Um teatro seguido por um filme de terror. Nas audiências convocadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), a Samarco/Vale/BHP concorda com os termos, assume os compromissos, informa números de telefones e pessoas responsáveis por executar as determinações e atender às demandas das comunidades. Ao deixaram a sala da audiência, no entanto, a situação muda drasticamente: os prazos não são cumpridos, as ações compromissadas sequer são realizadas e os telefonemas dos pescadores não são atendidos.
Esse é o relato dos pescadores de Baixo Guandu (noroeste do Estado), muito semelhante às queixas que ecoam de todas as comunidades atingidas – formal ou informalmente – pelo crime ambiental da Samarco/Vale-BHP, há quase nove meses. A comunidade cobra uma atitude mais enérgica do Ministério.
“Eles só atendem vereador. As entidades mesmo, que vivem do peixe, não atendem mais”, reclama Rosilene da Silva Carvalho, tesoureira dos Sindicato dos Pescadores do Médio Rio Doce de Baixo Guandu. “A empresa devia ouvir quem realmente conhece a região e está sofrendo os impactos”.
O mesmo aponta Silas Cardoso Evangelista, vice-presidente da Associação de Pescadores Renovo do Vale, também de Baixo Guandu. “Não fosse o Dr. Bruno [procurador Bruno Gomes Borges da Fonseca, do MPT de Colatina], a Samarco não estaria pagando a ninguém. Porque a Samarco não respeita pescador, o pobre!”, emenda.
Silas e Rosilene recontam o histórico dos últimos quatro meses, em que as determinações de duas audiências convocadas pelo MPT não foram cumpridas pela empresa, a primeira em abril e a segunda em junho. Esta, com a presença de representantes de toda as associações de pescadores reconhecidamente atingidas pelo crime (não constando as do norte da foz do Rio Doce, ainda completamente ignoradas].
Os prazos dados, em ambas, foram dez dias. Mas nada foi feito, havendo ainda muita gente ainda sem cadastro ou, mesmo cadastrada, sem receber os cartões e o auxílio financeiro. “A gente liga pra Liliane a pra Andrea [pessoas indicadas pela empresa para, no município, atender às comunidades por telefone e pessoalmente], mas elas não atendem o telefone. De ninguém aqui, dos pescadores”, denuncia Rosilene.
O MPT, através de sua assessoria de comunicação, informa que uma nova audiência já está sendo providenciada, desta vez, a pedido da comunidade de Nova Era, em Aracruz (norte do Estado), conforme despacho emitido pelo procurador Marcos Mauro Rodrigues Buzato, no dia 28 de julho.