu um equívoco”, disparou Zanon, em alusão ao caso de Zancanela, no qual a representação teve origem no Ministério Público e, em seguida, foi encaminhada ao tribunal.
Logo após essa declaração, o presidente da Casa pediu um aparte para voltar a atacar a operação policial, como já havia feito durante uma sessão da CPI da Sonegação Fiscal. “Ao invés de punir o sonegador, que é o verdadeiro traficante do dinheiro público, se puniu quem combatia a sonegação. Vou pedir o encaminhamento do relatório parcial da CPI para a Lava Jato, já que os fatos estão relacionados à Petrobras”, afirmou o demista. Ele voltou a insinuar que autoridades capixabas estariam em conluio com as empresas para atingir os prefeitos que estavam cobrando a arrecadação correta dos impostos relacionados à cadeia da exploração de petróleo.
As investigações da Operação Derrama foram iniciadas em julho de 2012, motivada por uma auditoria do Tribunal de Contas, que revelou irregularidades nos contratos da empresa CMS Assessoria e Consultoria Ltda com várias prefeituras, com destaque para o município de Aracruz – onde foi ajuizada uma ação penal contra dois ex-prefeitos. Em janeiro de 2013, a Polícia Civil deflagrou uma grande operação que culminou com a prisão de 31 pessoas, entre eles, dez ex-prefeitos.
Na época, as investigações estavam centralizadas em Vitória, porém, o caso acabou sendo desmembrado para promotoria de cada município envolvido – Anchieta, Guarapari, Itapemirim, Marataízes, Jaguaré e Piúma. Na mesma oportunidade, o então chefe do Ministério Público Estadual (MPES) determinou o arquivamento das provas e, consequentemente, da apuração contra autoridades detentores de foro privilegiado – entre eles, o próprio presidente da Assembleia, que foi citado em escutas telefônicas feitas na Derrama – por falta de competência do juízo de 1º grau.