Os protestos de certo grupo de taxistas contra a chegada do Uber a Vitória se explicam. Pelo menos em projeções iniciais, o serviço pode abalar o sistema dos grandes administradores de permissões de táxi na capital capixaba, sustentado por valores exorbitantes de diárias pagas pelos defensores, que variam de R$ 200 a R$ 300. Juntos, os chamados “barões do táxi” administram cerca de 60 táxis, que podem movimentar R$ 300 mil mensalmente em Vitória.
Cabe destacar que muitos permissionários e defensores rejeitam o Uber, mas sem qualquer relação com os “barões”.
O vereador Reinaldo Bolão (PT), autor da lei que regulamentou o serviço em Vitória junto com o vereador Max da Mata (PDT), aposta que a velha lei da oferta e da procura é que vai abalar esse sistema. “Se você tem mais uma opção de transporte, a tendência é reduzir a tarifa. E quem ganha com isso? O usuário”, diz o petista, também vice-presidente da CPI dos Táxis, cujas sessões revelaram um pouco do funcionamento do esquema dos táxis em Vitória.
Para o petista, a chegada do Uber pode estimular as os moradores a deixarem os carros na garagem e apostarem no transporte individual pago, o que pode redundar em redução de tarifa. “Eles não vão mais ter esses ganhos exorbitantes que hoje eles têm”, diz, referindo-se aos grandes gestores de permissões. O vereador destaca ainda que o serviço municipal, alvo de constantes reclamações dos usuários, terá que melhorar o serviço para fazer frente ao novo cenário.
E redução de tarifa significa adesão de usuários ao Uber e outras iniciativas privadas de transporte individual. O resultado pode ser a desidratação de todo um esquema no serviço municipal.
Uma reunião ocorrida essa semana em Vitória entre um representante da empresa e interessados em trabalhar no serviço divulgou informações atraentes para o candidato a motorista: 14% de desconto na compra de veículos em duas marcas, possibilidade de desconto em gasolina e manutenção e a taxa de 25% por corrida que fica para a empresa.
O esquema de formação de frotas particulares de táxi em Vitória sobrevive graças à uma espécie de “omissão ativa” Secretaria de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana (Setran) na fiscalização do trabalho dos permissionários.
Uma fatia expressiva de donos de placa não dirige os veículos, contrariando a legislação municipal, e aluga as permissões, obtendo renda fácil e garantida. Mulheres permissionárias agem como “laranjas” de seus parentes para ampliar o esquema. Como a própria CPI já indicou, a fiscalização do trabalho dos permissionários nunca foi alvo da Setran.