Uma Plenária dos Atingidos por Barragens da Bacia do Rio Doce será realizada nesta sexta-feira e sábado (5 e 6), em Ipatinga/MG. O objetivo é unificar as lutas locais dos atingidos pelo crime da Samarco/Vale-BHP, contrapondo a estratégia da empresa de dividir as comunidades. Um produto final que se espera é a construção de uma pauta única de todos os atingidos e de caminhos para se conseguir o atendimento às suas reivindicações.
Há as especificidades de cada comunidade, mas há também uma pauta única pra toda a bacia. “Vamos construir essa pauta e começar um processo de mobilização unificada”, explica Pablo Dias, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), entidade que realizará o evento.
Pablo lembra que, perto da barragem, por exemplo, há a situação das pessoas que perderam suas casas, suas propriedades e, em Bento Rodrigues, há o bloqueio ao acesso às próprias casas. A Samarco/Vale-BHP já disse que os reassentamentos só acontecerão a partir de 2019, “o que a gente acha um absurdo”, reclama.
Na outra ponta, próximo à foz, no Espírito Santo, já há a questão dos pescadores, e entre esses dois pontos, os problemas com a água, seja a falta de acesso ou o acesso a uma água de péssima qualidade, que tem provocado vários problemas de saúde, na pele, problemas respiratórios etc..
“A gente não tem dúvida de que o melhor caminho é a união permanente dos atingidos. É preciso que um conheça a pauta do outro e entenda a luta do outro como a sua própria luta. Isso já tem acontecido e precisamos intensificar”, explica Pablo.
Essa união é fundamental para contrapor o esforço de desarticulação que a empresa tem feito. Segundo o coordenador, há uma ação sistemática da empresa tanto para não reconhecer muitos grupos como atingidos pelo crime, como também para impossibilitar a organização dos atingidos, para que os processos sejam individualizados.
A estratégia tem sido dividir as opiniões, cooptando as pessoas e colocando seus próprios empregados e parte das populações das comunidades contra os atingidos que se levantam contra a empresa. E, mesmo dentro do universo dos atingidos, a Samarco/Vale-BHP procura separar comerciantes de pescadores, de proprietários de terra, ou seja, forçando a impressão de que um grupo compete com o outro.
Outra estratégia de combate aos movimentos sociais é a judicialização dos protestos. “De fevereiro a abril, 13 militantes nossos foram processados pela Vale”, conta Pablo. A maioria deles, afirma, envolvidos em protestos pacíficos. Um deles no Espírito Santo, após om fechamento de ferrovia em Baixo Guandu, noroeste do Estado.
“Vamos nos mobilizar para vencer e fortalecer todo o norte da Foz do Rio Doce, que está lutando por justiça e direitos”, afirma Eliane Balke, secretária da Associação dos Pescadores de Pontal do Ipiranga e Barra Seca, uma das participantes do encontro representando o Espírito Santo.