A confusão protagonizada pelos órgãos públicos nas duas últimas semanas com relação às feiras agroecológicas dentro de shoppings centers provocou um sentimento de insegurança e desânimo entre os membros da Associação de Agricultores e Agricultoras de Produção Orgânica e Familiar de Santa Maria de Jetibá (Amparo Familiar), a maior entidade envolvida no projeto. Sem falar que alguns venderam sua produção da semana para outros clientes, pois a permissão para retomar as feiras só foi dada nessa quarta-feira (27).
“Certamente isso tudo gerou ainda mais dúvidas na cabeça das pessoas. Os consumidores vão perguntar muito e nossos agricultores não estão preparados pra responder. São muito humildes, não têm estudo”, lamenta Selene Tesch, presidente da Amparo.
Tamanha confusão, associada à complexidade técnica de explicar os processos de monitoramento e certificação dos produtos, é agravada pela característica introspectiva do pomerano, um povo conhecido por seu comportamento de poucas palavras, principalmente com pessoas de outras etnias.
Mas o fato é que a garantia da qualidade dos produtos comercializados nessas feiras está garantida pelo acompanhamento realizado pelo Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper), em parceria com a prefeitura de Santa Maria de Jetibá. O município, por ser o maior produtor de orgânicos no Estado, tem uma estrutura mínima de atendimento específico ao setor e trabalha em parceria com o Estado e a União no apoio aos agricultores.
Além disso, os expositores nos shoppings assinaram um termo de compromisso em vender apenas produção própria, cabendo ao Ministério da Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Pesca (Mapa), por sua vez, a fiscalização e aplicação de eventuais medidas punitivas em caso de transgressão dessas regras. Por isso, mesmo quem não tem certificado, oferece produtos com qualidade orgânica e agroecológica. Difícil é explicar isso pro consumidor, bombardeado com informações truncadas despejadas pela mídia.
Em reunião interna na tarde desta sexta-feira (29), os produtores manifestaram suas insatisfações e inseguranças e apenas metade afirmou que irá para Vila Velha neste domingo (31). Os expositores que trabalhavam nos shoppings de Cariacica e Serra disseram que não irão voltar, enquanto os de Linhares afirmaram que só voltarão no primeiro domingo de agosto, pois já venderam toda a produção da semana.
Outra reclamação compartilhada entre os agricultores foi o fato de terem ficado sabendo pela imprensa, e não diretamente pela Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento, Pecuária e Pesca (Seag), tanto sobre a suspensão das feiras (os shoppings também ficaram sabendo assim) quanto do retorno.
Apesar de na reunião dessa quarta-feira com a Seag e a Comissão de Produção Orgânica (CPOrg-ES) ter saído a decisão pelo retorno, a confirmação seria dada após análise da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa. Porém, quando a Comissão confirmou, a imprensa foi avisada imediatamente, mas a Amparo só recebeu um email no dia seguinte, no meio da reunião interna. “A Seag deveria ter informado individualmente da suspensão, enviando uma carta pra cada agricultor”, reclama Selene.
Para os pequenos produtores, é preciso que o poder público faça um trabalho urgente e intenso de esclarecimento à população sobre o que são produtos orgânicos e agroecológicos e como garantir sua qualidade.